Louise Bourgeois, artista e escultora

Um dos maiores nomes das artes plásticas do século 20, a norte-americana morreu aos 98 anos em Nova York. Sua obra, marcada pelo erotismo e pela transgressão, nunca perdeu a principal referência: o corpo humano

  • Nahima Maciel – Correio Braziliense
  • Guggenheim Museum/Divulgação
    bourgeois
    Bourgeois com uma de suas obras: questionamento da condição feminina

    As pulsões de vida e de morte que tanto orientaram a americana de origem francesa Louise Bourgeois se calaram. A artista morreu ontem, aos 98 anos, no Israel Medical Center, em Manhattan. Radicada em Nova York desde 1938, quando casou-se com o historiador de arte Robert Goldwater, Bourgeois faz parte de uma leva de artistas contestadores e foi pioneira em trazer para a arte questões femininas, além de estimular o trabalho de artistas mulheres. Foi a diretora de seu ateliê em Nova York — um espaço no qual mantinha programas de aconselhamento para jovens artistas —, Wendy Williams, quem anunciou a morte da artista ao jornal The New York Times na tarde de ontem.

    Bourgeois foi aluna de grandes pintores da escola moderna francesa. Abandonou o liceu para estudar com André Lothe e Fernand Léger, mas foi na escultura que encontrou refúgio. Em Nova York, passou a conviver com os surrealistas e cubistas, muitos vindos da Europa como exilados de guerra. Nesse meio Bourgeois formou a base de seu processo escultórico e começou uma trajetória que a elevaria ao topo da lista de artistas mais importantes da primeira metade do século 20. O corpo humano foi matéria e referência para a artista. Na representação deste e de suas pulsões, ela encontrou uma linguagem particular cujo conteúdo esteve profundamente ancorado na história pessoal e em questionamentos existenciais especialmente voltados para a condição feminina e sua atuação no cenário artístico. “O inconsciente é meu amigo”, dizia a artista.

    otismo, agressividade e sentimentos de abandono e proteção impulsionaram muitas das formas orgânicas das esculturas da artista, fotografada por Robert Mapplethorpe em 1982 com Fillette, um enorme pênis em látex carregado debaixo do braço tal qual uma baguette. “Louise Bourgeois desenvolveu uma lógica das pulsões, importando vincular sua obra aos grandes temas do conhecimento ou da literatura e não aos sistemas da arte. Melhor falar então de um material extraído de recalques e embates da vida como abandono e ira, desejo e agressão, comunicação e inacessibilidade do outro”, escreveu o crítico e curador Paulo Herkenhoff no guia on-line SampArt. Na capital paulista, uma enorme aranha em bronze assinada por Bourgeois guarda a entarda do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), na marquise do Parque Ibirapuera.

    Ativa até o fim, Bourgeois continuou produzindo em seu ateliê em Nova York. De lá saíram as séries de desenhos eróticos vendidos durante a Arco de 2008 e algumas das obras que integraram a exposição Louise Bourgeois: retrospective, realizada em Londres por meio de uma parceria entre a Tate Modern e o Centre George Pompidou.

    O inconsciente é meu amigo

    Louise Bourgeois, (1911 – 2010)

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