POR MARIA FERNANDA SEIXAS e RAFAEL CAMPOS – Correio Braziliense
Chamado de “pequena morte” pelos franceses, o orgasmo conserva algo de misterioso e transcendente. Contudo, ainda é acompanhado de desinformação e preconceito, principalmente com relação às mulheres. Iluminar diferentes aspectos desse instante é tarefa que a Revista tenta levar a cabo na reportagem a seguir
“Garanta a ela um orgasmo”, anuncia a seção “como fazer” de uma prestigiosa revista masculina. O tutorial enumera passos simples do tipo “aperte o bumbum dela com ambas as mãos, pois lá existem muitas terminações nervosas” ou “na posição papai e mamãe, mantenha as pernas dela unidas”. Pronto, isso basta para que certos homens — menos experimentados — pensem ter desvendado o prazer feminino. Outros, tentarão se garantir com os famosos comprimidos azuis, o Viagra, cuja patente acaba de ser quebrada. Ambas as atitudes denotam que eles estão interessados no prazer sexual da parceira, ainda que seja apenas para confirmar a própria virilidade. Se logram ou não êxito nessa busca, é outra história.
Em se tratando de gozo feminino, nada é óbvio. Pesquisa realizada em 2003 pelo Projeto Sexualidade (Prosex) dá conta de que 26% das brasileiras têm a chamada disfunção orgástica, ou seja, dificuldade de alcançar o orgasmo ou sua total ausência. Isso talvez ajude a explicar a insegurança dos varões. Entre quatro paredes, o medo de não satisfazer a companheira (55,9%) supera o de contrair doenças sexualmente transmissíveis (44%). “Existe um mito em torno do orgasmo. Como se a mulher que não o sentisse tivesse um problema. A cama se torna a única referência para um bom relacionamento quando, na verdade, não é”, enfatiza Gerusa Figueiredo Neto, sexóloga pelo Instituto de Ciências Sexológicas de Madrid.
O orgasmo pode até não ser o objetivo último do sexo, mas que ele é altamente desejável, ah!, isso é. Discretas, elas evitam falar sobre o assunto. A Revista, porém, ouviu relatos inspiradores de quem procura o instante máximo da excitação de que o corpo é capaz — sozinhas ou acompanhadas. São histórias de moças que enveredaram pelo sexo virtual, descobriram os estímulos tântricos, adotaram brinquedos eróticos e até aderiram à troca de casais. Com uma pitada de bom humor, entramos no universo das mulheres que fazem da cama (ou da pia, do chão, do elevador, da boate) seu parque de diversões particular.
Voo solo
A vida a dois esfriou. Às mulheres de gerações anteriores, isso poderia significar o ocaso definitivo da sexualidade. Hoje, estar ou não solteira, manter ou não relações, tem pouco ou nada a ver com sentir prazer ou obter orgasmos. Elas agora investem sem compromisso na libido e exploram o próprio corpo sozinhas. Paradoxalmente, a masturbação ainda é um assunto tabu.
Segundo a psiquiatra Carmita Abdo, uma das fundadoras do Projeto Sexualidade, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, um terço das brasileiras nunca se tocou e dois terços acham a prática desconfortável. “É importante que a mulher busque se conhecer. Assim podem comunicar para o parceiro sobre suas preferências. Mas a indicação é que ela respeite seu próprio ritmo. Não dá para exigir algo que não condiz com a fase de sua vida”, aponta Carmita, também coordenadora do Estudo da Vida Sexual do Brasileiro, que entrevistou 7.100 pessoas em 2003.
Para o psiquiatra Alexandre Saadeh, a busca pelo orgasmo está intimamente ligada à prática da masturbação. “Em geral, as mulheres já começaram a perceber que é interessante se permitir e se experimentar porque assim entendem como gostam de ser tocadas — e isso facilita muito a relação”, afirma. Contudo, o constrangimento com relação ao prazer solitário continua arraigado culturalmente. “Muitas temem ser taxadas de promíscuas. Pelas características da masturbação, do órgão sexual feminino, e por conta da repressão desde pequena que muitas delas sofrem”, constata.
