Estuprada em escola católica, defende pessoas abusadas por padres

ENTREVISTA JOELLE CASTEIX no Correio Braziliense (12/6/2010)
Ela fez dos abusos o desejo de justiça

Arquivo pessoal

Joelle Casteix ainda se considera uma pessoa de sorte. Quem olha para essa mulher sorridente na foto, não imagina o pesadelo que ela enfrentou na adolescência, entre os 14 e os 16 anos. Foram dois anos de estupros cometidos por um professor da escola católica Mater Dei High School, no sul da Califórnia. Além de ter engravidado, contraído uma doença venérea e sofrido o trauma do abuso, Joelle viu os líderes da instituição — o padre diretor, o chanceler da diocese, o advogado e o bispo — arquivarem as acusações contra o criminoso. Chegaram a culpá-la pela violência sexual. Ainda assim, não deixou-se vencer pela depressão e tornou-se uma das primeiras a denunciar a pedofilia na Igreja. Em entrevista ao Correio, por e-mail, Joelle — membro da ONG Rede de Sobreviventes Abusados por Padres (Snap) — criticou o mea-culpa feito ontem pelo papa Bento XVI. “Infelizmente, desculpas não protegem crianças”, lamenta.

Como a senhora vê o pedido de perdão do papa Bento XVI pelos abusos na Igreja?
O papa desculpou-se hoje (ontem) diante de milhares de padres. Infelizmente, desculpas não protegem crianças — apenas ações as protegem. Se o papa quiser se penitenciar pelo abuso sexual de crianças, ele precisa divulgar milhões de páginas de arquivos secretos escondidos no Vaticano e em dioceses; ordenar que todos os padres, bispos e cardeais relatem qualquer atividade suspeita ou alegação de abuso sexual à polícia; e remover todo religioso que abusar de crianças ou acobertar o abuso e aplicar a eles a lei secular. Finalmente, ele tem que dizer ao mundo tudo sobre seu papel no acobertamento dos crimes de abuso sexual. 

O pontífice também prometeu fazer o possível para garantir a autenticidade da vocação dos sacerdotes. É possível uma mudança de comportamento da Igreja?
O problema de abuso sexual e acobertamento não se trata de formação em seminário. Trata-se de homem que estão, nesse exato momento, abusando sexualmente de crianças em todo o mundo. Trata-se de cardeais e bispos que acobertam abusos, protegendo predadores de crianças. Ainda que a avaliação dos seminários seja um gesto legal, não faz absolutamente nada para proteger uma criança, colocar os molestadores atrás das grades e punir homens que têm facilitado as agressões sexuais por décadas. 

Que impactos esse escândalo está causando dentro da Igreja Católica?
Católicos ao redor do mundo começam a olhar cuidadosamente para a liderança católica e questionar se a Igreja Católica é ou não um local seguro para seus filhos. Cada vez menos homens estão optando pelo sacerdócio. O Vaticano tem perdido credibilidade, ante sua inação para proteger crianças. Qualquer igreja que não seja segura, está amaldiçoada a definar. 

Quais sequelas carrega uma vítima de abuso sexual cometido ou acobertado por um padre?
Toda vítima de abuso sexual na Igreja Católica sofre em dobro: nós sustentamos a dor e a vergonha do abuso e, depois, carregamos a dor da perda de espiritualidade, do senso de comunidade e de família, da relação com Deus. Fui culpada pelo abuso que sofri. Disseram que a culpa foi minha. Quando autoridades da Igreja mentiram para mim e protegeram meu agressor, elas decidiram que a saúde e a reputação de um estuprador de crianças era muito mais importante do que a própria criança. Quando colocaram o caso em um arquivo secreto, eles depositaram o peso da Justiça sobre mim. Eu me tornei uma pessoa que teria de lutar nos tribunais para ter certeza de que as crianças estariam a salvo do homem que me machucou. Fui estuprada durante dois anos por uma pessoa que tinha imenso poder sobre mim. Era meu professor. Ele me engravidou e me transmitiu uma doença venérea. Eu sempre carregarei a dor disso — a cada dia do resto da minha vida. Cada vez que luto para proteger uma criança, eu me curo. Sou uma daquelas sortudas: dezenas de vítimas cometem suicídio todos os anos. Outras mais escorregam para o vício em drogas e álcool. Eu tive de lutar contra a depressão, mas tenho minha própria família agora. Devo a eles ser a melhor esposa e mãe que eu puder. (RC)XX ainda se considera uma pessoa de sorte. Quem olha para essa mulher sorridente na foto, não imagina o pesadelo que ela enfrentou na adolescência, entre os 14 e os 16 anos. Foram dois anos de estupros cometidos por um professor da escola católica Mater Dei High School, no sul da Califórnia. Além de ter engravidado, contraído uma doença venérea e sofrido o trauma do abuso, Joelle viu os líderes da instituição — o padre diretor, o chanceler da diocese, o advogado e o bispo — arquivarem as acusações contra o criminoso. Chegaram a culpá-la pela violência sexual. Ainda assim, não deixou-se vencer pela depressão e tornou-se uma das primeiras a denunciar a pedofilia na Igreja. Em entrevista ao Correio, por e-mail, Joelle — membro da ONG Rede de Sobreviventes Abusados por Padres (Snap) — criticou o mea-culpa feito ontem pelo papa Bento XVI. “Infelizmente, desculpas não protegem crianças”, lamenta.

