Uma invenção curiosa promete acabar com o aperto que as mulheres passam quando não há banheiro limpo por perto
Especial para o Correio Braziliense
Valério Ayres/Esp.CB/D.A Press |
´´Ruim mesmo é ficar apertada por aí´´ Larissa Vasques, adepta da novidade |
Em seu livro O segundo sexo, de 1949, a filósofa Simone de Beauvoir fazia um veemente protesto contra a injustiça que era as meninas terem de fazer xixi sentadas. Para ela, a igualdade entre os sexos só poderia ser alcançada no dia em que eles e elas pudessem dividir o mictório. Parece que esse dia chegou: uma empresa brasileira acaba de lançar uma invenção para lá de mirabolante. Trata-se de uma espécie de funil anatômico que permite liberdade o suficiente para que nenhuma mulher sinta inveja do, digamos, membro masculino.
A engenhoca é feita de um tipo de silicone medicinal flexível, que, segundo o fabricante, deixa no chinelo as versões descartáveis em papelão. “O silicone se adapta perfeitamente a qualquer anatomia, então não tem respingo. O risco de acidentes é mínimo”, salienta Fábio Kertzer, sócio da empresa fabricante. Funciona assim: com dois dedos você encaixa o funil na pélvis, mira, e voilà! Xixi em pé, com toda a praticidade e a higiene que isso implica. Aparentemente, não tem segredo. É só imitar o namorado. Mas, por via das dúvidas, é melhor treinar a técnica no chuveiro antes de inaugurar o amigo fora de casa.
Como o funil é reutilizável, basta lavar com água e sabão. Não precisa torcer o nariz. Segundo Kertzer, isso é suficiente para a higienização do acessório. “Muita gente tem nojo porque não sabe que a urina é estéril. Se você não tem uma infecção, ela é como a água”, tranquiliza. “E o silicone medicinal é totalmente liso, repele qualquer líquido. Depois que a pessoa usa, fica seco”, emenda. Por isso, se bater a vergonha de lavar o funil na pia do banheiro, na frente de todo mundo, ou se o cenário for uma estrada ou um camping, por exemplo, por mais estranho que pareça, acomodá-lo num saco plástico na bolsa até a hora de lavar é uma solução. De novo: nada de cara de nojo. “Lavar é mais um ato psicológico”, diz Kertzer. Mas se você for “psicologicamente afetada”, pode até ferver o produto que ele não perde as propriedades.
Se você for desencanada, deixe para lá essa história de ferver. “Como a urina é limpa, pode dar uma chacoalhadinha e guardar na bolsa sem medo”, concorda a ginecologista Mariliz Lima. No entanto, não se iluda achando que o acessório vai ajudar a prevenir doenças por evitar o contado com sanitários de higiene duvidosa. Segundo a médica, as bactérias não sobrevivem fora do corpo. “Se uma pessoa tem alguma infecção e se senta no vaso, ainda que outra mulher use o mesmo banheiro imediatamente depois, não vai pegar a doença”, explica. “Mas o funil não deixa de ser prático, porque a mulher sente nojo, então ele evita o desconforto, mas é só”, completa Mariliz.
A versão descartável do funil já era facilmente encontrada nas farmácias. O pacote com 12 cones de papel sai por volta de R$ 15. A unidade do lavável custa R$ 30. Ambos os tipos são úteis também para pessoas em pós-operatório, grávidas ou idosas que sentem dor ou dificuldade em sentar para fazer xixi. Pode ainda ser um ótimo aliado na hora do exame de urina, quando ter uma boa mira é quesito importante.
De deixar qualquer feminista orgulhosa, fazer xixi em pé já nem é mais novidade para algumas meninas antenadas. A estudante de psicologia Larissa Vasques, 22 anos, é adepta do acessório há três meses. Foi uma amiga quem apresentou a novidade, então disponível em um site estrangeiro de compras. O utensílio alaranjado se chama Pistilo e não sai da bolsa da estudante. “Eu sou muito fresca. Era do tipo que levava meu kit-banheiro no carro, com protetores para o vaso e tudo o mais”, conta.
Mesmo que, às vezes, o inofensivo pedacinho de plástico cause alguma estranheza, ela jura que não tem vergonha de carregá-lo para bares, boates e pelos banheiros da universidade onde estuda. “Faz mal segurar xixi e eu segurava muito para não ter que usar banheiro sujo. Não tenho vergonha. Todo mundo faz xixi, é natural. Ruim mesmo é ficar apertada por aí”, decreta Larissa, que não conhecia a versão brasileira do objeto. A pedido da Revista, ela topou testá-lo. “Ele é meio mole, acho que requer alguma prática. Acho válido como alternativa aos importados, mas eu recomendaria testar em casa primeiro.” Quem avisa, amiga é.