Languidez à meia-luz
O artista franco-polonês Balthasar Klossowski, mais conhecido como Balthus (1908-2001), dizia retratar anjos. De fato, a maior parte de sua extensa obra foi dedicada à pintura de meninas pubescentes em contextos sensuais. O ´´rei dos gatos´´, como era chamado, desdenhava as acusações de pedofilia. ´´Minhas pinturas são essencialmente e profundamente religiosas´´, disse a um jornalista. Mas foi o erotismo latente de seu trabalho que inspirou a Revista a produzir a capa desta edição. A tela se chama Thérèse sonhando, de 1938 — ainda atual.
Ao gosto delas
Em geral, as mulheres não se interessam muito por pornografia. O provável motivo é que o produto principal desse mercado — os chamados “vídeos de sacanagem” — é dirigido por homens e para homens. Sem muito erotismo, sexo intermitente, preocupação zero com o roteiro e nenhuma sensibilidade artística. A britânica Anna Span resolveu quebrar a regra. Formada em artes visuais pelo Central St. Martin’s School of Art, difundiu o que chama de uma “nova pornografia”. Cria filmes pensando no imaginário feminino e faz um sucesso absoluto na Europa. Na internet, maiores de 18 anos podem comprar seus filmes no http://annaspansdiary.com.
Êxtase místico
Gustavo Moreno/CB/D.A Press
Antar Surya e a massagem tântrica: orgasmo baseado só na técnica
A ligação foi feita no meio de uma tarde de segunda-feira. “Oi tudo bom? Me chamo Maria* e fiquei muito interessada em divulgar uma coisa fantástica que experimentei na semana passada.” A moça passa então a descrever os efeitos da massagem tântrica que havia experimentado por recomendação de um amigo. Com hora marcada, Maria vai à casa da massagista — um chalé discreto, agradável e afastado do centro. A profissional em questão, Antar Surya, a orienta a ir ao toalete e despir-se. Enquanto isso, acende um aromatizador de óleo, que perfuma o ambiente. A moça, enrolada em uma toalha, deita-se em uma espécie de tatame. A massagem começa com movimentos leves feitos pelas pontas dos dedos, que deslizam por todo o corpo. Pouco mais de uma hora e meia depois, a cliente sente o que acredita ser o maior orgasmo de sua vida.
“Como assim?”, pergunta quem ouve o relato. “Mas a massagista toca em tudo? Tudinho?” A incredulidade era tanta que só mesmo a terapeuta poderia dirimir as dúvidas. Antar Surya é uma mulher delicada e serena e, no primeiro contato, já se vê que o profissionalismo ali é total. Surya explica que na massagem I, que corresponde ao primeiro de três níveis, os toques são mais discretos e se intensificam de acordo com as reações dos clientes. A intenção é abrir os chacras que aumentarão o fluxo das energias sexuais e fortalecerão os músculos da região com estímulos manuais. Eventualmente, a primeira massagem tem toques genitais incluídos e pode acabar com um gozo intenso. “Mas esse ainda não é o objetivo. Pelo menos não na primeira sessão.”
Na segunda massagem, os toques se intensificam e o orgasmo já se
torna quase uma regra. No terceiro e último nível, a concentração nos genitais é total: o cliente alcança um nível de prazer supostamente espiritual. “É como um processo de cura. Muitas mulheres chegam aqui afirmando nunca terem sentido um orgasmo na vida. Outras, travaram de uma hora para outra. Elas ganham uma nova visão do sexo e do prazer”, relata. Muitos homens também procuram o serviço — desde os que querem alcançar o que chamam de “supraconsciência” aos que buscam solucionar disfunções eréteis, como a ejaculação precoce.
