Violência sexual: Menores são maioria das vítimas

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Levantamento revela aumento no nº de atendimentos às vítimas de violência sexual


Nos últimos dois anos, o Serviço de Atendimento às Vítimas de Violência Sexual atendeu a 777 pessoas. Desse total, 669 tinham menos de 18 anos, o equivalente a 86% dos casos. Em abril deste ano, o percentual foi ainda maior: 91% dos 60 atendimentos. “Temos estatísticas desde 2004. Elas comprovam que entre 80% e 85% dos casos registrados aqui são crianças e adolescentes”, destaca a enfermeira obstetra do serviço, Dora Varjão.

O serviço, que funciona durante 24 horas por dia na Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, em Aracaju, é referência no estado. Lá, as vítimas fazem a profilaxia contra gravidez indesejada, HIV e Doenças Sexualmente Transmitidas (DST). “Além disso, ainda contam com psicólogo e psiquiatra. Os moradores de municípios que não dispõem de Creas [Centro de Referência Especializado de Assistência Social] podem buscar acompanhamento psicológico aqui”, lembra a médica Patrícia Chaves, responsável pelo setor.

O apoio dos municípios é fundamental para que a vítima possa fazer o acompanhamento psicológico, que acontece semanal ou quinzenalmente. “É necessários que as prefeituras encaminhem essas vítimas para cá. Já avisamos aos municípios que estamos com vagas para a psicologia e a psiquiatria. Sabemos que os traumas dessa violência são perversos”, reforça Dora Varjão.

Outro serviço oferecido para as vítimas é a interrupção da gravidez indesejada. Por isso, tão importante quanto denunciar o agressor, é o paciente se dirigir ao serviço no tempo correto. “O ideal é que as vítimas cheguem aqui até 72 horas para que possamos fazer as profilaxias no tempo exato”, diz a médica. A gravidez fruto da violência sexual pode ser interrompida até a 20ª semana, conforme previsto em lei. “Quando isso não acontece, temos caso como o da menina que teve filho do próprio pai. Isso porque ela chegou ao serviço com 20 semanas e cinco dias de gestação”, frisa Patrícia Chaves.

“Se ela tivesse chegado a tempo no serviço para que se procedesse a uma interrupção prevista em lei, teríamos evitado mais um trauma na vida desta menina”, completa a enfermeira. Segundo Dora, a chegada da vítima tardiamente ao serviço traz muito prejuízos. “Não podemos fazer as coberturas de saúde que são importantes, como a profilaxia. É fundamental que essas vítimas sejam encaminhadas rapidamente ao serviço de saúde. As delegacias e os conselhos tutelares precisam ter o entendimento de que é o serviço prestado aqui é indispensável”, reforça Dora Varjão.

Estatísticas

Em 2008, foram atendidas 354 vítimas. Desse total, 110 tinham entre zero e 10 anos e 198 entre 11 a 17. Desses 308 casos de abusos contra menores, somente 30 foram cometidos por pessoas desconhecidas. O número de pai, padrasto, vizinho chegou a 114 agressores. Depois de Aracaju (101 registros), as cidades onde o crime mais aconteceu foi em Nossa Senhora do Socorro (28) e Lagarto (25).

No ano passado, o número subiu para 423 ocorrências registradas no serviço, sendo 361 menores – 313 do sexo feminino. Entre 11 e 17 anos, os atendimentos somaram 223. O registro é de apenas 21 agressores desconhecidos. O índice da violência caiu em Aracaju (92) e Lagarto (14) e subiu na cidade de Nossa Senhora do Socorro (40).

“Dentro do grupo de pessoas que são abusadas sexualmente, existe um grupo vulnerável que é o dos portadores de deficiências mentais. Várias crianças que foram violentadas eram portadoras de deficiência mental. Nosso primeiro caso de interrupção de gravidez no serviço foi o de uma menina que era doente mental e foi abusada pelo pintor da casa dela”, frisou Dora Varjão.

Mulheres

Apesar do número de atendimentos a menores de 18 anos ser bem superior, existem muitos casos de abusos contra mulheres que não são registrados. “A criança e adolescente tem o encaminhamento via conselho tutelar, via IML, via delegacia. Isso aparado pelos pais. Já a mulher tem que ter a iniciativa de procurar. O que a gente percebe aqui no serviço é que mulheres quando chegam são casos agudos. Você não pega uma mulher que está sendo abusada por um período longo. Ela só vem quando é estuprada. Se não ocorrer o estupro ela não vem”, apontou Dora Varjão.

Outro ponto é que as mulheres acabam procurando o serviço quando estão preocupadas com a gravidez indesejada e com as DSTs. A maioria delas não dá continuidade ao tratamento psicológico. Grande parte das vítimas também abandona o tratamento com medicamentos antiretrovirais. “Isso porque existem vários efeitos colaterais, como vômito, náuseas e diarréia. Elas acabam desistindo”, alertou a enfermeira.

 

fonte: CCR – www.ccr.org.br

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