Estupro em Florianópolis

Folha Universal
Em Santa Catarina, filho de diretor do grupo de comunicação RBS é suspeito de estuprar menina de 13 anos. Apesar do silêncio da mídia, a história se espalhou. População quer culpados punidos

 

Um crime bárbaro ocorrido há 40 dias em Florianópolis, Santa Catarina, se tornou assunto obrigatório na cidade ainda que tenha sido praticamente ignorado pela mídia. O tom das conversas entre a população é de revolta, constrangimento e medo de que os prováveis responsáveis pelo estupro de uma menina de 13 anos fiquem impunes por se tratarem de adolescentes, de 14 anos, membros de famílias poderosas, ricas e influentes no município. Um deles é filho de um dos diretores da “RBS” (Rede Brasil Sul de Comunicação), que controla emissoras de tevê afiliadas da “Rede Globo” em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, além de jornais e rádios. Outro suspeito é filho de um delegado, que depois do episódio teria até se afastado de suas funções, com pedido de licença. E há ainda um terceiro garoto que ainda não foi identificado.

A história, que ficou abafada e em segredo por mais de 1 mês, só veio à tona porque foi denunciada por um blog local, conhecido como “Tijoladas”, depois que um dos adolescentes envolvidos, o filho do diretor da “RBS”, confessou numa troca de mensagens em um site de relacionamentos na internet ter estuprado uma menina de 13 anos. A confissão involuntária e feita sem nenhum pudor serviu para que a história se espalhasse na cidade através das denúncias do blogueiro Hamilton Alexandre, do “Tijoladas”, uma voz que se ergue como um alerta contra o risco da impunidade. A repercussão da notícia foi tanta que o blog de Alexandre ficou sobrecarregado com tantos acessos que saiu do ar.

O que mais chocou, além da perversidade e covardia do crime, foi a resposta de um dos supostos estupradores à pergunta de um internauta que o questionou se ele não tinha medo de ser preso. Ele respondeu: “Tu tá me zoando, né?”, debochando da Justiça como se estivesse acima da lei. Em seu microblog, o suspeito falou do estupro com naturalidade, inclusive com palavras chulas e impublicáveis. No dia 4, o assunto ganhou destaque no “Domingo Espetacular”, programa jornalístico da “Rede Record”, que assegurou: o jornalismo da emissora irá se empenhar até o fim para que o assunto não caia no esquecimento como reivindica a população. O advogado da vítima, Francisco Campos Ferreira, quer que os suspeitos, todos menores, sejam internados num reformatório para não fugirem.

A vítima, uma menina de 13 anos, apontada como meiga e carinhosa por amigos e familiares, contou à polícia, ainda sob estado de choque, que no início da noite da sexta-feira, 14 de maio, esperava por uma amiga num shopping da cidade para irem juntas a uma festa. Como a amiga se atrasou, ela encontrou o ex-namorado e acabou indo com ele para um apartamento na avenida Beira-Mar, uma das mais valorizadas de Florianópolis. Quem morava no apartamento é o filho do diretor da “RBS”. Os meninos abriram uma garrafa de vodca e começaram a beber. A vítima diz que a partir daí não lembra mais de nada e suspeita que algo foi colocado em sua bebida que a deixou sonolenta.

É comum em crimes como esse o uso de soníferos, num golpe conhecido como “Boa Noite, Cinderela”, que pode levar à inconsciência total por até 24 horas. O estupro teria ocorrido num dos quartos do apartamento e a vítima disse que teria percebido a participação de mais um garoto, que não conseguiu reconhecer. Em depoimento à polícia, a menina informou ainda que a mãe de um dos acusados estava no local o tempo todo, onde ela teria permanecido das 19h às 23h. A mulher teria entrado no quarto depois do estupro, que foi confirmado pela perícia. A menina estava com suas partes íntimas machucadas e com marcas no pescoço.

A família da garota fez a queixa imediatamente, acusando os jovens, que além de pertencerem a famílias influentes frequentam as melhores escolas da cidade. Atualmente, segundo o advogado da família, ela está sob tratamento psicológico, tentando se refazer do trauma. O inquérito foi finalizado na sexta-feira (2) e encaminhado à Justiça. A delegada que cuida do caso não quis se manifestar. No Brasil é considerado crime a prática de sexo ou de “ato libidinoso” com menor de 14 anos, o que chama de “estupro de vulnerável”.

Também na sexta-feira (2), o “Diário Catarinense”, que pertence ao grupo RBS, publicou um comunicado “à comunidade catarinese”, no qual admite a participação de um integrante da família dona do grupo de comunicação. Leia trechos: “A família Sirotsky, sócia majoritária do Grupo RBS, diante de notícias recentemente veiculadas a respeito do envolvimento de um de seus integrantes em ocorrência policial em Florianópolis, esclarece que: Dispensa total solidariedade às famílias dos adolescentes envolvidos no lamentável episódio. Está acompanhando responsavelmente o adolescente, membro da terceira geração da família, com a atenção, a seriedade e os cuidados adequados à situação. Lamenta a forma irresponsável, maldosa e fantasiosa pela qual o episódio vem sendo propagado, principalmente por alguns sites e blogs na internet (…).”

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