Escritora revela experiência de mulheres no Opus Dei

Jornal de Jundiai (2/5/2010)

Viviane Lovatti Ferreira Brolezzi, 32 anos, casada, mãe, pedagoga, doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), é a autora do livro O Opus Dei e As Mulheres, no qual reúne sete depoimentos femininos sobre os bastidores da controvertida instituição católica.

 

O que a levou a escrever o livro?
Viviane- Em 2003, conheci meu marido e nos casamos. Mesmo sendo católica, jamais tinha ouvido falar do Opus Dei. Aos poucos, ele foi me contando sua experiência na instituição. Mas tudo ficava restrito a comentários isolados. Em 2004, a repercussão do livro O Código Da Vinci incentivou a publicação de relatos de ex-membros que resolveram escancarar a vida secreta do Opus Dei. Foi o caso do livro Opus Dei – Os Bastidores (Jean Lauand, 2005), primeira obra brasileira escrita por ex-numerários (espécie de seguidores). Logo em seguida, o livro Opus Dei – a Falsa Obra de Deus (Betty Silberstein, 2005) trouxe à tona questões cruciais da instituição. Em 2006, foi a vez do meu marido, que publicou Memórias Sexuais do Opus Dei (Panda Books). Num tom confessional, relatou as memórias do período em que passou na instituição (dez anos). Seu livro buscou revelar o universo masculino do Opus Dei e a vida celibatária do ponto de vista de um jovem numerário. Foi nesse período que resolvi recolher depoimentos de mulheres que tiveram uma experiência direta ou indireta com a Obra.

Como foi o contato com essas mulheres?
Viviane-Conhecia apenas a Betty Silberstein, que já havia escrito seu livro, por ser mãe de um numerário que ainda está na instituição. Por meio dela e de indicações de ex-numerários e ex-numerárias, fui recolhendo esses depoimentos. No início, pensava em apenas reunir os depoimentos de mulheres que viveram no Opus Dei. Mas depois comecei a observar a riqueza dos relatos daquelas que também sofreram uma interferência indireta do Opus Dei em suas vidas. Posso afirmar que não foi uma tarefa fácil, pois, ao propor o desafio, muitas não estavam preparadas para falar sobre o assunto, ou não queriam se expor. A Sonia Menezes foi a única que, ao sair da instituição, começou a registrar suas memórias, ainda nos anos 1970, e guardou esses registros por anos.

Em pleno século 21 há mulheres que se submetem a sacrifícios como flagelação com cilício. Qual o argumento usado pelos seguidores do Opus Dei para justificar isso ?
Viviane-Todo e qualquer tipo de sofrimento deve ser oferecido a Deus, e todos esses artifícios servem para isso. Portanto, para uma jovem é natural dormir sobre tábuas, ou tomar banhos frios, ou flagelar-se com cilício. Tudo faz parte da mortificação.

Homens e mulheres são tratados de formas diferentes?
Viviane- Sim. Para começar, homens e mulheres vivem em casas separadas. Essas casas são conhecidas como centros culturais. Aqueles que não conhecem a instituição, nem imaginam que lá moram moças ou rapazes que dedicam suas vidas à instituição, apesar de trabalharem, estudarem e terem uma vida aparentemente normal. Nos centros femininos, moram apenas mulheres. Nos masculinos, moram rapazes e também algumas numerárias auxiliares que estão ali apenas para cumprir os serviços domésticos. Porém, eles nunca se veem ou sequer se falam.

O Opus Dei não permite o planejamento familiar, o uso da pílula?
Viviane-O Opus Dei não permite que o casal evite filhos por meio de métodos contraceptivos, tais como pílula, camisinha, DIU. A tabelinha é o meio indicado, e o sexo serve para fins reprodutivos, e não de prazer.

Como as sete mulheres ouvidas saíram, emocionalmente, dessa experiência?
Viviane- A Sonia e a Rosidalva, por exemplo, saíram de lá com muitos problemas. A Sonia relata que chegou a tentar o suicídio, achava que a vida não tinha mais volta, pois essa foi uma experiência que mexeu com sua vida, principalmente porque na época ainda era uma adolescente. A Rosidalva também não esqueceu o massacre pelo qual passou. Com a publicação de todas essas obras que revelam o Opus Dei, esperamos que as pessoas possam tomar conhecimento do verdadeiro caráter da instituição. Até alguns anos atrás, isso era muito difícil, pois não havia informação sobre o tema, não havia internet e nem livros.

 

fonte: CCR (www.ccr.org.br)

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