A cada dia, são atendidos em média quatro pacientes. O método aplicado por Antar Surya e pelos demais massagistas do Centro Metamorfose foi idealizado por Deva Nishok e se baseia nos princípios do tantra. “Leva, no mínimo, 40 minutos de estimulação para alcançar o orgasmo durante a massagem. E ele se mantém por 15 ou 20 minutos. As pessoas se admiram muito quando falo isso, acham que é algo fantasioso. Mas aprendi que o tempo usual de 15 a 20 segundos se deve à baixa tonificação dos músculos clitorianos”, explica Deva Nishok. Para os homens, o princípio é o mesmo. Prazeres à parte, nesse nicho, a cautela é fundamental: “Há muita deturpação de valores e falsos profissionais. É um trabalho sem nenhum componente sexual. Não temos sexo com os clientes. Somos técnicos muito bem preparados para os atendimentos”, pondera o guru. Antar Surya confirma que já foi assediada por clientes, e precisou de muito jogo de cintura para escapar da situação. Esse tipo de curioso não é bem-vindo por lá.
*Nome fictício a pedido da personagem.
Para o alto e avante!
A recente quebra de patente do Viagra vem causando comoção. A revolucionária pílula azul contra a disfunção erétil completa 10 anos sendo vendida a um preço bem mais acessível. Será esse o fim dos problemas femininos em relação ao orgasmo? Infelizmente, não. “Há um equívoco em relação aos efeitos do Viagra. Ele só funciona quando existe o desejo e muitos homens fazem uso dele apenas na esperança de não falhar”, explica a sexóloga Gerusa Figueiredo Neto.
De acordo com a especialista, é fato que homens sem problemas de ereção, jovens ou maduros, têm feito uso equivocado do medicamento, como se fosse uma garantia de boa performance. “Nesses casos, a relação sexual deixa de ser um prazer e se torna uma obrigação. O desejo diminui, o sexo se torna uma rotina a ser cumprida e as frustrações vêm para os dois lados”, acredita. Para ela, a humanidade vive uma fase paradoxal. De um lado, mulheres independentes exigindo atuações memoráveis na cama. De outro, homens acuados, tentando aparentar virilidade.
Nesse contexto, o culto ao pênis ereto tomou proporções gigantescas — e ilusórias. Ingenuamente, muitos homens acreditam que basta a ereção para levar uma mulher às nuvens. “Só que, para a maioria, penetração é complemento. O orgasmo da maior parte das mulheres acontece com o estímulo ao clitóris e, dependendo da conformidade anatômica com o parceiro, há esse estímulo quando elas são penetradas. A ereção também carrega uma questão simbólica muito grande entre as mulheres, mas está pouco ligada ao prazer feminino”, esclarece o psiquiatra Alexandre Saadeh.
Apesar disso, a ereção insatisfatória costuma detonar uma série de inseguranças. “Há uma atribuição de culpa por parte deles e delas, especialmente por causa das dúvidas que surgem: ‘Ele gosta mesmo de mim?’, ‘Será que não fiz da forma correta?’. Os dois querem mostrar que conseguem dar prazer e esquecem que buscam a mesma coisa: um relacionamento amoroso que dure, de preferência, a vida inteira”, frisa Gerusa Figueiredo.
O tesão genuíno, garante a especialista, depende de intimidade. “O prazer sexual é a única resposta orgânica que envolve todos os sentidos. É preciso que homens e mulheres façam uso deles e, para que isso aconteça, é necessário familiaridade com o corpo do outro. Não dá para conhecer sexualmente alguém em uma noite”, atesta.
A intimidade deve começar pelo reconhecimento do próprio corpo, sugere Deva Nishok, criador do método de massagem tântrica. Ele acredita que nossos sentidos estão embotados pelas convenções sociais. “As meninas descobrem o seu corpo feminino brincando com outras meninas. Os meninos também. Como estamos nos afastando dessa natureza, cada vez mais perdemos a possibilidade dessa descoberta”, argumenta.
O Viagra rosa
As pílulas azuis que povoam a mente masculina estão para ganhar uma versão rosa. Segundo testes clínicos, o medicamento Flibanserin, do laboratório alemão Boehringer Ingelheim, mostrou-se capaz de aumentar consideravelmente a libido das mulheres. Aquelas que tomaram 100mg diários do remédio descreveram relações sexuais mais satisfatórias do que as que tomaram placebo.
A média mensal de relações das pacientes sob efeito do Flibanserin subiu de 2,8 para 4,7. “No mercado, não temos ainda nenhuma medicação especificamente direcionada para o prazer da mulher. A flibancerina (nome científico da droga) ainda está em estudo”, esclarece Carmita Abdo. O FDA, órgão americano responsável pela aprovação e fiscalização de remédios e alimentos, questiona a eficácia do medicamento, pois os testes não são conclusivos.
