Lisiane Wandscheer – Repórter da Agência Brasil
Brasília – Com um eleitorado de maioria feminina, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dos mais de 135 milhões de eleitores, 51,82 % (70.373.971) são mulheres e 48,07 % (65.282.009) são homens, o debate em torno de temas de interesse da mulher poderá ser maior nas eleições deste anos. Além disso, pela primeira, duas mulheres estão entre os principais candidatos à Presidência da República.
Para a professora de antropologia da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em direitos femininos, Lia Zanotta Machado, esse poder que a mulher ganhou nas urnas deverá pressionar os candidatos a tratar de questões polêmicas. “Precisamos que todos os candidatos se pronunciem pelos direitos das mulheres e coloquem na ordem do dia o fim da violência e o direito à saúde, especialmente dos direitos reprodutivos, que garantam por um lado o parto humanizado e por outro a legalização do aborto, para evitar as inúmeras mortes e sequelas nas mulheres”, disse.
A autonomia econômica e a inclusão social no mercado de trabalho são outras necessidades consideradas urgentes para as mulheres. Segundo a cientista política do Centro Feminista de Estudos e Assessoria, Fernanda Feitosa, políticas públicas voltadas para o interesse da população feminina devem estar na agenda do próximo presidente. “Apesar da mulher ser maioria e ter mais anos de estudo que os homens, ainda recebem 70% menos que os homens. Para estar no mesmo patamar, elas precisam ter uma qualificação superior”, afirmou.
Fernanda Feitosa disse ainda que para a conquista desta autonomia são necessários equipamentos sociais, creches públicas, educação em tempo integral, lavanderias públicas e restaurantes comunitários, principalmente para as mulheres em situação de vulnerabilidade. Destacou que uma das profissões mais alijadas de direitos sociais e trabalhistas é a das empregadas domésticas, das quais 95% são mulheres e a grande maioria é negra”. A cientista política também citou a falta de amparo jurídico das mulheres que trabalham na condição de donas de casa. “As doenças do trabalho doméstico, mesmo quando remunerado, não são vistos como doenças do trabalho e as donas de casa não têm qualquer aparato legal que as ampare na velhice “, afirmou.
A participação política da mulher na América do Sul começou há menos de um século. Foi no Equador, em 1929, que ela conquistou pela primeira vez o direito ao voto. No Brasil o direito foi alcançado em 1932, sendo restrito às mulheres casadas (com autorização do marido), às viúvas e às solteiras com renda própria. Em 1934, veio o direito sem restrições e, em 1946, o voto feminino obrigatório.
A primeira mulher a ser eleita à Presidência de um país sul-americano foi Janet Jagan, em 1997, na Guiana, seguida por Michelle Bachelet, no Chile, em 2006. Nos dois países, segundo dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), decorreu um espaço de 44 anos entre o sufrágio universal e a conquista da Presidência. Em 2007, foi a vez de Cristina Kirchner na Argentina.
Segundo Fernanda Feitosa, as candidatas à Presidência da República alcançaram projeção nacional em função de sua trajetória pessoal e não por serem identificadas às lutas femininas, mesmo assim esta visibilidade é muito importante para as mulheres. “As duas candidaturas não são fruto de uma estrutura de apoio das mulheres, mas dará visibilidade ao debate e isto é muito positivo. Nestas eleições temos duas candidatas mulheres [Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV)], uma da situação e outra que está pela via alternativa. O embate dessa disputa ampliará o espaço político para as mulheres”, disse.
Mesmo com o grande eleitorado feminino, as últimas pesquisa eleitorais mostraram uma preferência das eleitoras sobre um candidato masculino. A professora da UnB, Lúcia Avelar, disse que a relação de eleitora votar em mulher não se dá de forma automática. “Mulher não necessariamente vota em mulher. Não existe nenhum dado no mundo ocidental que vincule o voto ao sexo. A ideia de mulher votar em mulher é uma bandeira feminista, mas que só acontece quando as mulheres têm vínculos diretos com a luta pelas mulheres”, explicou.
Edição: Aécio Amado