BBC Brasil
O Vaticano anunciou nesta sexta-feira a renúncia do bispo da cidade belga de Bruges, Roger Vangheluwe, que confessou ter abusado sexualmente de um jovem durante anos.
O belga Vangheluwe é o quarto bispo a deixar o cargo nesta semana.
Após anunciar a saída de Vangheluwe, o Vaticano divulgou a carta na qual o prelado havia pedido para deixar o cargo, confessando os abusos cometidos.
“Quando eu ainda era um simples sacerdote, e por um certo tempo no inicio do meu episcopado, abusei de um jovem no meu ambiente próximo. A vítima ainda está marcada. Durante as últimas décadas reconheci minha culpa diversas vezes e pedi perdão a ele e a sua família. Mas isto não trouxe paz a ele e nem a mim”, escreveu o religioso, que foi nomeado bispo de Bruges em 1984.
Na carta ao Vaticano, o ex-bispo admitiu que a série de casos de abusos divulgada pela imprensa agravou a situação e o levou a pedir demissão do cargo.
“A tempestade midiática destas últimas semanas reforçou o trauma. Não é possível continuar nesta situação. Sinto profundamente pelo que fiz e peço sinceras desculpas à vítima, à sua família e a toda a comunidade católica e à sociedade em geral. Pedi demissão ao papa Bento 16, que foi aceita nesta sexta-feira e por isso me retiro”.
Situação ‘grave’
Ao comentar o caso, o arcebispo de Bruxelas, monsenhor André Joseph Leonard, admitiu que a situação da igreja é grave e prometeu seguir no caminho da transparência.
“Estamos diante de um dia negro para a Igreja Católica, e nosso pensamento vai primeiro para a vítima e sua família. Não haverá mais silêncio e segredo. A Igreja Católica da Bélgica deseja aplicar as regras de transparência rigorosamente”, disse o prelado.
Na terça-feira o papa aceitou o pedido de demissão do John Favalora, arcebispo de Miami, acusado de ter protegido prelados que cometeram abusos sexuais em sua diocese.
O bispo de Augsburg, na Alemanha, Walter Mixa, acusado de maltratar crianças, saiu na quinta-feira e no mesmo dia, o papa Bento 16 aceitou a demissão de James Moriarty, bispo de Kildare e Leighlin, na Irlanda.
Mixa enfrentava a acusação de ter batido em crianças num orfanato católico. Moriarty era acusado de ter acobertado abusos sexuais cometidos no passado por sacerdotes da diocese de Dublin.
Segundo o cardeal Walter Kasper, um dos principais colaboradores do papa Bento 16, esta série de saídas de bispos acusados de ter cometido abusos sexuais contra menores ou de tê-los acobertado, é o resultado a política de tolerância zero anunciada pelo papa.
“É a Igreja Católica que faz limpeza em seu interior, que se purifica e pede perdão. É a resposta concreta a um drama grave como a pedofilia, que atingiu tantas vítimas inocentes por culpa de sacerdotes que traíram sua promessa de servir a Deus ajudando os mais fracos”, afirmou o cardeal alemão em entrevista ao jornal italiano La Repubblica.
‘Sem fundamento’ Nesta sexta-feira, um advogado do Vaticano definiu como “sem fundamento” a denúncia contra o papa Bento 16 apresentada pelo advogado de uma vítima de abusos cometidos pelo padre Lawrence Murphy, da diocese de Wisconsin, nos Estados Unidos.
Murphy é acusado de ter cometido abusos sexuais contra mais de 200 crianças com deficiência auditiva durante um período de 24 anos.
Segundo reportagem publicada pelo jornal americano The New York Times em março, o Vaticano tinha conhecimento das denúncias de abuso contra Murphy, mas não tomou nenhuma atitude a respeito.
O advogado da vítima, Jeff Anderson, denunciou o papa Bento 16, o atual Secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone e seu predecessor, cardeal gelo Sodano.
“Ações legais legítimas foram feitas por vitimas de abusos, mas esta não é”, afirmou o advogado do Vaticano nos Estados Unidos, Jeffrey Lena, em nota divulgada pela Santa Sé.
“(A denúncia) representa uma tentativa de usar os trágicos eventos como plataforma para um ataque mais amplo, apresentando a Igreja Católica como uma empresa de negócios mundial”, completou.
O advogado da Santa Sé afirmou que os casos apresentados na denúncia contra a Santa Sé são “velhas teorias já rechaçadas pelos tribunais dos Estados Unidos”.