Souleymane Maâzou, da IPS
Niamei, Níger, 18/8/2010 – É um negócio que não exige capital, apenas coragem e resistência. Um grupo de 200 mulheres sobrevive – e, em alguns casos, até economiza – graças à venda de areia. Elas são conhecidas em Niamei, capital de Níger, como “takalakoyes”. Esta palavra – em zarma, a língua local – se refere às varas de madeira com recipientes cheios de areia pendurados em suas pontas, que as mulheres levam nos ombros do amanhecer ao anoitecer.
As takalakoyes de Niamei fornecem areia aos comerciantes que querem embelezar seus estabelecimentos e pedreiros que fazem pequenos trabalhos de construção. Porém, a maioria de seus compradores vive nos bairros mais povoados da cidade, onde é comum as casas terem areia no quintal. As vendedoras de areia vivem em uma comunidade nos arredores de Niamei, vindas de localidades próximas à capital em busca de emprego.
“Isto não é trabalho para mulher, mas não temos outra opção”, disse Hadi Moussa, oriunda de Karma, a cerca de 50 quilômetros de Niamei. “Quando se tem muitas bocas para alimentar e a renda do marido só dá para a comida da família, alguém deve fazer alguma coisa”, argumentou Fati Gna, encostada em uma parede, visivelmente exausta pelo trabalho. A cada dia, esta mulher faz de três a cinco viagens ao monte para buscar areia. “Fazemos isto para poder comer sem pedir esmola. À noite, volto para casa tão cansada que é difícil dormir”, acrescentou.
As takalakoyes caminham longas distâncias para retirar areia das beiradas dos campos dos agricultores, das margens dos rios ou das pedreiras abandonadas. Em cada lugar elas podem ser encontradas sentadas na terra, com as pernas estendidas, peneirando areia sem parar. A areia é levada para a cidade a pé. Vinte quilos são vendidos por cerca de US$ 0,50. “Olha, todos os caminhos estão cobertos com areia branca. E foram essas mulheres que a trouxeram”, disse Sani Maiguizo, comerciante do mercado Right Bank da cidade.
“O preço é desesperadamente baixo e algumas pessoas inescrupulosas tentam reduzi-lo ainda mais”, disse Hadjia Haoua, secretária de informação de uma organização não governamental com sede em Niamei, que trabalha contra a violência de gênero. “É preciso apoiar estas mulheres que escolheram a dignidade do trabalho em lugar de pedir esmola”, afirmou. As mulheres fazem seu negócio sem restrições. “A cidade só cobra impostos dos grandes empresários e de caminhoneiros que vendem areia. As atividades destas mulheres são insignificantes”, disse Adamou Zada, um funcionário da quinta comuna de Niamei, uma das áreas onde elas trabalham.
Mery Abdou, de 50 anos, veterana neste ramo, disse que as únicas dificuldades partem dos donos dos campos. “Eles nos afugentam. Dizem que estamos arrancando seu patrimônio. Com eles, isto é sempre outra história”, reclamou. A cidade pode considerar seu trabalho intranscendente, mas elas ganham, em média, entre US$ 1,50 e US$ 2,00 por dia. Não é uma quantidade importante em um país onde as pessoas costumam viver com menos de US$ 1,00 por dia, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
Mery contou à IPS que, com modestas economias conseguidas com seu trabalho, comprou uma vaca e quatro ovelhas. Ramatou Ali, que trabalhou como takalakoye por três anos, também economizou o suficiente para comprar um cordeiro. Este ano, pretende comprar um colchão para sua filha, que ainda vive no campo com seu marido. Envolverde/IPS