Natasha Pitts *
Adital – Nos cinco primeiros meses deste ano, a ‘Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180’ recebeu 271.719 ligações de mulheres de todo o Brasil que buscavam informações sobre seus direitos. De acordo com a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), a cifra representa um aumento de 95,5% com relação ao mesmo período do ano passado, quando foram realizados 138.985 atendimentos.
Segundo Aparecida Gonçalves, subsecretária de enfrentamento à violência contra a mulher, este aumento se deu porque as mulheres estão bem mais informadas.
“As mulheres estão tendo acesso à informação e buscando apoio. No final do ano passado a Secretaria de Políticas para as Mulheres realizou uma campanha nacional em que divulgou a Central de Atendimento e também a Lei Maria da Penha. Este é outro fator importante, a questão da credibilidade desta Lei. Muitas mulheres já sabem o que podem fazer e como devem agir, estão mais informadas”, esclarece.
Um relatório gerado para conhecer o perfil atendimentos de janeiro a maio deste ano revelou que neste período houve 51.354 relatos de casos de violência. Deste total, 29.515 foram de violência física, 13.464 de violência psicológica; 6.438 de violência moral; 887 casos de violência patrimonial; 1060 denúncias de violência sexual, 42 situações de tráfico e 207 ocorrências de cárcere privado.
Na tentativa de justificar as investidas violentas contra as mulheres e filhos muitos homens afirmam estar sob efeito de drogas lícitas ou ilícitas. No entanto, o relatório revela que mais da metade, 56% das agressões, acontecem “sem o efeito ou nem sempre do uso de álcool ou drogas”.
Outros índices revelam que 39,8% das mulheres sofrem violência desde o inicio da relação, 38% das atendidas disseram que o tempo de relação com o agressor é acima de 10 anos e 71,7% afirmaram que residem com o agressor. Durante os atendimentos, também foi possível constatar que 68,9% dos filhos presenciam a violência e 15,6% também sofrem violência.
Os dados comprovam que, mesmo sofrendo violências, muitas mulheres ainda permanecem com os maridos ou parceiros agressores. Esta situação, antes justificada pela dependência econômica, hoje é explicada pelo fator afetivo.
“51% das mulheres não dependem economicamente do agressor. A dependência é afetiva. Ela acredita que ainda está apaixonada, pensa que o agressor pode mudar e enxerga este homem como o pai dos seus filhos. Em outros casos há falta de informação. Muitas mulheres ainda pensam que se sair de casa para fugir da violência perderão a guarda dos filhos ou o direito a bens materiais”, explica.
Em sua maioria, as mulheres que buscam o atendimento da Central são negras (58,2%), têm entre 20 e 45 anos (62%), estão casadas ou inseridas em uma união estável (68,3%) e possuem nível médio (28,9%) de escolaridade. Já o perfil dos agressores também é de maioria negra (59,5%), com idade entre 20 e 55 anos (88%), mas apenas 22,5% chegou a completar o nível médio de escolaridade.
Central de Atendimento à Mulher
A Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 é um serviço público e gratuito, que foi criado em novembro de 2005 pela SPM e parceiros para ceder às mulheres informações sobre seus direitos e orientar no caso de já haver ocorrido algum tipo de violência. O atendimento funciona 24 horas, todos os dias da semana, inclusive finais de semana e feriados.
* Jornalista da Adital