Como a senhora vê o pedido de perdão do papa Bento XVI pelos abusos na Igreja?
O papa desculpou-se hoje (ontem) diante de milhares de padres. Infelizmente, desculpas não protegem crianças — apenas ações as protegem. Se o papa quiser se penitenciar pelo abuso sexual de crianças, ele precisa divulgar milhões de páginas de arquivos secretos escondidos no Vaticano e em dioceses; ordenar que todos os padres, bispos e cardeais relatem qualquer atividade suspeita ou alegação de abuso sexual à polícia; e remover todo religioso que abusar de crianças ou acobertar o abuso e aplicar a eles a lei secular. Finalmente, ele tem que dizer ao mundo tudo sobre seu papel no acobertamento dos crimes de abuso sexual. 

O pontífice também prometeu fazer o possível para garantir a autenticidade da vocação dos sacerdotes. É possível uma mudança de comportamento da Igreja?
O problema de abuso sexual e acobertamento não se trata de formação em seminário. Trata-se de homem que estão, nesse exato momento, abusando sexualmente de crianças em todo o mundo. Trata-se de cardeais e bispos que acobe

rtam abusos, protegendo predadores de crianças. Ainda que a avaliação dos seminários seja um gesto legal, não faz absolutamente nada para proteger uma criança, colocar os molestadores atrás das grades e punir homens que têm facilitado as agressões sexuais por décadas. 

Que impactos esse escândalo está causando dentro da Igreja Católica?
Católicos ao redor do mundo começam a olhar cuidadosamente para a liderança católica e questionar se a Igreja Católica é ou não um local seguro para seus filhos. Cada vez menos homens estão optando pelo sacerdócio. O Vaticano tem perdido credibilidade, ante sua inação para proteger crianças. Qualquer igreja que não seja segura, está amaldiçoada a definar. 

Quais sequelas carrega uma vítima de abuso sexual cometido ou acobertado por um padre?
Toda vítima de abuso sexual na Igreja Católica sofre em dobro: nós sustentamos a dor e a vergonha do abuso e, depois, carregamos a dor da perda de espiritualidade, do senso de comunidade e de família, da relação com Deus. Fui culpada pelo abuso que sofri. Disseram que a culpa foi minha. Quando autoridades da Igreja mentiram para mim e protegeram meu agressor, elas decidiram que a saúde e a reputação de um estuprador de crianças era muito mais importante do que a própria criança. Quando colocaram o caso em um arquivo secreto, eles depositaram o peso da Justiça sobre mim. Eu me tornei uma pessoa que teria de lutar nos tribunais para ter certeza de que as crianças estariam a salvo do homem que me machucou. Fui estuprada durante dois anos por uma pessoa que tinha imenso poder sobre mim. Era meu professor. Ele me engravidou e me transmitiu uma doença venérea. Eu sempre carregarei a dor disso — a cada dia do resto da minha vida. Cada vez que luto para proteger uma criança, eu me curo. Sou uma daquelas sortudas: dezenas de vítimas cometem suicídio todos os anos. Outras mais escorregam para o vício em drogas e álcool. Eu tive de lutar contra a depressão, mas tenho minha própria família agora. Devo a eles ser a melhor esposa e mãe que eu puder. (RC)

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