Padre abusou de coroinhas

Carlos Madeiro
Especial para o UOL Notícias – Arapiraca (AL)

ALAGOAS – Em depoimento à CPI, padre admite abuso sexual a ex-coroinhas e pagamento de sexo com dízimo


O padre Edílson Duarte admitiu neste sábado (13) em depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pedofilia, em Arapiraca (AL), que abusou sexualmente de ex-coroinhas. Acareado com três adolescentes, ele reconheceu que praticou sexo com dois deles –ainda menores de idade– e pagou algumas vezes os jovens com dinheiro da oferta dada pelos fiéis à Igreja.

Depois de várias negativas de ser homossexual e de abusos sexuais, ele acabou reconhecendo quando os ex-coroinhas Cícero Flávio Vieira Barbosa, Fabiano Silva Ferreira e Anderson Farias Silva foram chamados ao plenário para acareação. “Sim, tive relações sexuais com dois deles. Menos com o Anderson”, disse, para espanto dos presentes ao Fórum da cidade.

O ex-coroinha Fabiano afirmou que teve a primeira relação com o padre aos 16 anos, na catedral da cidade. “Ele perguntou minha idade e mesmo assim praticou o ato”, disse, o que foi confirmado pelo padre.

“Às vezes eles nos dava cinco, 10 reais. Era um cala boca para que a gente não contasse, como se fossemos garoto de programa”, afirmou Cícero Flávio.

O senador Magno Malta perguntou se o dinheiro que ele deu aos jovens se tratava de dízimo e contribuição de fiéis nas missas. “Olha para eles [fiéis presentes ao Fórum]. O senhor pagou o dinheiro do dízimo deles para pegar no pênis deles?”, perguntou o senador. “Sim”, respondeu o padre, baixando a cabeça em seguida.

Diante da manifestação do público, o senador Magno Malta (PR-ES), presidente da CPI, pediu calma às cerca de 200 pessoas que acompanhavam o depoimento. “Peço que as pessoas não se manifestem, que isso é uma coisa séria. Ele é humano, erra e é digno da misericórdia. Ele não tem como mentir e está em total desvantagem”, afirmou.

O padre ainda respondeu que “pode ser” que tenha abusado de outros adolescentes. “Crianças, não. Mas adolescentes, podem aparecer”, confirmou.

Constrangido com a situação, ele chegou a rogar pelo perdão de Nossa Senhora. “Se Nossa Senhora entrasse ali agora, diria: ‘perdoa os seus filhos que têm pecados’. A Igreja nunca erra, só as pessoas”, disse.

Após as declarações, o senador e integrantes do Ministério Público Estadual (MPE) ofereceram ao padre o benefício da delação premiada para que ele conte o que sabe sobre o abuso a crianças e adolescentes de outros padres.

A sessão foi suspensa para que Edílson relatasse, em particular, detalhes sobre o suposto esquema de pedofilia na cidade.

Monsenhor admite sexo com coroinha, se compara a Jesus e diz que bispo sabia dos casos
Carlos Madeiro
Especial para o UOL Notícias
Em Arapiraca (AL)

O monsenhor Luiz Marques Barbosa reconheceu que manteve relações sexuais com um ex-coroinha, mas negou a prática de pedofilia. Ele prestou depoimento na tarde deste domingo (18) a integrantes da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pedofilia, no Fórum de Arapiraca (AL), pediu “perdão pelo pecado” e se comparou a Jesus Cristo. “Renova-se em mim o que ouvi na Sexta-feira Santa, que foi Jesus dizendo: ‘tiraram minha roupa, cuspiram sobre mim e me crucificaram’. É isso que estou passando”, relatou, para, em seguida, pedir perdão aos presentes ao depoimento. “Queria pedir que atendessem ao meu clamor: perdoem-me! Já me confessei a Deus também”.

 

CPI da Pedofilia

O monsenhor foi flagrado em vídeo fazendo sexo com o ex-coroinha Fabiano Silva Ferreira, à época com 18 anos. As imagens foram exibidas ao público durante o depoimento. “Foi o único ato que pratiquei”, alegou.

Barbosa foi o segundo pároco a reconhecer as denúncias de abuso – neste sábado (17), o padre Edílson Duarte reconheceu que fez sexo com adolescentes.

O monsenhor voltou a fazer comparação com Jesus em momento do depoimento, ao ser dizer traído pelos ex-coroinhas. “Lamento que essas acusações tenham partido de pessoas que comeram na minha mesa, assim como Jesus disse: ‘eles que comeram do meu pão é que me traíram’. Eles estão aqui na minha frente e, não sei se por fraqueza, agora eles me atiram pedras”, disse.

