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Sandra e Ana sentiram na pele a violência doméstica, a mesma que agora cantam no CD “Hip Hop de Baton”, apresentado na Gulbenkian, este sábado. O projecto envolve raparigas de bairros da Grande Lisboa, em torno dos estigmas sociais vividos pelas mulheres.
Artigo | 24 Julho, 2010 – 12:51
O CD, cuja apresentação é assinalada em Lisboa com um concerto no anfiteatro ao ar livre da Fundação Calouste Gulbenkian, que apoia o projecto, reúne canções escritas e interpretadas por uma dezena de jovens.
Hip hop para dar voz à descriminação de género e combater o machismo. É um grito de alerta não só para a violência doméstica, mas também para o abuso sexual, a discriminação laboral, a mutilação genital feminina, a prostituição.
Situações, algumas delas, vividas na primeira pessoa. “As letras das músicas foram todas escritas por nós. Tentámos que fosse tudo a ver com a nossa vida, com alguma experiência que tivéssemos passado ou pudéssemos transmitir”, sintetiza à Lusa Sandra Silva, 24 anos, vítima de violência doméstica, o “tema mais acentuado no projecto”.
Seca nas palavras, Ana Rosário, 28 anos, viu na música “uma forma de desabafo” sobre as agressões que sofreu em casa.
O “Hip Hop de Baton”, diz, trouxe-lhe “a liberdade de falar” da violência e a oportunidade de “apoiar as mulheres” na mesma situação do que ela.
Há músicas que têm mesmo “testemunhos muito fortes”, admite Ana Rita Chaves, coordenadora do projecto, que tem raízes no Brasil, onde existe um grupo de hip hop feminino que canta também a violência exercida sobre as mulheres.
Em Portugal, o “Hip Hop de Baton”, que em palco junta também uma DJ e dançarinas, partiu da iniciativa da Associação Diálogo e Acção, que já trabalhava em bairros sociais da periferia de Lisboa.
O grupo visa também colmatar a falta de visibilidade das mulheres no mundo do hip hop português, “este projecto vem de forma importante e histórica preencher essa lacuna que existe no movimento Hip-Hop em Portugal”, lê-se no site do grupo.
Afirmam o hip hop como um movimento cultural e social que move multidões por todo o país e por todo o mundo e sublinham as “cantoras, bailarinas, djs e grafiteiras” que mostram a sua arte de forma elaborada e esforçada mesmo com todas as dificuldades e barreiras que ainda permanecem na cultura hip hop, “como o machismo, a falta de espaços de apresentação para as mulheres, a falta de visibilidade da sua faceta feminina, entre outros”.
Com este projecto, inédito nas palavras de Ana Rita Chaves, procurou-se “dar voz às mulheres, promover a igualdade de género e fortalecer a sua auto-estima”.
O próximo passo das jovens é pôr à venda o CD e ampliar a rede de concertos: convites não faltam para actuar no Porto, no Algarve e… no Brasil, onde a semente foi lançada.