Claudia Mazzei Nogueira – Fundação Lauro Campos / PSOL
Lutadoras é mais um livro organizado por Andrea D´Atri que, com sua vertente crítica, se mantém fiel ao recorte de classe e gênero, tão pouco em evidência nos últimos tempos. Será priorizando a luta de classe com enfoque na emancipação feminina que a coletânea de textos presentes nesse livro transcorrerá.
Não podemos deixar de lembrar que uma relação de igualdade substancial (Mészáros) no espaço reprodutivo (como no espaço produtivo) não é do interesse e, nem tampouco, faz parte da lógica do capital, que no máximo “permite” uma relação de igualdade apenas formal.
Marx, nos Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844, já nos lembrava que, na “relação com a mulher como a presa e a criada da luxúria comunitária está expressa a degradação infinita em que o ser humano existe para si mesmo, pois o segredo desta relação tem a sua expressão inequívoca, decidida, manifesta, desvelada na relação do homem com a mulher e no modo como é tomada a relação natural, imediata do gênero”.
O que nos permite evidenciar, em grande medida, que a lógica do capital se opõe frontalmente ao processo de emancipação da mulher, uma vez que ele necessita, para a preservação do seu sistema de dominação, do trabalho feminino preservado pelos mecanismos estruturais que geram a subordinação da mulher.
Desse modo, ao seguir o caminho realizado pelos textos, vemos sensibilizadas a importância da luta feminina ocorrida no transcorrer do processo histórico, representada por mulheres com forte ideologia emancipadora e principalmente, que acreditam na superação da opressão/exploração de gênero e classe, da propriedade privada e consequentemente na superação do capital. Não podemos esquecer que a verdadeira emancipação, a emancipação humana de homens e mulheres, só é possível na sociedade socialista.
Na edição argentina de Lutadoras encontramos, como diz o subtítulo, histórias de mulheres que fizeram história como, por exemplo, Flora Tristán, Louise Michel, Rosa Luxemburgo, Clara Zetkin, Pen Pi Lan, Edith Bone, entre outras importantes lutadoras. Na edição brasileira, organizada por Diana Assunção, essa estrutura foi praticamente mantida, sendo incluídas novas personagens revolucionárias brasileiras que se inserem nessa luta. Personagens importantes na luta pela emancipação feminina no Brasil, como por exemplo, Patrícia Galvão, mais conhecida como Pagu, que se destacou como escritora, poetisa e jornalista, uma mulher feminista, marxista, revolucionária e militante que durante a sua vida conviveu com conquistas e muitas perdas como a prisão, o exílio e a dissidência política.
Outra inserção que temos na edição em português é o texto que disserta bravamente sobre a luta das mulheres trabalhadoras no crítico período da década de 1970. Fazendo uma bela retrospectiva sobre a precarização da classe trabalhadora e, em especial, a acentuada precarização da força de trabalho feminina.
Pois bem, essa coletânea de textos presente no livro Lutadoras é de fundamental importância para que se possa resgatar, considerando o contexto histórico mundial, toda a beleza, sofrimento, sensibilidade, ideologia e, acima de tudo, a coragem dessas mulheres em lutar, sacrificando sua vida privada por uma causa maior. A causa de uma sociedade sem opressão de gênero e exploração de classe, ou seja, a luta pela emancipação feminina e humana, a luta por uma outra sociedade, a luta pela sociedade socialista.
Florianópolis, março de 2009
Claudia Mazzei Nogueira é professora do DSS – UFSC
TÍTULO: Lutadoras. Histórias de mulheres que fizeram história.
TÍTULO ORIGINAL: Luchadoras. Historias de mujeres que hicieron historia.
COLEÇÃO: Iskra Mulher
AUTORA: Andrea D’Atri e Diana Assunção (org.)
PÁGINAS: 328
ANO DE PUBLICAÇÃO: 2009
ISBN: 978-85 61474-01-0
PREÇO: R$ 20,00
Fernanda Figueira
Há séculos, o papel das mulheres na história tem sido silenciado. A base desta eliminação de metade da humanidade nos processos históricos está na opressão social das mulheres e na forma como o capitalismo se apropria desse elemento para perpetuar o domínio de uma classe sobre a outra. Mas o que vale ressaltar é que este silêncio se deu de forma mais aguda quando se tratou das mulheres lutadoras, rebeldes e revolucionárias.
