Novela sem final feliz

CRISTINA GRILLO – Folha de S.Paulo

RIO DE JANEIRO – Uma história hipotética: a moça grávida chega à delegacia, diz que foi agredida e mantida em cárcere privado pelo namorado. Conta que foi obrigada a tomar um abortivo e ameaçada de morte caso procurasse a polícia. Chora, mostra as marcas de agressão e pede ajuda.


A delegada manda a vítima para o IML. Quer exames de corpo de delito e de urina, para saber se houve mesmo agressão e tentativa de aborto. Invoca a Lei Maria da Penha, criada para proteger mulheres vítimas de violência, para que a moça receba proteção.

Aqui começa mais um capítulo da novela dos inquéritos brasileiros. Oito meses e meio depois, o acusado não foi ouvido, a delegada foi transferida e o exame de urina não está pronto -o IML defende-se sob o argumento de que ninguém pediu urgência nos resultados.

A papelada vai e volta entre delegacia e Ministério Público -está incompleto, diz o MP; está pronto, garante a polícia. As perspectivas de que o caso chegue algum dia à Justiça se desvanecem.

Em seu recém-lançado livro "O Inquérito Policial no Brasil: uma pesquisa empírica" (ed. Booklink), o sociólogo Michel Misse explicita, em números, as dificuldades para que o registro feito em uma delegacia chegue aos tribunais.

Analisando os casos de homicídios dolosos em cinco capitais, concluiu que apenas 16% se transformam em processos judiciais. No Rio, menos ainda: só 11%. Estamos falando de homicídio, o mais grave dos crimes, aquele que pune seus autores com as maiores penas.

Quais as perspectivas da personagem de nossa história hipotética ver aquele a quem acusa de agressão ser punido? Pouquíssimas. E quais as probabilidades do incriminado ter chance de provar na Justiça que as acusações, quem sabe, são falsas? Mínimas.

A novela dos inquéritos policiais está muito longe de um final feliz.

Fonte: http://www1. folha.uol. com.br/fsp/ opiniao/fz040720 1004.htm

SAIBA MAIS

Fala de Bruno sobre guarda de bebê é lamentável, diz advogado

Portal Terra

O goleiro Bruno concede entrevista após treino no Rio de Janeiro, em 1º de julho Foto: Fabio Motta/Agência Estado

Goleiro disse em entrevista que, se filho de Eliza for dele, irá pedir a guarda da criança
Foto: Fabio Motta/Agência Estado

Ney Rubens
Direto de Belo Horizonte

O advogado que representa a família de Eliza Silva Samúdio acredita que é contraditória a vontade de Bruno, goleiro do Flamengo, em lutar pela guarda de seu suposto filho com a estudante desaparecida desde 4 de junho. "Acho lamentável uma declaração desse tipo. E digo isso sem qualquer referência ao inquérito policial que investiga a suspeita de participação dele no desaparecimento de Eliza", afirmou Jader Marques.

"Ele foi procurado por muitas vezes pela mãe para de alguma maneira auxiliá-la e sempre se negou. A Eliza passou necessidade, não teve em alguns momentos onde morar. Não teve condições na hora de ganhar a criança, passou por dificuldades inclusive para
se dirigir ao hospital. Seria engraçado se não fosse lamentável uma declaração desse tipo", disse o advogado. Bruno afirmou em entrevista que, se for comprovado que bebê é seu filho, vai lutar pela guarda da criança.

Marques esteve reunido durante a manhã no Departamento de Investigação de Homicídios em Belo Horizonte, com os delegados que apuram o caso. Ele afirmou que ficou satisfeito com as informações que recebeu e que a polícia está no ritmo certo, mesmo protelando o depoimento de Bruno e do amigo dele, Macarrão. "Não é uma tática, é um procedimento dentro da lei que inclusive diz que o suspeito deve ser ouvido por último", afirmou.

A Polícia Civil informou, ainda, que duas testemunhas moradoras da vizinhança dos amigos de Bruno, em Ribeirão das Neves, prestam depoimento desde o início da manhã pela segunda vez. As autoridades não informaram, porém, o motivo dos novos questionamentos.

 

O caso
O goleiro do Flamengo nega as acusações de que estaria envolvido no desaparecimento de Eliza. A delegada Alessandra Wilke, que investiga o caso, disse que contatou as amigas de Eliza no Rio, que confirmaram a viagem. No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas dizendo que Eliza teria sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador. Ainda de acordo com as informações recebidas pela polícia sob sigilo, o goleiro teria queimado roupas e pertences de Eliza após o crime.