Quando o problema não está na cabeça
Problemas sexuais podem ter origem psicológica ou fisiológica. “Nas mulheres mais jovens, a gente sempre pensa primeiro em questões de ordem emocional. As de faixas etárias mais avançadas, na menopausa ou mesmo no climatério (período que antecede e compreende a menopausa), os problemas costumam ter origem hormonal”, indica a psiquiatra Carmita Abdo. Outros tipos de disfunções hormonais, doenças sexualmente transmissíveis, depressão e diabetes também podem ser as vilãs da baixa libido, ou da anorgasmia (incapacidade de sentir orgasmos). O jeito é consultar um bom ginecologista para uma avaliação detalhada. Abaixo, uma lista dos principais dificultadores do orgasmo:
Fatores fisiológicos
Alterações na glândula hipófise, que comanda a produção dos hormônios do organismo, podem causar alterações na libido e na lubrificação vaginal. O mesmo vale para outras glândulas, como a tireoide, e as suprarrenais e ovários, responsáveis pela produção da testosterona — principal hormônio do desejo sexual.
A fisiologia da genitália pode impedir que a mulher alcance o orgasmo, seja pela flacidez da musculatura vaginal ou pela malformação do clitóris (atresia do capuz clitoriano, por exemplo).
Vaginismo psicogênico, doença que promove espasmo na musculatura do assoalho pélvico que circunda a vagina, torna a penetração dolorosa ou mesmo impossível.
Doenças tumorais, como miomas, podem levar a problemas de cunho sexual, como a perda da libido e a secura vaginal.
Doenças vasculares pélvicas, que podem causar insuficiência arterial vaginal.
Doenças neurológicas diversas.
Uma série de fatores faz da diabetes um potencial depressor da libido. Por tornar mais frequente infecções vaginais a fungos, pelo receio de uma hipoglicemia e pela falta de uma contracepção segura, por exemplo.
Doenças autoimunes e doenças sexualmente transmissíveis.
A depressão também é um fator de risco, uma vez que causa desinteresse pela atividade sexual e in
capacidade de sentir prazer.
Uma série de medicamentos podem interferir na resposta orgástica, como os que tratam a depressão, remédios para o sono e para o emagrecimento, além do álcool e outras drogas.
Fatores psicológicos
Hostilidade em relação aos homens.
Receio de dano à vagina pela relação sexual.
Sentimentos de culpa em relação ao sexo e aos impulsos sexuais.
Dificuldade em assumir o papel erótico.
Temor à perda de controle ou comportamento agressivo, destrutivo ou violento associado ao orgasmo.
Medo de engravidar.
Traumas sexuais (abusos, defloração dolorosa).
Fatores situacionais (falta de atração, fadiga, conflitos conjugais, depressão, coito interrompido, etc.
Baixa autoestima.
Fonte: Carmita Abdo; Prosex
No meu PC ou no seu?
Anne Fonseca manteve a chama da paixão acesa com brincadeiras on-line. “É um plus”, admite
“A internet teve papel fundamental para aproximar, dar sentido e apimentar uma relação que, no meu caso, existia a distância. Hoje, que estamos morando juntos, a internet ajuda também. Ainda lemos textos eróticos em sites especializados que nos deixam excitados. Vemos fotos e vídeos juntos, conversamos com outras pessoas. Compartilhamos intimidade um com o outro e com os demais. É gostoso. Um plus.”
O depoimento acima é da publicitária Anne Fonseca, 26 anos. Natural de Belém, ela se mudou para São Paulo há dois meses, quando começou a viver com o namorado, que já conhecia pessoalmente, mas que, por força dos quilômetros, mantinha uma relação virtual. A história dela confirma que, se há um território onde tudo é livre em termos de sexualidade, ele é a web.
Mas nem tudo são flores. “Recebo muitas pacientes no consultório que se sentem traídas pelos companheiros. Que os consideram uns tarados por passarem tanto tempo vendo pornografia on-line”, conta o sexólogo Ronaldo Félix de Freitas. Entretanto, quando usada de forma a causar uma maior integração entre o casal, a ferramenta pode ser de grande valia. Inclusive para descobrir novas formas de obter prazer.
“A internet esquenta a relação com a troca de mensagens instantâneas e de e-mails com o intuito de provocar o parceiro ou prepará-lo para uma surpresa. Pode ser uma declaração de amor inesperada. Isso tudo ajuda o casal e só é possível graças à rede”, acredita a arquiteta da informação Michelle Sasaki, 27 anos.
“Mulheres são mais sensuais, mais imaginativas que os homens. E o uso da internet vai depender muito do grau de segurança que elas sentirem com o meio”, confirma Ronaldo Félix. Essa segurança não está relacionada apenas à maturidade afetiva da mulher. Há também o cuidado que toda pessoa deve ter ao se expor na rede, mesmo que haja confiança na pessoa do outro lado do modem.
Anne diz que tudo depende do bom senso do casal sobre o que deve ser feito com o histórico de conversas, fotos e vídeos armazenado no computador. E alerta: “Você estará deixando gravado em algum lugar do cosmos binário uma intimidade sua. Vira e mexe tem gente que perde celular ou manda formatar o computador e aí tem a vida inteira exposta. É sempre um perigo. Tem que usar com parcimônia e juízo”.
Outra armadilha potencial é a frustração causada pelos encontros imateriais. “Não existem jantares românticos nem acordar juntos. Há de se ter muita criatividade e muita identificação para manter a chama acesa só no papo”, pondera a advogada Luana Medeiros, 26 anos. Ela fala com propriedade: depois de uma viagem de férias à França, engatou um romance com um holandês e, há seis meses, sua vida amorosa é salva pela rede mundial de computadores. “A internet é uma faca de dois gumes: você obtém acesso a todos os estímulos. Se fizer bom uso, ela pode melhorar a vida sexual”, assegura Félix, para quem o erotismo por meio da tela fria não tem nada de disfuncional. “A normalidade é que é medíocre, pois não existe uma única maneira de se chegar ao orgasmo.”
O surgimento do ponto GG
Não são apenas os caminhos tântricos que podem levar a mulher a atingir orgasmos catárticos. Por R$ 2.400, uma intervenção cirúrgica proporciona grande sensibilidade sexual, com efeitos garantidos por um ano. Trata-se da G-shot, uma injeção de 2ml de colágeno no ponto G. A intenção é aumentar o tamanho dessa zona erógena, tornando os orgasmos vaginais (tidos como raros) indefectíveis.
A técnica foi apresentada pela primeira vez em 2007, no 27º Congresso Americano de Cirurgia Plástica, nos Estados Unidos. No Brasil, o pioneirismo cabe ao cirurgião plástico Murilo Caldeira. A G-shot, porém, ainda não foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), tampouco pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Em entrevista à Revista, Murilo explica que o ponto G é um local naturalmente elevado dentro do canal da vagina, de extrema sensibilidade, responsável pelo disparo do orgasmo vaginal. Muitas mulheres têm essa região fisicamente deprimida, não conseguindo alcançar o êxtase com a simples penetração. “Uma vez aplicado o colágeno no local e na medida exata, o resultado é infalível”, garante o médico.
A Revista conversou com a comerciante paulista Tatyana Andrade, que fez o procedimento em setembro de 2009. “Olha, realmente, foi uma mudança de vida. A sensibilidade ficou muito maior. Antes, raríssimas vezes eu alcançava um orgasmo vaginal. Depois facilitou muito, em qualquer posição”, garante. A própria dinâmica do relacionamento, que completou cinco anos, mudou. “Acho que os homens se cobram muito em dar prazer. Depois da cirurgia, ele percebeu que não era um problema dele e nem desinteresse meu. Na cama, somos muito mais felizes”, gaba-se.
Em Brasília, a G-shot ainda não é aplicada em nenhuma clínica. A SBCP desaconselha fortemente o seu uso. “Não existe nenhum estudo científico sobre essa prática. Portanto, não a reconhecemos. Até porque, não sabemos onde fica o ponto G ao certo. Pode estar lá, pode estar na orelha, em qualquer lugar”, afirma José Teixeira Gama, secretário-geral da instituição.
