Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O diretor do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (Unic), Giancarlo Summa, acredita que o país conseguirá atingir os Objetivos do Milênio (ODM), mas que isso não ocorrerá de maneira uniforme. Segundo ele, prevalecerão desigualdades regionais e locais. “A média pode esconder situações complicadas”, disse, enfatizando que há disparidades, por exemplo, no acesso ao saneamento básico, menor nas regiões Norte e Nordeste. “O acesso a serviços públicos em Copacabana ou Ipanema [no Rio de Janeiro] é melhor do que o dos moradores dos morros que ficam nesses bairros”, explicou o diretor.
A Organização das Nações Unidas lançou hoje (23), em Nova York, o Relatório dos Objetivos do Milênio 2010. O documento cita o Programa Bolsa Família e a política de prevenção à aids, desenvolvidos no Brasil, como modelos.
O relatório divulgado hoje pela ONU não analisa especificamente o Brasil, mas a situação global. Para Giancarlo Summa, “o copo está mais cheio do que vazio”, mas ele não acredita que todos os países do planeta consigam cumprir as metas. “Faltando cinco anos está claro que não alcançaremos as metas.”
Segundo ele, diminuiu a quantidade de pessoas que sobrevivem com menos de US$ 1,25 por dia (indicador da linha de pobreza). Nos anos 1990, 46% da população mundial estavam nessa situação; em meados dessa década, o percentual era de 27%.
Giancarlo salientou que o aumento dos preços internacionais dos alimentos verificado em 2008 e a recessão no ano passado, causada pela crise financeira internacional, atingiram duramente as populações mais pobres. “Isso não foi apenas uma questão do mercado financeiro”, ponderou.
Para o diretor, houve progressos na América Latina, como por exemplo a redução de 34% (1990) para 24% (2010) no percentual de pessoas que vivem em favelas.
Mas a região preocupa com a maior “perda líquida” de floresta. De acordo com Giancarlo Summa, 4 milhões de hectares são desmatados anualmente nos países latino-americanos. Ele salienta que o desmatamento pode impactar em eventos meteorológicos graves e acarretar em desastres naturais “que têm impacto maior entre os mais pobres”, disse lembrando dos recentes estragos das chuva e das enchentes em Alagoas e Pernambuco.
Para o diretor de Estudos e Políticas Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Jorge Abrahão de Castro, no Brasil, as Metas do Milênio avançaram mais que o previsto. “O desempenho do Brasil impacta no conjunto e faz com que os ODM andem mais rápido”, reconheceu. Ele ressalta, no entanto, que o país tem dificuldades com a qualidade do ensino básico e que ainda está longe de cumprir a meta de reduzir a mortalidade materna. A meta é ter no máximo 35 mortes em mil partos e o atual indicador está em torno de 75 mortes em mil.
Os Objetivos do Milênio serão tema de reunião de chefes de Estado e de Governo que ocorrerá na segunda quinzena de setembro nas Nações Unidas.
Entre as metas, que devem ser cumpridas pelos países signatários até 2015, estão eliminar a extrema pobreza e a fome; universalizar o ensino fundamental; promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; melhorar a saúde materna; reduzir a mortalidade infantil; combater o HIV/aids, a malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental; além de estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.
O Brasil se comprometeu a cumprir as metas em 2000 durante a Cúpula do Milênio, promovida pela ONU. Na época, 189 países assinaram o acordo.
Edição: Lílian Beraldo