HORA DO SEXO: O Ministério adverte. Mas cinco é demais?

 Renata Mariz – CORREIO BRAZILIENSE

Pesquisas mostram que a média nacional está distante do que propôs o ministro da Saúde: são duas a três relações sexuais por semana. E ainda há quem ache o número inflacionado

 

sexo-tabelaA receita está prescrita: sexo cinco vezes por semana para garantir uma saúde de ferro. Quando disse, recentemente, que os hipertensos deviam ter mais relações para combater a doença, o ministro José Gomes Temporão não estava brincando. A ciência já provou que esse é um ótimo remédio para diversos problemas — do estresse aos males cardiovasculares. Quatro pesquisas sobre o assunto cruzadas pelo Correio mostram que o brasileiro se “exercita” na cama de duas a três vezes por semana. Embora menos que o recomendado pela maior autoridade da Saúde no país, a frequência não ofusca a fama de povo caliente. Em nível internacional, o país está em segundo lugar entre os que mais têm relações sexuais. Mas deixa a desejar no quesito sexo seguro.

Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) da Universidade de São Paulo e autora das pesquisas mais abrangentes já feitas no Brasil, sentencia: “Não existe frequência ideal. Depende de cada casal. O importante é que haja um consenso”, afirma. Na literatura científica, porém, a média perfeita para proporcionar todos os benefícios associados à saúde varia entre três e quatro vezes por semana, de acordo com a psicóloga e sexóloga Carla Cecarello. Coordenadora do projeto Ambulatório de Sexualidade, que presta orientação e consultas, principalmente à população mais carente, ela destaca que a vida real é bem diferente dos livros. “Tenho minhas dúvidas sobre essa média nacional de duas a três vezes. O que percebo, no dia a dia, são casais com um ritmo bem menor”, provoca Carla.

Entre casais jovens que moram juntos, entretanto, a quantidade de relações pode até chegar a quatro por semana, conforme aponta a pesquisa Mosaico Brasil, que ouviu 8 mil pessoas em 11 capitais do país. A frequência, entretanto, não tem relação direta com felicidade e bem-estar. “Há casais que fazem sexo todos os dias e não se entendem, outros mantêm uma relação a cada quinze dias e se dão muito bem”, afirma o ginecologista especializado em terapia sexual Amaury Mendes Júnior. Segundo ele, diferentemente de qualquer outro animal, o homem não se relaciona apenas para reproduzir. “A fêmea humana é capaz de copular em qualquer período do mês. Portanto, o bem-estar consequente de um relacionamento também está ligado a aspectos como aceitação, partilha e cumplicidade”, ressalta.

São esses os ingredientes do casal Leya e Rogério. A família Marinho, unida há seis anos, passou por uma série de mudanças, inclusive na vida sexual, recentemente, quando Maria Eduarda nasceu. “A rotina se altera radicalmente, especialmente para a mulher, porque você precisa se dedicar à criança. À noite, estamos exaustas”, conta a servidora pública de 41 anos. Porém, com o crescimento da filha, prestes a comemorar o segundo aniversário, o casal retoma o dia a dia de antes. “Agora já podemos deixá-la com alguém quando queremos sair. Dá para viajarmos a dois. Tudo isso ajuda a apimentar a relação. Não acho impossível manter a frequência recomendada pelo ministro. Mas digamos que três vezes por semana está bom”, brinca Leya, ao lado do marido, de 46 anos.

Traição
Cinco, três, uma. Não importa o número de vezes, desde que feito com prazer — ressalta Amaury Mendes Júnior —, a melhora no bem-estar é garantida. “Quando você mantém uma relação sexual, queima calorias, libera hormônios, como dopamina e oxitocina, ligados à sensação de felicidade, acelera o fluxo sanguíneo, fortalece a imunidade”, enumera o médico. Durante o orgasmo, o nível de oxigênio no cérebro é semelhante ao detectado numa caminhada de 1,5 km durante 20 minutos. Não por acaso a Organização Mundial da Saúde elencou o sexo entre os quatro fatores que garantem uma boa qualidade de vida. Os outros três são convivência em família, um trabalho satisfatório e lazer.

Tantas recomendações, porém, podem ser descartadas se o sexo é feito de forma insegura. No Brasil, segundo país onde as pessoas mais transam, entre 26 nações pesquisadas pela multinacional fabricante de preservativos Durex, a utilização da camisinha é baixa. Metade dos homens casados, por exemplo, não se protege. O índice entre as mulheres é ainda pior: 71%. São os solteiros que mais se preocupam. A taxa dos negligentes, nesse grupo, varia entre 18% e 34%. Entre as pessoas com relações estáveis no Brasil, 16% admitem trair o parceiro. Pior é que quase 60% dos homens e 75% das mulheres afirmam que não usaram preservativo na ocasião, de acordo com dados do Ministério da Saúde.

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