Vila Dois – Portal Terra
Mulheres com seios volumosos, siliconados ou não, já fazem parte da realidade brasileira, e talvez cada vez mais do imaginário masculino. Sabendo isso, as que não foram favorecidas pela genética vão atrás da cirurgia plástica, que por sinal alcança à classe média ou baixa pela facilidade de pagamento.
Meg Souza depois da cirurgia plástica. “Me sinto mais segura com seios volumosos”.
Plástica para aumento de seio já ultrapassou o número de lipoaspirações no Brasil. Do total brasileiro de 629 mil plásticas por ano, 96 mil são para aumento de mamas, 5 mil a mais que as de lipoaspiração.
Mas por que essa revolução? Para atrair o sexo oposto? Ou para seguir um padrão estético? Quase isso. Segundo Mirian Goldenberg, antropóloga e autora de livros sobre a relação de homens e mulheres com o próprio corpo, entre eles, “O corpo como capital”, “Nu e Vestido”, “De perto ninguém é normal”, isso acontece por conta da chamada “imitação prestigiosa”, ou seja, mulheres quererem ser iguais aquelas que têm prestígio. Em um de seus textos, a antropóloga diz que os indivíduos imitam atos, comportamentos e corpos que obtiveram êxito e viram ser bem-sucedidos. “Hoje em dia mulheres de seios grandes são aquelas que conseguiram prestígio e fama. Gisele Bündchen entre muitas outras. Elas querem olhar para baixo e ter o que as outras têm. O peito traz segurança e poder perante a sociedade”, explica Goldenberg.
A assessora de imprensa Meg Souza, de 28 anos, pagou mais de seis mil reais para colocar 320 mililitros de silicone em cada seio, isso no ano passado. “Estava insatisfeita com o tamanho e também tinha acabado de me separar, precisa me sentir bem, levantar um pouco mais a autoestima”. O término do casamento foi a oportunidade para realizar o sonho que ela tinha desde a adolescência. “Comecei a fazer coisas que não podia quando era casada, pois as nossas contas eram divididas, quando a sociedade acabou comecei a investir mais em mim”, conta. Além de se estar feliz com o resultado da cirurgia, e mais confiante sexualmente, “o próximo é que vai usufruir deles”, brinca, ela acredita que ter a comissão de frente mais volumosa é uma forma de mostrar ao mundo que é uma mulher segura e bem resolvida.
O fenômeno dos seios turbinados se explica pela influência americana instalada por aqui. Enquanto que no final do século passado, mulheres queriam seguir os padrões franceses, de alguns tempos para cá a cinturinha de pilão e a comissão de frente turbinada passaram a ser almejadas por conta da influência da cultura norte-americana.
A própria antropóloga lembra das palavras do sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre em relação ao modelo de beleza brasileiro. “Ele dizia, com certo tom de crítica, que este modelo de brasileira estava sofrendo um “impacto norte-europeizante ou albinizante”, com o sucesso de belas mulheres como Vera Fischer: alta, alva, loira, cabelos lisos, com um corpo menos arredondado”. Segundo ela, Freyre enaltecia o corpo da mulher brasileira, “miscigenado”, em que os seios não eram tão relevantes, e propunha que a mulher daqui não deveria seguir passivamente “modas de todo européias ou norte-americanas”.
Preferência nacional?
Para o designer e ilustrador Daniel Guimarães, de 27 anos, os seios fartos não são um pré-requisito, mesmo porque ele gosta e acredita mesmo que a paixão nacional é o bumbum. Casado, Daniel já conversou com a sua mulher sobre a cirurgia plástica, mas por enquanto não é uma prioridade para ela. “Não a incentivo muito porque gosto do jeito que eles são, de tamanho médio, mas ajudaria a pagar a cirurgia sim caso ela quisesse aumentá-los”, diz.
Já o publicitário Thiago Aranha Maneschi, de 24 anos, acredita na seguinte teoria: “bumbum não é novidade, porque todo mundo tem, mas seio é outra coisa”, brinca. Entretanto na prática, ou melhor, na paquera, os seios pequenos não são um fator de exclusão. “Minha namorada não tem peitão, mas eu a apoiaria caso quisesse colocar silicone. Não é isso que define se eu vou gostar de uma mulher ou não”, afirma.
Pelo visto, se eles participassem das pesquisas da antropóloga certamente responderiam como a maioria dos homens. Segundo Goldenberg, quando a pergunta é “o que te atrai mais sexualmente”, o bumbum fica em primeiro lugar, seguido do corpo, da beleza e dos seios, “mas vale lembrar que os seios apareceram nas pesquisas há pouco tempo”. Parece que para eles ainda é o “conjunto da obra” que ganha pontos na hora da conquista. Mas até quando, o bumbum irá prevalecer “firme e forte” como preferência nacional?