Segundo a apuração de Alessandra, Bruno esteve no sítio entre os dias 6 e 10 de junho. Na noite do dia 25, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, de 4 meses, estaria lá. A atual mulher do goleiro, Dayane Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante o depoimento dos funcionários do sítio, um dos amigos de Bruno afirmou que, por volta de 19h do dia 25, Dayane havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.

Por ter mentido à polícia, Dayane Souza foi presa. Contudo, após conseguir um alvará, foi colocada em liberdade na manhã do dia seguinte. Ela também será novamente convocada a depor.

Outras polêmicas
O goleiro Bruno já esteve nos noticiários policiais outras vezes. Quando jogava pelo Atlético-MG, em 2006, ele foi detido em Ribeirão das Neves, cidade onde morava, por ter participado de um racha de carros durante a madrugada.

Já no Flamengo, em 2008, Bruno e outros atletas da equipe carioca se envolveram em uma briga com garotas de programa durante uma festa no sítio do atleta logo após uma partida entre o rubro-negro e o Atlético-MG.

Bruno também deu uma polêmica declaração em uma entrevista coletiva quando tentou defender o jogador Adriano, seu colega de Flamengo, de uma suposta acusação de agressão à noiva. "Qual de vocês que é casado que nunca brigou com a mulher? Que não discutiu, que não até saiu na mão com a mulher, né cara? Não tem jeito. Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher, xará", disse o goleiro no início de março.


Advogado diz que provas indicam
que Eliza Samudio estaria morta

Defensor da família da jovem vai a São Paulo buscar objetos pessoais dela

Do R7, com jornal Hoje em Dia

Jader Marques, advogado do pai de Eliza Samudio, Luiz Carlos Samudio, esteve na Polícia Civil de Minas Gerais na manhã desta segunda-feira (5) para conversar com delegados que investigam o desaparecimento da ex-amante do goleiro do Flamengo, Bruno Fernandes.

Em entrevista à imprensa no início da tarde, ele disse que o inquérito já está em fase adiantada e que, mesmo que não haja corpo, há provas contundentes que indicam o homicídio de Eliza. Marques disse também, segundo o jornal Hoje em Dia, que, na terça-feira (6), irá a São Paulo para buscar objetos pessoais da Eliza.

A Polícia Civil confirmou que duas testemunhas estavam sendo ouvidas por volta das 12h30 no Departamento de Investigações. Segundo a assessoria de imprensa da corporação, os dois homens são moradores de Ribeirão das Neves, na região metropolitana de BH, que já haviam sido ouvidos anteriormente.

Confira também

Fralda encontrada na margem de lagoa

A Polícia Civil encontrou no último sábado (3) uma sacola plástica com uma fralda descartável de bebê. O material estava perto da lagoa Suja, no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte, e foi recolhido para per&iac

ute;cia.

Equipes seguiram para o local no início da tarde desta segunda-feira para fazer novas buscas a um possível corpo que teria sido visto no local. Segundo denúncias, há suspeitas de que o corpo seja de Eliza Samudio, 25 anos de idade.

Ela teve um bebê em fevereiro de 2010 e desde então luta para que Bruno reconheça a paternidade. Eliza foi vista pela última vez no sítio de Bruno, em Esmeraldas (MG). Ela estava com o filho de quatro meses. Bruno é o principal suspeito de envolvimento no sumiço da ex-amante, mas ainda não foi chamado para depor e nega todas as acusações. Ao menos 25 pessoas já prestaram esclarecimentos à polícia de Minas Gerais. Os investigadores esperam reunir mais dados para então convocar o goleiro. A polícia encontrou marcas de sangue e fios de cabelo no carro de Bruno e aguarda resultado de exames para saber se são de Eliza.

A assessoria de imprensa da Universidade Federal do Rio de Janeiro informou que o resultado do exame de urina feito por Eliza Samudio em outubro do ano passado deve ficar pronto até quarta-feira (7). A urina já havia sido analisada na semana passada e o laudo indicou a presença de substâncias abortivas. Como essas substâncias poderiam ser provocadas também pelo consumo simultâneo de bebidas alcoólicas e cigarro, a Polícia Civil pediu que uma nova análise fosse realizada.

Eliza Samudio esteve na Delegacia de Atendimento à Mulher de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio, em outubro de 2009, quando estava grávida de cinco meses. De acordo com vídeo gravado pela jovem na porta da delegacia, Bruno e dois amigos a teriam agredido e obrigado a tomar comprimidos abortivos.



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