ARGENTINA – Mulheres em foco, um festival sobre elas

Por Marcela Valente, da IPS

Buenos Aires, 14/5/2010 – Com uma entusiasta resposta do público, foi realizado este mês, na capital da Argentina, o Primeiro Festival Internacional de Cinema e Mulher pela Igualdade de Gênero, no qual foram apresentados filmes de quase 40 países. Suas organizadoras pretendiam tornar visíveis os problemas da mulher, sensibilizar o público sobre o debate a respeito da desigualdade entre os sexos, e incentivar o diálogo intergênero. E, ao fazerem um balanço para a IPS, consideraram ter alcançado o objetivo.

“O resultado foi mais que positivo”, disse a diretora artística do Festival, Cynthia Judkowski. “Tivemos enorme participação de público feminino e masculino nas salas e nos debates, e ficou gente de fora”. O Festival, cujo tema foi “Mulheres em Foco”, aconteceu entre 5 e 10 deste mês, em seis locais de Buenos Aires que funcionaram como salas ou espaços para o debate. Também houve uma retrospectiva e um seminário de roteiro, direção e produção.

A ideia foi convocar realizadores para participar com trabalhos que abordassem o tema da mulher vinculado à saúde, às migrações, às práticas culturais, à violência, desigualdade, participação política, diversidade sexual e à vida familiar. “Foram apresentados mais de 200 filmes e selecionamos 68, dos quais cinco participaram da competição de longa-metragem e seis da de curtas”, disse a coordenadora.

“Cholita Libre”, documentário da alemã Rike Holtz sobre imigrantes bolivianas, foi o premiado entre os longas. O júri destacou que o filme, além de se aprofundar nas principais questões para o festival, o faz com rigor e bom humor, com precisão e beleza estética. O segundo prêmio foi para “Tambores de Água”, da venezuelana Clarisa Duque, que reflete a forma de vida das mulheres afrodescendentes de comunidades do centro costeiro da Venezuela.

Entre os curtas, os destaques foram “Ana e Mateo”, da argentina Natural Arpajou, e “Il Corpo della Donna”, dos italianos Lorella Zanardo e Marco Malfi. Durante o Festival, foram apresentados trabalhos de Brasil, Alemanha, Argélia, Argentina, Bolívia, Canadá, Costa Rica, Cuba, Dinamarca, Equador, Egito, Estados Unidos, França, Holanda, Índia, Itália, México, Nicarágua, Peru, Polônia, África do Sul, Suécia, Uruguai e Venezuela, entre outros.

Entre os filmes de realizadores foram apresentados “Claroscuro”, da costarriquenha Ana Faerrón, sobre um grupo musical de mulheres, “Fim do Silêncio”, da brasileira Thereza Jessouroun, sobre aborto inseguro, e “Memória à deriva”, da canadense Pauline Voisard. Também houve exibição de filmes de diretores que abordam temas com perspectiva de gênero, como “Lieja 4-Ever”, do sueco Lukas Moodysson, ou “Antigos Sonhos de Mulheres Kichwas”, do equatoriano Santiago Carcelén Cornejo.

Duas mulheres e um homem integraram o júri de cada seção da competição. Também houve uma retrospectiva da cineasta espanhola Helena Taberna, diretora de “Yoyes” e de “La Buena Nueva”, entre outros trabalhos. A própria realizadora deu um seminário sobre roteiro, produção e direção.

Os debates abordaram temas como tratamento à mulher nos meios de comunicação e a violência machista. Também houve um encontro de realizadores sensíveis a impulsionar a igualdade de gênero e os direitos humanos. “O objetivo foi gerar um espaço de encontro para discutir e promover produtos audiovisuais feitos por diretoras e diretores que tratem de temas de gênero e direitos humanos”, disse Judkowski. No médio prazo, a ideia é estimular a realização de cinema comprometido com a perspectiva de gênero e de direitos humanos.

Habitualmente, os festivais que focam no olhar das mulheres têm um universo temático amplo e exibem filmes feitos exclusivamente por realizadoras. O festival de Buenos Aires foi organizado ao contrário: o foco temático dos filmes se circunscreveu em questões relativas à perspectiva de gênero, mas em trabalhos realizados tanto por homens quanto por mulheres.

As organizadoras, um grupo de diretoras e profissionais independentes, contaram com apoio de diversas instituições locais e internacionais e pretendem repetir o Festival a cada ano em Buenos Aires, e replicar a experiência em outras partes do mundo. “Estamos convencidas de que a prática artística transforma e é revolucionária na medida em que modifica o espaço e o tempo gerando novas situações que desafiam as relações sociais de dominação”, afirmaram. IPS/Envolverde

(IPS/Envolverde)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *