Do G1 SP, com informações do Fantástico
Médico nega as 56 acusações de abuso sexual. Ministério Público tenta bloquear bens de mulher do médico
Em interrogatório à Justiça, o médico Roger Abdelmassih, acusado de 56 crimes sexuais a clientes de sua clínica de reprodução assistida, teria negado os abusos e dito que apenas dava beijos no rosto das pacientes. Segundo ele, o cumprimento afetuoso é uma característica familiar, sem qualquer outra intenção. Chorando, ele teria prometido à juíza Kenarik Boujikian Felippe que não faria mais isso.
O conteúdo do depoimento de três horas de Adelmassih à Justiça foi obtido com exclusividade pelo programa Fantástico. O interrogatório foi no dia 7 de maio deste ano. O médico estava acompanhado de três advogados. O depoimento é considerado o mais importante do inquérito antes de a Justiça decidir se o especialista em reprodução assistida é culpado ou inocente. Acusados de crimes sexuais não vão a júri popular, cabendo a um juiz decidir tudo.
“Ele vinha com essa mania que diz que é normal dele, de tentar beijar você perto da boca, e você notava dele se encostar, você percebia que ele estava excitado”, conta uma ex-paciente.
Abdelmassih chegou a ficar preso de 17 de agosto a 24 de dezembro de 2009. O então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, concedeu ao médico o direito de responder o processo em liberdade. Já foram ouvidas mais de 200 pessoas. Entre elas, há 130 testemunhas de defesa e 35 mulheres que dizem ter sido atacadas dentro da clínica do médico. Algumas afirmam que sofreram mais de um abuso sexual.
No depoimento, Abdelmassih afirmou à juíza que não costumava ficar sozinho com as mulheres que se tratavam com ele. E que, mesmo quando isso acontecia, era perto de alguma sala que tinha gente.
A ex-paciente que concedeu entrevista ao Fantástico disse que isso não o impedia de cometer os abusos. “Ele abriu o meu jaleco. Eu comecei a bater na porta porque ele fechou a porta. Fui estuprada pelo doutor Roger”, diz a mulher.
Para médico, anestésico causaria alterações no comportamento sexual
O Fantástico apurou que o médico de 66 anos disse durante o interrogatório que, antes das cirurgias, as pacientes eram sedadas com propofol, anestésico que Michael Jackson usou para tentar dormir antes de morrer. Para a Justiça, ele contou que, depois que surgiram as acusações de estupro, decidiu investigar os efeitos do propofol e constatou que o anestésico poderia provocar alterações no comportamento sexual das pacientes.
O anestesiologista Irimar de Paula Posso, professor do Hospital das Clínicas de São Paulo, que tem mais de 40 anos de profissão, contesta. “São muito raras as alucinações por anestésicos, especialmente pelo propofol. Agora, tem muitos relatos de médicos que assediaram pacientes e quiseram dizer que era culpa do anestésico.”
Bens bloqueados
O Ministério Público pediu uma pena de 300 anos de cadeia para Roger Abdelmassih. A sentença deve sair em setembro deste ano. Juristas consultados pelo Fantástico acreditam que, mesmo que a condenação seja alta, o médico terá o direito de recorrer em liberdade, já que respondeu a maior parte do processo fora da cadeia.
O médico também é réu em uma ação civil pública por crimes contra os direitos do consumidor. Para garantir o pagamento de eventuais indenizações, a Justiça bloqueou os bens e as contas bancárias dele.
Para o MP, há uma tentativa de burlar esse bloqueio com envolvimento da mulher do médico, a procuradora da República Larissa Maria Sacco, de 31 anos, que está de licença do cargo. Segundo a acusação, o médico usa uma empresa agropecuária que está em nome da mulher para fazer movimentações de dinheiro. O MP está tentando bloquear também os bens de Larissa.
Procurados pelo Fantástico, os advogados de defesa de Adelmassih afirmaram que ninguém iria gravar entrevista e que as provas são frágeis, resumindo-se aos depoimentos das supostas vítimas.