Potencializar as mulheres é vital na luta contra a aids

Por Mehru Jaffer, da IPS

Viena, Áustria, 20/7/2010 – Potencializar as mulheres é fundamental para conter a propagação do vírus da deficiência imunológica humana (HIV, causador da aids), concordaram participantes da XVIII Conferência Internacional sobre Aids, que acontece na capital austríaca. Ao falar com jornalistas durante o encontro, o norte-americano Bill Gates, presidente da Microsoft e filantropo, citou o exemplo do Avahan, um programa nacional de prevenção ao HIV aplicado na Índia. A iniciativa, que tem o apoio da Fundação Gates, permitiu uma ativa participação das mulheres, o que serviu para frear com sucesso a propagação do vírus entre a população indiana em situação de risco, destacou.

 

A chave do Avahan é capacitar e apoiar as trabalhadoras sexuais em quatro Estados indianos para que exijam dos clientes o uso da camisinha. Informação de algumas áreas onde o programa é aplicado sugere que o uso de preservativos pelas trabalhadoras sexuais é a razão de uma meteórica queda na taxa de infecções entre a população de risco. Agora, vários estudos independentes são realizados para determinar o impacto no longo prazo do Avahan. “É estimulante ouvir sobre o apoio de Gates à potencialização das mulheres”, disse Nazneen Damji, assessora sobre Igualdade de Gênero e HIV/aids no Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem).

Contudo, a principal preocupação de Nazneen continua sendo o fato de a maioria das mulheres no mundo ter pouca liberdade de opção sobre seus próprios direitos sexuais. “Não é suficiente que as mulheres tenham acesso a preservativos. Também necessitam ter a confiança de se negarem, sem medo, a manter relações sexuais com homens que não os utilizem”, afirmou. Na conferência de Viena, durante toda esta semana, o Unifem e a Athena, rede de organizações contra a aids, divulgaram novo informe, segundo o qual a voz das mulheres com HIV está praticamente ausente na tomada de decisões.

O informe “Transformando a Resposta Nacional contra a aids: Melhorando a Liderança e a Participação das Mulheres” também identifica estratégias que possam ser adotadas para estimular a intervenção das portadoras de HIV nos planos nacionais. “Durante nosso trabalho de campo, repetidamente ouvimos mulheres que dão exemplos concretos sobre o que podemos fazer para prevenir ou reduzir a epidemia. E essas vozes estão ausentes nas políticas”, lamentou Inês Alberdi, diretora-executiva do Unifem. “Este informe destaca a importância da participação efetiva das mulheres, especialmente das que têm HIV, na busca de soluções e estratégias sustentáveis e efetivas para enfrentar a aids”, acrescentou.

Uma rigorosa implementação dessas recomendações por todas as partes envolvidas, em nível nacional e global, poderia conseguir uma mudança no terreno, concordaram funcionárias do Unifem. “Ver mulheres com HIV e ativistas participando de consultas aqui e depois definir como colocar em prática as recomendações em suas respectivas regiões é um testemunho de como o informe pode funcionar localmente”, disse Tyler Crone, coordenadora da Athena e organizadora do informe.

O HIV/aids é a quarta causa de morte no mundo, e matou dois milhões de pessoas apenas em 2008. Dos 33,4 milhões de portadores do HIV, 31,1 milhões são adultos e a metade é de mulheres, e afeta, em todo o planeta, mulheres e homens quase por igual. Porém, a proporção de mulheres infectadas está crescendo. Mulheres jovens constituem uma crescente parte das novas infecções, e representam cerca de dois terços de todos os novos casos em pessoas com idade entre 15 e 24 anos. Em 2009, a Organização Mundial da Saúde informou que a aids era a principal causa de morte de mulheres entre 15 e 44 anos em países de baixa e média renda.

Estima-se que mais de 90% dos 1,7 milhão de mulheres com HIV na Ásia foram infectadas por seus maridos ou companheiros estáveis. Segundo especialistas, as mulheres, no geral, não conhecem os hábitos sexuais de seu companheiro fora da relação. Cerca de 60% dos adultos com HIV na África subsaariana são mulheres. No Caribe, a prevalência do vírus entre mulheres saltou de 46% em 2001, para 53% em 2008, convertendo essa região na segunda mais afetada, depois da África subsaariana.

Aproximadamente 40% dos casos registrados de HIV na Europa oriental e Ásia central eram em mulheres em 2006. Na Ásia central, 90% dos habitantes de áreas rurais não usam nem têm conhecimento do uso de preservativos. Nessa região, a falta de conhecimento sobre o HIV/aids, em geral, faz com que as mulheres, e não os homens, sofram discriminação e estigmatização, segundo Damira Sartbzeva, diretora regional de programas do Unifem para a Comunidade de Estados Independentes, com sede em Almaty, no Cazaquistão.

Em todo o mundo, muitas mulheres não buscam aconselhamento nem tratamento por medo de sofrer violência física ou psicológica em suas comunidades. Isso também limita sua capacidade de mitigar o impacto da doença em seus filhos, afirmam especialistas. O último informe do Unifem recomenda enfaticamente que as mulheres afetadas sejam reconhecidas como partes fundamentais da resposta à aids. Também exorta por um processo democrático e transparente que represente as mulheres com HIV nos grupos da sociedade civil e nas organizações comunitárias. IPS/Envolverde

(IPS/Envolverde)

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