"Mães de Maio" veem elo entre ataques na Baixada Santista e onda de violência de 2006

Camilla Rigi, do R7

Associação de parentes fará protesto na quinta-feira (13) no centro de São Paulo

 

Há quatro anos, todo dia 15 de maio é lembrado com tristeza por Débora Maria da Silva. Moradora de Santos, no litoral sul paulista, ela perdeu o filho em 2006 durante a onda de ataques do crime organizado no Estado de São Paulo. Neste ano, Débora tem mais um motivo para lamentar. Ela diz acreditar que os recentes homicídios ocorridos na Baixada Santista têm a mesmas características dos ocorridos há quatro anos.

– É o mesmo modus operandi, com pessoas encapuzadas. Os crimes deram tão certo, que eles continuaram.

Débora é a líder da Associação de Mães e Familiares Vítimas da Violência e do Movimento das Mães de Maio. Ela defende, juntamente com outras mães que perderam os filhos em 2006, a reabertura das investigações. Para Débora, há indícios de participação de policiais tanto nas mortes de quatro anos atrás quanto das recentes.

– Naquele período, a polícia matou e a sociedade aplaudiu.

Sobre a onda de violência na Baixada Santista, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que “as investigações estão em andamento e que a secretaria não descarta nenhuma possibilidade”. A pasta não se manifestou sobre as declarações de Débora.

Segundo dados do Cremesp (Conselho Regional de Medicina), 493 pessoas morreram, vítimas de arma de fogo, em todo o Estado de São Paulo na semana de 12 a 20 de maio de 2006 – 47 eram agentes de segurança pública. Os crimes começaram com os ataques de uma facção criminosa que atua nos presídios paulistas a bases policiais que provocaram reação da polícia.

Débora lembra que as mortes de civis foram na maioria de pessoas pobres que viviam na periferia e não foram devidamente investigadas.

– De manhã, meu filho varreu a rua onde ele morreu à noite.
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O filho dela, Edson Rogério Silva dos Santos, foi morto com cinco tiros na noite do dia 15 no Morro da Nova Cintra. Segundo Débora, trabalhava arduamente como gari na cidade. Ele tinha uma condenação em 1997 por roubo.

– Ele estava com a boca machucada e foi trabalhar naquele dia.

O movimento agora luta para que as mortes não fiquem impunes e pede que a Polícia Federal investigue os casos.

Levantamento feito pela reportagem do R7 mostra que ao menos dez casos chegaram à Justiça. Em apenas dois deles havia civis entre as vítimas. Nos outros, os mortos eram policias, guardas civis ou agentes penitenciários.

Manifestação

Na próxima quinta-feira (13), as Mães de Maio farão uma manifestação na praça do Patriarca, na região central de São Paulo, justamente para pedir a federalização dos crimes. Segundo Débora, as participantes vão estar de caras pintadas com cruzes com as fotos das vítimas.

O protesto está marcado para começar às 14h. Depois, os manifestantes devem fazer uma passeata pelo centro de São Paulo. Débora contou que, infelizmente, muitas mães não devem participar do ato pois estão muito deprimidas.

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