Caderno de Veículos – Estado de Minas
Equipamento foi inventado por uma mulher em 1903; mais de cem anos depois, ele continua equipando os automóveis sem nenhuma grande evolução do projeto inicial
Marlos Ney Vidal/EM/D.A Press |
Ao longo dos mais de 100 anos de existência do automóvel, os fabricantes introduziram incontáveis aprimoramentos, de modo a torná-lo cada vez mais eficiente. Muitas soluções técnicas foram aperfeiçoadas à exaustão, mas uma ou outra teimam em permanecer basicamente iguais. É o caso dos velhos limpadores de para-brisa. Desde o começo do século XX até os dias de hoje, os veículos ainda não conseguiram abrir mão deles.
COISA DE MULHER Quem inventou os limpadores foi uma mulher. E não estamos falando daquelas belas garotas de lavajato, de camisetas curtas, que limpavam o para-brisa esfregando os seios cuidadosamente contra o vidro. A inventora do sistema na verdade foi a norte-americana Mary Anderson, em 1903. A ideia surgiu durante um passeio de bonde no inverno de Nova York. Mary observou que o motorneiro tinha que realizar várias paradas para remover a neve do para-brisa. Cansada de enfrentar os trajetos morosos e gelados, ela concebeu sua invenção.
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Cansada de ver o motorneiro do bonde em que viajava em Nova York parar para tirar neve do para-brisa em 1903, Mary Anderson inventou o equipamento que é essencial até hoje |
DISSEMINAÇÃO Mary patenteou o dispositivo, que era basicamente uma lâmina de borracha fixada em uma haste de metal. A redenção veio em 1908, quando Henry Ford passou a equipar o famoso modelo T com os limpadores. A partir de 1920, quando a patente expirou, vários fabricantes passaram a usar o equipamento e, rapidamente, todos os automóveis produzidos nos Estados Unidos faziam uso da invenção.
MANUAL No começo, o acionamento do limpador era manual. O próprio condutor, por meio de uma alavanca, movimentava a palheta. Era incompatível para o motorista executar a dupla-função de dirigir o carro e limpar o vidro, mas o incômodo não duraria muito. Em 1917, outra mulher, Charlotte Bridgwood, aperfeiçoou o equipamento, inventando o limpador automático. Atualmente, o acionamento acontece por meio de um motor elétrico, mas até a metade do século passado também eram comuns os limpadores a vácuo, acionados pela sucção provocada pelo próprio propulsor à combustão do veículo.
CONTEMPORANEIDADE Em pleno século XXI, o limpador resiste à tecnologia e segue com poucas alterações. Alguns carros, dotados de para-brisas muito grandes, necessitaram de limpadores com áreas de varredura maiores, o que fez surgir o sistema que movimenta as palhetas em sentidos opostos, ao contrário do tradicional, no qual as duas peças movem-se para o mesmo lado. Também são recentes as palhetas do tipo flat-blade, que dispensam a armação em metal. A pós-modernidade do sistema é o sensor de chuva, que aciona o limpador automaticamente diante dos primeiros pingos de água no para-brisa.
PROBLEMAS A falta de alterações significativas ao longo de quase um século frequentemente manifesta-se em forma de problemas. A borracha das palhetas resseca com facilidade, e ai do proprietário se não substituí-las em dia: a pena para a omissão varia de arranhados no para-brisa até graves acidentes por falta de visibilidade. E até agora, ninguém conseguiu inventar um limpador que permita boa visão sob fortes temporais ou nevascas. Limitações à parte, o fato é que ainda não surgiu equipamento capaz de aposentar a invenção de Mary Anderson.