Silêncio e dor das chinesas casadas com gays

Por Kit Gillet, da IPS

Pequim, 23/6/2010 – Wang Yibing esteve casada por três anos sem saber que seu marido era gay. Ele sabia, mas como muitos homossexuais na China, preferiu se casar e evitar a pressão familiar e social. “No começo tudo era bastante normal e doce”, contou a mulher de 33 anos, de Pequim. Três anos depois, Wang notou que seu marido ficara frio e dela se desvinculou emocionalmente. Após descobrir uma carta de um ex-namorado que lhe pedia outra oportunidade para a relação, o marido confessou sua situação. Foi devastador para Wang, mas é bastante comum na China.

 

Há estudos estimando que 90% dos gays estão casados com mulheres heterossexuais, mas é difícil obter dados precisos. As mulheres presas em um casamento sem amor são incapazes de se divorciar pela pressão que sofrem os casais jovens para ter filhos e pelo temor da reação das pessoas que os cercam. “A quantidade de mulheres nessa situação diminuiu nos últimos anos”, disse Zhang Beichuan, diretor da Associação de Sexologia da China e fundador da revista “Intercâmbio de Amigos”, que ajuda pessoas com problemas vinculados à homossexualidade.

Não é nenhum consolo para as que sofrem um casamento sem amor. “Muitas mulheres perdem a autoestima e se sentem usadas por seus maridos”, disse Zhang à IPS. Wang contou que, a princípio, tinha boas relações sexuais com o marido, mas tudo acabou ao saber que ele era homossexual. “Uma vez tentei conseguir alguém por uma noite pela Internet, mas não tive coragem de ir adiante”, disse à IPS. Wang não pode se divorciar. Surgiu uma oportunidade de trabalho que implicava mudar para outra cidade, e decidiu aceitá-la. Continuam casados, mas vivendo separados.

Wen Xiao, de Qingdao, teve uma experiência diferente. “Meu marido não me beijou nem me abraçou em nove anos de casamento”, contou esta mulher de 42 anos. “Sempre me fazia sentir como se houvesse feito algo errado”, acrescentou. A situação era tão difícil que Wen consultou um psiquiatra e tomou remédio para superar a depressão. Começou a suspeitar da homossexualidade do companheiro no ano em que se casou, mas demorou sete para aceitar essa situação. “Foi um prolongado e doloroso processo”, contou.

Existem organizações e sites que ajudam as mulheres a lidarem com o problema, a verem que não estão sozinhas, e as apoiam enquanto decidem o que fazer. Cidades como Pequim têm pequenas organizações de apoio onde as mulheres podem ouvir outras pessoas em situações semelhantes e liberar emoções. “A situação das mulheres de homossexuais é extremamente trágica”, afirmou Li Yinhe, professora de Sociologia da Academia de Ciências Sociais da China e conhecida ativista. “Na maioria dos dias lavam o rosto com lágrimas”, contou em seu blog.

“Pouquíssimas optam pelo divórcio”, disse Zhang. As que o fazem “costumam ter estudo e ser independentes economicamente. Além disso, muitas das que se divorciam não têm filhos com seus maridos”, acrescentou. Não foi o caso de Wen, que decidiu se divorciar no ano em que soube da homossexualidade de seu marido. “Não foi fácil tomar a decisão, pois tenho uma filha e não queria que crescesse sem pai. Mas também não queria que fosse criada em uma família enferma”, explicou.

“Os maridos gays não podem atender sexualmente suas mulheres, mas podem ser bons pais e cuidar da família”, acrescentou Zhang. “Porém, para elas, o pior é o abuso emocional, não o físico. Seus maridos não as querem e alguns até desgostam de ter contato físico. Isso é o mais difícil para qualquer mulher”, explicou. A mulher de um homossexual “me contou que certa vez, adormecida, colocou o braço sobre o corpo de seu marido. Repentinamente, ele o retirou bruscamente. Ela acordou impressionada e, naturalmente, destroçada emocionalmente”, acrescentou.

Mesmo depois do divórcio, Wen não pode explicar os motivos aos seus pais. A pressão social e a falta de compreensão e aceitação da homossexualidade fazem com que seja difícil para as mulheres chinesas entender que não é sua culpa, muito menos convencer seus pais. “Não posso contar a nenhum conhecido”, acrescentou Wang. “Mas vou às reuniões e converso com mulheres que estão na mesma situação”, acrescentou. Wang ainda luta para aceitar o fim de seu casamento. “Passamos todos esses anos juntos, construindo uma família. Basta outro homem e um desejo para destruí-la? O sexo não é o único vínculo que une os casais”, afirmou. IPS/Envolverde

(IPS/Envolverde)

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