Expresso MT
Vinte e oito mulheres tiveram a gravidez interrompida somente este ano em Cuiabá.
O número refere-se somente aos casos de mulheres atendidas na rede de Atenção Básica de Saúde do município e por isso não reflete, nem de longe, a quantidade exata de mães que foram submetidas ou se submeteram a métodos abortivos, uma vez que nesses dados estão contabilizados somente as mulheres que fizeram o procedimento por determinação judicial – de mães que sofreram estupros – ou pela gestação apresentar risco de vida às mães. Dados do primeiro levantamento sobre aborto no país feito pela Universidade de Brasília (UnB) apontam que uma em cada sete brasileiras entre 18 e 39 anos já abortou.
“Esses 28 casos não contabilizam os casos da atenção secundária nem os dos hospitais referência. Às vezes coincidem, mas não contabilizam”, explica o responsável clínico pela Diretoria de Atenção Básica, o médico Cleo Borges.
Ele não quis fazer uma projeção sobre quanto seriam realmente os casos de aborto em 2009 e no que já se foi de 2010 – “só trabalhamos com números concretos” –, mas um médico que pediu para não ser identificado disse que esse número é pelo menos três vezes maior.
“Sabemos que a maioria das mulheres, quando se decidem a interromper a gravidez, só procuram tratamento se algo der errado e elas tiverem sangramento excessivo ou hemorragia e, num último momento, inflamações pélvicas”, disse a fonte.
Procurados para fornecer números, os hospitais referência citados disseram não possuir esses índices. O responsável pela Atenção Básica contestou a relevância da divulgação desses dados e considera que o foco deve ser outro. “A situação do aborto é de orientação, porque ninguém vai tirar das mulheres o direito de escolha. Não discutimos mais se o aborto é legal ou não, mas a melhor maneira (e os custos) de tratarmos os traumas pós-aborto”, argumenta Borges.
Nessa conta devem entrar as doenças psicossomáticas, como depressão, insônia e, em casos mais graves, síndrome de pânico, hemorragias, inflamações pélvicas e a dificuldade de uma nova gestação. Há um gasto envolvido nessas situações, e os países em que o aborto é legalizado não divulgam nunca os valores gastos após o ato, de acordo com Borges.
“É um problema que passa pelo livre-arbítrio da mulher, envolve os gastos públicos com saúde e a proteção do feto. Um tema tão polêmico que mesmo a classe médica não tem um pensamento único sobre o aborto, não há um parecer do Conselho e nem definição científica do que é um aborto”, raciocina. Mesmo quando a gravidez é de risco, caso de mulheres com diabetes gestacional e Doença Hipertensiva Específica de Gravidez (Dheg), caso a mãe decida correr o risco, abre-se uma discussão sobre a interrupção, pois sempre vai envolver a decisão da equipe médica.