Conheça as mulheres que divulgam o cinema brasileiro lá fora

Kátia Mello – Revista Época

adriana-cinema

Um trio de mulheres cariocas, as irmãs Adriana (na foto à esq.) e Claudia Dutra, de 44 anos e 41 anos (respectivamente)  e a amiga Viviane Spinelli ( de vestido estampado), de 41 anos, sócias da produtora Inffinito, comanda 10 festivais internacionais de cinema em cidades como Nova York, Miami, Londres, Roma, Vancouver, Madri, Montevidéu e Buenos Aires.

 

 

O festival de Miami que está na sua 14 edição e que começa agora no dia 13 de agosto é o maior festival do cinema brasileiro no exterior, com 40 filmes nacionais. Neste ano, o festival irá apresentar os filmes de ficção O Bem Amado, Salve Geral, Lula- o filho do Brasil, Olhos Azuis, Sonhos Roubados, Os Normais 2, Os Inquilinos, Elvis e Madona e Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos. Entre os documentários escolhidos estão Rita Cadillac- A Lady do Povo, que a gente já falou aqui e Mamonas para sempre. A homenageada deste ano será a atriz carioca Andrea Beltrão.

Conversei com a diretora e cineasta Adriana Dutra, que realizou o documentário Fumando Espero, para saber como foi a trajetória desse trio feminino. Eis a história. Era final de 1994 quando Adriana, então atriz de teatro, deixou Londres para visitar a irmã Claudia, em Miami. A amiga Viviane estava em Los Angeles, fazendo um curso de inglês. Adriana disse que ficou desanimada em voltar ao Brasil, ao saber por amigos que estava difícil realizar projetos culturais por falta de incentivos governamentais. Claudia e Adriana decidiram, então, se estabelecer em Miami e a amiga Viviane se juntou a elas. As três queriam fazer algo que promovesse a cultura brasileira, e começaram em 1995 a realização de shows e exposições com artistas brasileiros. Às vezes, conseguiam algum tipo de patrocínio, mas também tiveram que tirar dinheiro do próprio bolso. “Era um tempo em que os americanos nem sabiam direito onde o Brasil ficava no mapa. A gente queria mostrar uma imagem de um país cosmopolita, de pluralidade e não apenas os estereótipos brasileiros”, diz Adriana. Em 1997, dois anos depois de ter se iniciado a retomada do cinema nacional, elas realizaram o primeiro festival de cinema brasileiro em uma sala de 150 lugares na Universidade de Miami., com os longas O Quatrilho, Pequeno dicionário amoroso, Carlota Joaquina e Não Quero falar sobre isso. Adriana conta que elas não tinham ideia de como seria a recepção do público. A surpresa foi boa. “A fila do cinema dava tantas voltas que o diretor de eventos da prefeitura de Miami Beach nos convidou para oficializar o festival”, diz.  Carlota Joaquina foi imediatamente vendido para as telas dos Estados Unidos e assim se iniciava um dos eventos que mais divulga o nosso cinema no exterior.

Adriana diz que nessa última década muita coisa mudou no cinema brasileiro e em como os estrangeiros vêem o Brasil. Ela conta que no festival de Nova York, 80% do público são americanos. “Hoje ser brasileiro lá fora é ter um upgrade”. Mas Adriana afirma que os estrangeiros também se cansaram de alguns tipos de filmes que o cineastas daqui vem fazendo, como o chamado cine favela. “Eles querem conhecer a realidade do país, mas não pelos seus arquétipos. O cinema é universal quando fala de sua aldeia”. Adriana ainda afirma que o que faz sucesso no momento são os documentários brasileiros, como Rainhas, de Fernanda Tornaghi e Ricardo Bruno que conta a história dos bastidores do concurso Miss Brasil Gay.

filme-rainhasCena do filme Rainhas

Ela diz que cineastas como Fernando Meirelles e Walter Salles ajudaram a dar visibilidade e seriedade ao cinema brasileiro. Porém, lamenta que o brasileiro não vá prestigiar o filme feito em seu país. Perguntei a ela se produzíamos filmes de grande qualidade, como faz a indústria argentina, com longas como O Segredo de Seus Olhos, de Juan José Campanella (Aliás, se você ainda não viu, vá vê-lo). Adriana disse que sim, mas que os nossos ficam pouco tempo em cartaz. Ela ainda afirma que o número total de salas de cinema no Brasil, cerca de duas mil, é tão irrisório que corresponde ao mesmo do bairro novaiorquino de Manhattan.

Apesar dessas dificuldades com a sétima arte, Adriana se conclama uma otimista e vê na Copa e nas Olimpíadas uma grande oportunidade de o Brasil se mostrar pela telona. A diretora não quis revelar seus projetos para esses dois eventos, mas disse que certamente estará envolvida em alguma grande ação cinematográfica durante a Copa.  “Essa década será do Brasil”,diz.

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