Prazeres sortidos
Embrafilme/New Yorker Films/Divulgação
Cena antológica de Dona Flor e seus dois maridos (1976), filme de Bruno Barreto sobre obra de Jorge Amado.
Seria Flor uma adepta do swing?
Certas mulheres conseguem dar uma guinada na vida sexual buscando práticas que envolvem mais de uma pessoa. Pode parecer estranho, mas para algumas esse tipo de relação pode ter efeito libertador. Pelo menos é o que garantem os adeptos do swing ou troca de casais. “Demoramos três anos para termos nossa primeira experiência com outro casal. Antes, trocávamos apenas carícias, nada além disso. Agora, que não tenho problemas, consigo orgasmos em até 70%
das relações com meu marido”, assegura Mônica*, proprietária da boate Swing Club DF, uma das casas do gênero mais requisitadas da cidade. Ela lembra que a experiência nunca havia passado pela sua cabeça. Hoje, ganha a vida ajudando outros casais que também fizeram da fantasia uma forma de melhorar a vida sexual.
Ambos mineiros, mudaram-se para Brasília e abriram o clube que lota de quinta a sábado. “Isso ainda não é tão comum aqui, mas recebemos cerca de 400 cadastros de novos casais por mês no nosso site. E, em cada fim de semana, mais de 20 novatos vem até aqui experimentar”, frisa Mônica. A proprietária também comenta que muitas mulheres tomam a atitude de convidar o marido. Mas vale a pena? Mônica garante que sim. Além de ter conseguido deixar de lado sua educação repressora, ela diz que aprendeu muito mais sobre o seu corpo e que ouve o mesmo relato das amigas que fez em suas trocas de casais. “Todas que vêm aqui, voltam. Apesar de não ser algo que salve uma relação que está ruim, o swing, com certeza, ajuda a mulher a conseguir mais prazer”. A convite deles, em uma sexta-feira à noite fomos observar o local e como se comportam as mulheres que buscam no swing uma fonte de prazer. Confira, na página ao lado, o relato dos repórteres.
Clímax da história
Com base nas entrevistas com os sexólogos e psiquiatras, a Revista propõe algumas reflexões (e não receitas):
Para entender os caminhos de um orgasmo, a mulher deve
conhecer o próprio corpo e experimentá-lo como desejar.
Respeitar o próprio ritmo. O orgasmo não deve ser pensado como o objetivo final do sexo. Do contrário, a frustração é inevitável. “Cada mulher tem seu ritmo, que varia de acordo com sua idade e fase de vida”, reforça a psiquiatra Carmita Abdo.
Autoestima é afrodisíaco para ambas as partes. Ame-se e se cuide.
Relaxe. O prazer feminino depende de concentração e relaxamento. Esqueça a louça na pia, as contas atrasadas e foque na sensação do momento.
Sexo é a apoteose dos cinco sentidos. Explore todos eles sem preconceitos: beije, cheire, toque, ouça, observe e se deixe observar.
Converse com o parceiro. Divida suas expectativas, fale
como se sente: sexo precisa de intimidade psicológica e física.
NÓS, REPÓRTERES!