Em 2008, com o livro Pão e Rosas. Identidade de gênero e antagonismo de classe no capitalismo, de Andrea D´Atri, as Edições ISKRA apresentaram a sua Coleção Mulher, com o intuito de tratar das questões centrais no debate do marxismo e feminismo acerca da relação entre a mulher e a classe, e entre a opressão e a exploração. Agora, com o apoio do grupo de mulheres Pão e Rosas, as Edições ISKRA apresentarão o livro Lutadoras. Histórias de mulheres que fizeram história, com organização original de Andrea D´Atri.
Resgatando a história de bravas mulheres como Flora Tristan, Louise Michel, Rosa Luxemburgo, entre outras, a edição brasileira, organizada por Diana Assunção, traz novos artigos sobre mulheres brasileiras, como Patrícia Galvão, e uma primeira reflexão sobre o papel das mulheres na reorganização operária da década de 1970 no Brasil.
“O livro traduz a história de mulheres lutadoras que fizeram história, por mulheres lutadoras que fazem história”
Diana Assunção, jovem estudante do curso de História da PUCSP, militante da Liga Estratégia Revolucionária, é uma das fundadoras do grupo Pão e Rosas no Brasil e responsável pela Coleção Mulher das Edições ISKRA. Lutadoras – histórias de mulheres que fizeram história tem um profundo significado para mulheres e homens que lutam por uma sociedade em que não haja exploração de classe e qualquer tipo de opressão social, de gênero, etnia/raça e orientação sexual.
O livro traduz a história de mulheres lutadoras que fizeram história por mulheres lutadoras que fazem história. Escrito a muitas mãos, é resultado de uma pesquisa realizada por mulheres na Argentina, no Brasil, no Chile e no México: Andrea D’Atri, Diana Assunção, Bárbara Funes, Ana Tossato, Ana López, Jimena Mendoza, Celeste Murillo, Marina Fuser, Virgina Andrea Peña, Adela Reck, Malena Vidal, Gabriela Vino. O livro é apresentado por Claudia Mazzei Nogueira e sua capa de autoria de Ana Tossato a partir da foto de mulheres operárias de Berlim, em 1930. As autoras expressam o convencimento teórico e político de que não haverá emancipação das oprimidas e oprimidos se não for lutando pela revolução socialista”(2008:27).
Trata-se de uma produção coletiva ancorada no materialismo histórico-dialético sob a perspectiva da construção do socialismo. De forma viva, emocionante e apaixonada, nos deparamos com as lições das militantes em lutas e combates, em diferentes momentos da história do capitalismo, por uma sociedade sem exploração de classe e opressão social.
a – Mulheres Pioneiras: Flora Tristan e Louise Michell, para as quais a luta das mulheres por seus direitos e dos trabalhadores do mundo se vinculavam às tarefas de emancipação da mulher e do proletariado.
b – Mulheres Internacionalistas: Rosa Luxemburgo e Clara Zetkin, que souberam enfrentar a traição do partido social-democrata alemão quando estourou a primeira guerra mundial.
c – Mulheres Rebeldes: Carmela Jeria, Lucrecia Toriz e Marcia Cano. Mulheres lutadoras latino-americanas que estiveram à frente das lutas operárias e populares no início do século XX do Rio Bravo à Patagônia austral.
d – Mulheres Combativas: Marvel Scholl e Clara Dunne e Genora Johnson Dollinger, presentes nas fileiras das greves operárias e referência classista do proletariado estaduniudense.
e – Mulheres Vermelhas: Natalia Sedova, Pen Li Lan, Mika Etchebéhere, que estiveram nas frentes de combate das Revolucões Russa, Chinesa e Espanhola;
f – Mulheres Indomáveis: Nadehzda Joffe, Edith Bonne e Patrícia Galvão. Mulheres que resistiram à prisão e às torturas, sem abdicar de seus ideais quando foram vítimas do terror stalinista na ex-União Soviética e nos países que seguiam suas orientações.
g – Anexo: Refere-se à atuação das mulheres no ascenso do movimento operário – de 1978 a 1980 – no Brasil, com depoimentos de mulheres operárias e sindicalistas nas lutas sociais do período.
Os elementos do legado marxiano se apresentam neste livro por seus aspectos centrais: o materialismo histórico e dialético, a teoria do valor trabalho e a perspectiva da revolução social, em suas dimensões e relevância histórica, teórica e política.