Luiz Marques ainda confirmou que tinha informações de que o padre Edílson Duarte abusava de crianças e adolescentes na casa paroquial e que tomou as providências cabíveis. “A gente sabia que ele fazia essas coisas uma ‘vezinha’ ou outra. Eu dava conselhos a ele. Não o afastei porque não sou o bispo, mas ele [Dom Valério Brêda, bispo de Penedo] foi informado”, confidenciou. “Vamos convocar o bispo então”, adiantou o senador Magno Malta, presidente da CPI da Pedofilia.

O senador Magno Malta ainda apresentou, durante o depoimento, cerca de 15 garrafas de bebidas alcoólicas apreendidas um dia antes na casa do monsenhor – que instantes antes tinha negado ter oferecido bebidas a coroinhas. “Também foi encontrada creme vaginal, monsenhor. Para que o senhor quer?”, questionou Malta. “Não é meu. Deve ter sido a minha irmã ou uma visita que esqueceu”, respondeu o monsenhor, dizendo ser “normal oferecer bebidas às visitas”.

Denúncias

O depoimento foi marcado por denúncias de supostas vítimas. O ex-coroinha Cícero Flávio Vieira Barbosa alegou que teve a primeira relação sexual com o monsenhor aos 12 anos de idade, na casa paroquial de São José. “Tive inúmeras relações com ele”, alegou.

Em depoimento à CPI, padre admite abuso sexual a ex-coroinhas e pagamento de sexo com dízimo
Fabiano também relatou que começou a ser abusado sexualmente pelo monsenhor aos 12 anos de idade. “Ele pediu para entrar no escritório dele, pediu para sentar e perguntou sobre minha família, tentou beijar a boca, pegando na minha genitália. Ele viu que estava apavorado e me deixou ir. Mas depois foi insistindo e acabei cedendo”, alegou.

Como recompensa por ser “bom coroinha”, o monsenhor teria pago um ano de mensalidade em colégio particular da cidade. “Além disso, ele tirava dinheiro do dízimo, 10, 15 reais para nos dar”, contou aos membros da CPI e da Polícia Civil, que também acompanham o depoimento.

Em sua defesa, o monsenhor alegou que manteve relação sexual com Fabiano, mas apenas quando ele tinha mais de 18 anos e de forma consensual. “Não sou pedófilo. A pessoa que esteve ali comigo quis manter aquele contato. O vídeo é a única prova que têm”, relatou.

Outro monsenhor nega

Primeiro a depor neste domingo, o monsenhor Raimundo Gomes negou qualquer envolvimento com crianças e adolescentes e afirmou ser vítima de uma “vingança”. Ele alegou ainda que ex-coroinhas tentaram o extorquir. “O Anderson [Farias Silva, ex-coroinha] vivia me procurando para dizer que, se não desse dinheiro, iria divulgar o vídeo [em que o monsenhor Luiz Marques Barbosa aparece fazendo sexo com um adolescente]. Sou padre por vocação, por amor a Deus, à Igreja e aos meus irmãos. Sempre tive respeito a meu povo e, sobretudo, aos coroinhas. Nunca abusei, nunca peguei em órgão genital de coroinha em altar, como me acusam”, disse.

Acompanhado da família, o coroinha Anderson relatou que teve o primeiro contato sexual com o monsenhor aos 14 anos, na casa paroquial. “Ele se tornou muito amigo da minha família e, um certo d

ia, pediu para que dormisse na casa dele porque disse que tinha medo de dormir só. Aí comecei aí e ele começou a me assediar e praticar sexo”, afirmou.

No momento mais tenso do depoimento, houve bate boca entre familiares do ex-coroinha, depois que o monsenhor alegou que a família estava mentindo e pediu que Deus rogasse “misericórdia pela mentira deles”. Outro ex-coroinha, Cícero Flávio, também assegurou ter mantido relações sexuais com o monsenhor inúmeras vezes.

O senador Magno Malta ainda argumentou que uma gravação apresentada à Polícia mostra o padre Edílson Duarte falando ao ex-coroinha Cícero Flávio que “o monsenhor Raimundo gosta de menino novo”. “Todos conhecem o padre Edílson Duarte, que ele fala demais, é desmiolado”, rebateu o monsenhor.

O padre Edílson Duarte, que foi chamado para uma acareação, confirmou a versão apresentada pelos ex-coroinhas e, em seguida, pediu proteção policial. “O monsenhor Raimundo é muito perigoso”, alertou.


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