Iolanda Toshie Ide *
Adital – Estima-se que, no Brasil, há 4,4 milhões de crianças e adolescentes envolvidas no chamado Trabalho Infantil, muitas delas não se escolarizam. Na última década, cerca de 2 milhões foram afastadas do trabalho infantil. Por meio do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, atualmente cerca de 800 mil são beneficiárias da transferência de renda em 4 mil municípios. Neste ano, foram realizadas 349 fiscalizações que resultaram em 594 crianças libertadas e aplicação de 170 multas.
A essas crianças, é-lhe retirado o direito de brincar e de freqüentar escola. Ouve-se falar dos meninos envoltos em carvoarias e corte de cana, mas esquece-se das meninas que desempenham exaustivos trabalhos até mesmo a partir dos cinco anos de idade.
A uma menina de 11 anos indaguei sobre a escola que freqüenta. Para minha surpresa, percebi que não sabia escrever nem ler. Nunca freqüentara nenhuma escola. Todos os dias percorria cerca de 4,5 quilômetros para buscar água. Desde os cinco anos de idade, acompanhada da mãe, a menina buscava água e recolhia gravetos. Aos poucos, passou a cuidar dos cães, da criação de frango, dos porcos. Em seguida, após transportar na cabeça uma pesada lata d’água ainda preparava as refeições da família. Com o tempo, também lavava as roupas.
Outra, desde os 6 anos de idade, cuidava do irmãozinho fazendo mamadeiras e papinhas, trocando fraldas que lavava e passava.
Invisibilizado, o trabalho das meninas ocorre também fora do próprio lar. Algumas não freqüentam escola por desempenhar trabalho de babá, outras lavam os utensílios da cozinha, duas vezes ao dia, às vezes tarde da noite, após a ceia da família. Há ainda as que são encarregadas de pequenas compras: pão, leite, biscoitos, sal, açúcar e até de cigarros e bebidas alcoólicas. Geralmente recebem míseras remunerações. Conforme a idade avança, trabalham como adultas, durante longas jornadas. Ao retornar ao lar, enfrentam uma segunda jornada.
Há uma outra -gravíssima- modalidade de exploração de meninas e adolescentes: a sexual. Agenciadores não faltam. Tanto ao longo de rodovias, quanto em motéis, Drive-in, hotéis de alta rotatividade, Rodeios, Exposições agropecuárias, baldas,… Em tempos de copa, intensifica o comércio sexual envolvendo meninas.
Para denúncias anônimas, pode-se recorrer ao telefone 0800 707 203, ou, mais facilmente, ao Disque 100. Não seja cúmplice: denuncie!
* Presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulheres de Lins (SP)