Mulheres do Norte regressam ao lar

Tito Drago, da IPS

Madri, 15/6/2010 – As mulheres do mundo industrializado tendem a deixar de trabalhar fora de casa para se dedicar à família, amparadas pelos benefícios sociais, ao contrário do que ocorre nos países do Sul, onde o emprego feminino cresce, empurrado, muitas vezes, por necessidade de sobrevivência. Foi o que disse à IPS Carmen Bravo, secretária da Mulher e membro do Comitê Executivo da Confederação Sindical de Comissões Operárias (CCOO), uma das duas centrais sindicais majoritárias da Espanha.

As europeias “querem voltar para o lar o mais rápido possível e deixar o trabalho fora de casa”, enquanto as dos países emergentes se incorporam cada vez mais ao setor trabalhista, apesar de sofrerem diferentes formas de discriminação e terem de apelar para a economia informal, sem contar com sistemas de proteção social, acrescentou Carmen. No Norte também trabalham muitas mulheres, mas gozando dos sistemas de proteção social, e a maioria deixa de fazê-lo quando têm filhos para cuidar. As que trabalham informalmente são em menor número, em relação ao Sul, e na maioria são imigrantes.

Um dos fatos positivos que facilitam esse retorno ao lar na Europa para cuidar da família é o pagamento de subsídios e compensações por estarem desempregadas. A quantia a receber e o tempo que dura o subsídio por desemprego depende da idade da pessoa, do tempo trabalhado, de ter ou não família sob seu encargo, de receber ou não renda extra e, neste último caso, o valor da mesma. Também há aquelas mulheres que cumpriram pena de prisão e começam a receber esse pagamento após ficarem em liberdade.

Na Europa, as mulheres que têm família gozam de licença maternidade, que no caso da Espanha é de 16 semanas e na Suécia de 96 semanas, recebendo do Estado, nos dois casos, 100% do salário que recebiam em seus empregos. Na América Latina, o prazo para essas licenças varia de país para país. Em El Salvador, Equador, Uruguai e Argentina é de 12 semanas, enquanto na Costa Rica chega a 16, segundo a Associação pelos Direitos da Mulher e do Desenvolvimento.

A sindicalista Carmen reconhece que no governo do primeiro-ministro socialista José Luis Rodríguez Zapatero, iniciado em 2004, houve bastante avanço na proteção do direito dos trabalhadores e, sobretudo, em políticas para incorporar as mulheres ao mercado de trabalho em condições dignas e apoiar sua formação profissional. Um passo importante foi a aprovação da lei da Igualdade, em 2007, acrescentou Carmen, que foi uma das participantes, no dia 11, da Jornada de Mulheres Sindicalistas convocada pela CCOO, na sede do Conselho Econômico e Social de Madri, formado por sindicatos, empresários e o governo da Comunidade de Madri, uma das 17 que integram a Espanha.

Essa norma, entre outras coisas, estabeleceu a paridade de gênero nas listas eleitorais, um subsídio de maternidade para menores de 21 anos, mesmo não tendo contribuído com seu trabalho, e que, antes de 2015, pelo menos 40% dos postos nos conselhos de administração das grandes empresas sejam ocupados por mulheres. Lamentavelmente, na Espanha, o setor feminino é o mais afetado pelos efeitos derivados da crise global, que jogou no desemprego 18,4% das mulheres economicamente ativas, o equivalente a 2,5 milhões. A Espanha é atualmente o país europeu com maior porcentagem de mulheres desempregadas, seguida da Letônia com 13,9%, Grécia 13,2%, Estônia 10,6%, Lituânia 10,4% e Portugal 10,3%, segundo dados do espanhol Instituto de Estudos Econômicos (IEE).

Um exemplo da situação enfrentada pelas mulheres do Sul está na América Latina, onde recai sobre seus ombros o maior peso da perda de empregos na indústria de exportação e em outros setores devido à crise mundial, segundo a Associação pelos Direitos da Mulher e o Desenvolvimento. O estudo diz que a restrição do crédito que afeta as microfinanças terá graves impactos sobre as mulheres empreendedoras e o setor agropecuário. Naqueles países em que as famílias se mantêm com dinheiro enviado pelos imigrantes, sua queda pelo mesmo motivo também terá impacto na renda das famílias, onde a busca por emprego e por alternativas de geração de renda será mais difícil.

Por outro lado, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) prevê um impacto diferencial por gênero da crise nessa região, na medida em que a inserção de homens e mulheres no mercado de trabalho também é diferente. Segundo a Cepal, “o desemprego e a informalidade são mais altos entre as mulheres, o que supõe a falta de proteção social e instabilidade na renda. O problema é maior entre as mais pobres, já que sofrem taxas de desemprego e de informalidade mais altas”, e os dados históricos situam as mulheres em maior porcentagem do que os homens em setores de baixa produtividade na América Latina.

Apesar de sofrer esses problemas, as latino-americanas lutam por se manter trabalhando, na maioria dos casos compatibilizando essa atividade com as tarefas em casa, e uma grande porcentagem delas também empregadas informalmente, por isso não figuram nas estatísticas. IPS/Envolverde

(IPS/Envolverde)

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