Amanda, a nova – e polêmica – Amélia

Letícia Sorg – revista ÉPOCA

É provável que você, como outras milhares de pessoas, tenha visto o “Programa da Amanda”. O primeiro episódio, no vídeo aí embaixo, foi visto quase meio milhão de vezes. Ele rodou pela web – assim como vários outros vídeos do canal de humor Anões em Chamas, da produtora Fondo Filmes – e fez muita gente rir. Mas despertou a revolta de algumas mulheres. Elas decidiram abrir uma ação no Ministério Público contra o programa.

 

Nele, a personagem Amanda revela os três “P”s (pomada, palma e pancake!) para lidar com marido violento e termina dando um conselho: “E lembre-se: mulher que apanha do marido fica solteira. Mas mulher que cai da escada ou bate com a cara no armário da cozinha fica casada, e para sempre!”

 

Depois de ver o vídeo e ler um pouco da polêmica nos comentários, decidi fazer uma entrevista com Letícia Lima, a atriz que interpreta Amanda. Ela explica as intenções do programa:

Como surgiu o programa da Amanda?
Letícia Lima – Na verdade, eu já tinha a ideia de fazer uma personagem machista há algum tempo. E acabou rolando no nosso site de humor, e dando mais certo do que imaginávamos.
Sempre temos alguma inspiração na vida real. Essa é a graça da Amanda… Existem mil iguais e isso só pode ser um esquete, de tão absurdo e ridículo que é.

É objetivo do programa criticar um certo tipo de discurso feminista?
O problema é que qualquer discurso feminista se aproxima muito do discurso machista, obviamente por defenderem a mesma coisa: que a força penda para um dos lados. Isso é sexismo e não pode acontecer jamais. E com certeza a Amanda faz uma crítica sarcástica a esses dois movimentos igualmente radicais.

Você considera a sociedade brasileira hoje machista?
Com certeza. Mas a diferença hoje é que o espaço para qualquer mulher existe de verdade. E, infelizmente, criticar o machismo da sociedade ainda parece ser a melhor desculpa para várias delas.

Muita gente considera o feminismo ultrapassado. Você concorda com isso?
O feminismo é uma coisa ultrapassada, pois perdeu toda a sua razão de ser quando as mulheres conseguiram se estabelecer na sociedade machista. Hoje em dia elas têm os mesmos direitos que os homens. A luta delas já está ganha. Atualmente elas sofrem como qualquer outro ser humano. Homens também sofrem vários abusos, crianças também. Mas a questão é que não precisamos mais de leis que nos tornem iguais, precisamos fazer com que as leis existentes sejam cumpridas. A luta das mulheres hoje é a luta de qualquer outro cidadão. Porque todos os cidadãos também têm seus direitos negados de alguma maneira na nossa sociedade atual.

Por que vocês escolheram o nome Amanda – Amélia seria uma escolha óbvia, não é mesmo?
Queria um nome que remetesse a uma pessoa bem jovem. Além de ter uma boa sonoridade. O cinza não é o novo preto? Amanda é a nova (literalmente nova) Amélia!
[Letícia tem 25 anos]

No programa, você ironiza as mulheres que fazem tudo pela boa forma. Como conciliar a crítica com a própria imagem de moça bonita?
O problema é que normalmente as pessoas associam as feministas e qualquer assunto ligado a machismo/feminismo a mulheres masculinizadas. Ou pensam que só mulheres mais velhas são vítimas de abuso. Eu quis colocar a Amanda como uma garota linda, arrumadinha e bem feminina para mostrar que a maioria das mulheres “machistas” são assim. E que mulheres jovens também sofrem abusos.

Qual está sendo o retorno do público sobre o programa?
O retorno do publico é absurdamente bom. Muito se fala sobre a tal polêmica das feministas. Mas, na verdade, são apenas umas 10 que fizeram o programa ser ainda mais visto! O público mesmo adora a Amanda. E essas 10, são justamente as que não entenderam a ironia. Ou elas entenderam, mas é mais fácil tentar levantar uma bandeira em cima de um pessoal pequeno da internet.

A Amanda tem um e-mail para receber as dúvidas das leitoras (amandameajudaplease@hotmail.com). Vocês já chegaram a receber perguntas sérias para a Amanda?
Sim. E ficamos muito tentados a fazer um outro tipo de programa só para responder a essas perguntas. Algumas até bem tristes.

Você acha que, de alguma maneira, o programa incita atitudes machistas ou de violência à mulher?
Essa é a mesma questão dos filmes violentos. Se a questão é que uma pessoa repete na vida o que ela viu na tela, vamos abolir qualquer filme de ação ou violência. Porque quando alguém descobrir que armas servem pra atirar em outras pessoas… Aí, ferrou! Isso é um absurdo! As pessoas pensam por si próprias, e se um cara bate na namorada enquanto vê a Amanda, ele já batia nela antes. Na verdade, qualquer coisa seria estopim pra ele bater na namorada porque, no caso, ele é maluco!

E aí, depois de ver o programa e ler a entrevista, você acha que a polêmica tem razão de ser?

Eu dei risada quando vi o programa. Com seu humor escrachado e politicamente incorreto, ele me fez pensar que muitas mulheres acabam se sujeitando a muitas coisas (mesmo que não seja violência física, mas moral) só para continuar num relacionamento. E você, o que pensou?

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