Surdo-mudo acusa Bento 16 e outros religiosos de terem acobertado pedofilia
Um homem que diz ter sido abusado sexualmente por um padre quando era jovem denunciou nesta quinta-feira (22) nos Estados Unidos o papa Bento 16 e os cardeais Angelo Sodano e Tarcisio Bertone, que atualmente é secretário de Estado do Vaticano, por terem acobertado crimes de pedofilia.
Ele apresentou a ação em um tribunal federal de Milwaukee, no Estado de Wisconsin. Ao processo foram anexadas duas cartas, enviadas pela vítima a Sodano, na época secretário de Estado da Santa Sé, cargo que ocupou por cerca de 15 anos.
Em uma das mensagens, o rapaz, que é surdo-mudo, perguntava se o então papa João Paulo 2º excomungaria o padre Lawrence Murphy, que “admitiu ter molestado 34 meninos surdos”.
A primeira carta a Sodano, datada de 5 de março de 1995, recordava ainda que os meninos “viviam em dormitórios sem possibilidade de fuga”.
“Eu sou um deles”, dizia o homem na carta.
Segundo a imprensa americana, Murphy é acusado de ter molestado ao menos 200 crianças surdas. Ao abordar o tema, a publicação americana The New York Times (NYT) também questionou a posição do papa, que na época comandava a Congregação para a Doutrina da Fé, órgão responsável por investigações do tipo.
O advogado da vítima, Jeff Anderson, deu uma entrevista coletiva sobre o tema.
– Queremos ações que protejam as crianças. Escolhemos citar o papa e os cardeais Sodano e Bertone porque estão no topo da pirâmide que pedia o sigilo.
Anderson disse ainda que “esse papa e os seus antecessores mantiveram o segredo”.
– Hoje falam de fazer certas coisas, mas as palavras não protegem, as ações que protegem. Por isso, sentimos ter que mover essa ação para constrangê-los a agir.
Advogado busca indenizações há anos
De acordo com o advogado, que há anos tenta obter ressarcimento para as vítimas de Murphy, o Vaticano e as suas hierarquias estavam “cientes das práticas seculares de abusos sexuais contra menores por parte de sacerdotes e religiosos”.
Segundo publicou o NYT no início do mês, em 1998, o Vaticano teria ordenado que o processo canônico contra Lawrence Murphy fosse paralisado devido ao “frágil” estado de saúde do acusado.
Anteriormente, a Santa Sé havia alegado que, quando soube dos casos, Murphy já era “idoso, estava em precárias condições de saúde, vivia em isolamento e por mais de 20 anos não tinham sido denunciados outros abusos”.
Em meio a diversas denúncias contra religiosos em vários países, a divulgação desta atingiu diretamente o papa, que já havia sido questionado por seu trabalho no período em que era arcebispo de Munique e Freising (1977-1982).
Ontem, durante a audiência geral, o papa falou sobre os abusos cometidos contra crianças e reiterou sua “dor” e “sofrimento” diante de tais episódios. Ele também afirmou que a igreja agirá contra tais crimes.