Ela
A noite esquenta depois das strippers, lá pelas 2h
“O primeiro carro chega ao estacionamento particular do clube. O rapaz sai do veículo olhando para todas as direções e a moça, que usa uma camiseta justa de listras pretas e brancas como microvestido, equilibra o sapato alto de acrílico transparente no chão de terra batida. Andam até a entrada do clube e conversam por alguns minutos com o segurança da casa. Por lá, só entram casais que provem a estabilidade do relacionamento. Seja com fotos, alianças, certidão de casamento, tatuagem apaixonada. O que for. A tática evita que espertalhões levem prostitutas para a festa. Logo atrás entra um trio: um casal e uma moça. A “avulsa” é bem cheinha, usa bermuda jeans, sandália e blusinha de lycra marrom. Ela não tem a menor pinta de frequentadora de casa de swing, assim como a maioria das pessoas que por ali se embrenharam (literalmente ou não). Em geral, “amigas” solteiras são sempre bem-vindas e concorridas no grupos de swing. Em Brasília, segundo o “casal quente”, a modalidade mais disputada é exatamente o ménage à trois com outra mulher. O terceiro casal que chega é composto por um senhor alto e de cabelos brancos, de mãos dadas com uma mulher deslumbrante de, mais ou menos, 40 anos. De tubinho preto e cinto dourado, os cabelos cor de mel lisos e compridos chamam a atenção. “Eles vêm aqui há uns três anos, mas só observam. Nunca fazem a troca”, conta o proprietário. Mais pessoas vão chegando e é a nossa vez de entrar. Os swingueiros têm uma espécie de código de roupas: quanto mais ousada, mais aberta a novas experiências é a mulher. As que, assim como eu, vestiam calças jeans, eram encaradas como iniciantes. Ainda são 23h e os casais ficam sentados, calados, tomando bebidas, trocando um ou outro beijo e observando. Segundo os funcionários, a noite esquenta depois dos shows das strippers, lá pelas duas da manhã. Até então, nenhum casal aborda outro. À meia-noite, casa lotada. As mulheres dançavam animadas e os mais afoitos já começavam a adentrar a cortina preta. Atrás dela, nos espaços claros e abertos, apenas uns gatos pingados abraçados trocando beijos mais inocentes. Já nos quartos escuros… No labirinto, uns cinco casais dividiam o espaço escuro de mais ou menos 8m². Lá dentro rolava de tudo. O gemido foi suficiente para que eu recuasse. Estando lá como voyeur disfarçada, simplesmente não me senti no direito de espiar tal intimidade. Saímos por volta de 00h30, antes da casa pegar fogo. Até porque, já havíamos visto o suficiente: pessoas normais e bem resolvidas, em busca de aventura e prazer. A ideia do swing me pareceu bem menos agressiva e mais natural, instintiva e corajosa.”
Ele
Uma visão panorâmica da performance dos outros
“Uma casa de swing não é apenas um grande vão que aguarda o sexo dos seus visitantes. Ao contrário, a ambientação conta muito para criar um clima propício às experiências que lá acontecem. Olhar bem por esses ambientes foi minha tarefa, mesmo que, muitas vezes, meu olhar se detivesse em um casal mais animado. Esta casa de swing não tem placas que alardeiam sua localização, mesmo que ela seja fácil de encontrar. No primeiro ambiente, a boate em si. DJ à direita, bar à frente, algumas mesas espalhadas em círculo. Ao centro, dois mastros de pole dancing que, quando ocupados por dançarinos contratados da casa, atiçam mais os casais. Porém, atrás de cortinas negras é que estão os verdadeiros ambientes concorridos. Sete deles são liberados para a prática sexual e isso é levado a sério pelos frequentadores. O primeiro é o cinema. O telão que exibe filmes pornográficos chama menos atenção que a enorme cama de couro vermelho: nela, os casais têm liberdade para, em grupos de qualquer tamanho, experimentarem o sexo às vistas dos outros. Dois sofás servem de plateia para os que desejam apenas ver. Aqueles que procuram uma maior privacidade se valem de dois quartos que, com travas, podem ser fechados quando a festinha se torna mais íntima. O limite de pessoas também não existe, mas, segundo os proprietários, é comum o encontro de dois casais por vez. Muitos são voyers, que, depois de presenciar as cenas, entram sozinhos nos quartos. Para quem adora se exibir, há o espaço com o sugestivo nome de aquário. Sua parede é de vidro e dá direto na pista, garantindo uma visão panorâmica da performance de quem estiver lá. Por último, os dois mais requisitados: a dark room e o labirinto. O primeiro é autoexplicativo: em sua sala totalmente escura não há problema algum em abraçar, beijar e transar com quem esteja dentro. O labirinto tem uma dinâmica parecida, mas carrega um teor sexual ainda mais apimentado. Trata-se de uma saleta apinhada de casais, com paredes lotadas de buracos não só para os que querem olhar — os espaços são grandes o suficientes para permitir a passagem de mãos e braços. Assim, a interação é ainda maior.”