De que adianta proibir as pulseiras do sexo?

RUTH DE AQUINO – revista Época

Mais um bode que se tira da sala… de aula. As pulseirinhas coloridas de silicone que sugerem o desejo de abraçar, beijar e fazer sexo estão proibidas nas escolas de várias cidades do Brasil. Prefeitos, juízes, secretários de Educação e deputados abriram guerra contra o adereço. Argumentam que a moda da pulseirinha incita ao abuso e ao estupro. A pergunta é: adianta? Ou o veto desmascara o óbvio? Adultos – pais e professores – não têm mais ideia de como educar sexualmente crianças e adolescentes.

 

Pera, uva, maçã e salada mista. Eu brinquei muito, você talvez tenha brincado, dependendo de sua idade. Claro, era escondido dos pais. Os primeiros contatos íntimos não costumam ser assunto de conversa em casa. A não ser que a iniciativa parta dos pais. E as confidências só existem quando os filhos enxergam os pais como amigos, e não como monstros repressores. Mesmo assim, é difícil falar francamente, sem subterfúgios ou preconceito, sobre sexo.

Adolescentes saudáveis de qualquer geração sentem um desejo irrefreável de sexo. Tabus têm sido quebrados com velocidade absurda. Não faz muito tempo, rapazes tinham a primeira relação com prostitutas ou com a “menina fácil da rua que dava para todo mundo”. Moças sofriam com o dilema do hímen. Faziam quase tudo, menos… Tanto que a expressão era “perder a virgindade” – e não conquistar o direito ao prazer consciente.

O sexo hoje está escancarado, ao vivo e em cores, na tela dos computadores da criançada. Pais e escolas perderam totalmente o controle. Pré-adolescentes “aprendem” maneiras vis de encarar e praticar o sexo. Pedófilos encontram na rede vítimas que se apresentam a suas taras. Meninas de 10 a 15 anos postam no Orkut fotos sensuais, detalhes do corpo. Sem que a família saiba. Como preparar os filhos e os estudantes para um mundo em que o sexo se confunde cada vez mais com a pornografia?

Vamos então ter de banir minissaias, decotes, tudo 

o que transmita a sensualidade das meninas

Ah, já sei! Vamos proibir as pulseirinhas de sexo nas escolas. Ou proibir a venda (acreditam?). Elas surgiram na Inglaterra no ano passado e chegaram meses depois ao Brasil, mais como um jogo de pera, uva, maçã do que qualquer outra coisa. Amarela quer dizer abraço. Tranquilo. Branca significa “a menina escolhe o que quer fazer”. Essa deveria ser encorajada pelos educadores. Vermelha é dança erótica – a julgar pelos créus e rebolations em festas infantis, nem precisaria de pulseira. Roxa dá direito a beijo de língua. Verde: chupões no pescoço. Rosa: a menina mostra os seios. Azul: sexo oral. E preta, a mais sinistra. As líderes das turmas usam pulseira preta. Simboliza a disposição de fazer sexo.

Na quinta-feira passada, as pulseirinhas foram proibidas nas escolas municipais do Rio de Janeiro, de acordo com resolução no Diário Oficial. Em Manaus, em Maringá (Paraná), em Navegantes (Santa Catarina), os adereços coloridos já tinham sido banidos das salas de aula. O alarme foi dado por casos de estupro supostamente provocados pelo uso das pulseiras pretas, em Manaus e em Londrina, no norte do Paraná. O rapaz vê a pulseira, associa o colorido a seu significado e parte para reivindicar o que seria seu. Arranca a pulseira do braço da menina. E o ritual precisa ser concluído. Porque… Por que ela pediu?

Se pais, professores e políticos aproveitassem o recado das pulseiras para agir direito, não pagariam o mico de vetar “adereços que expressem insinuações sexuais” (como está escrito no Diário Oficial do Rio). Vamos então banir transparências, minissaias, decotes, tudo o que transmita a sensualidade das meninas mulheres. Ou é melhor parar para pensar como essa medida é inócua? Proibir dentro da escola, onde estupros são quase inexistentes, não vai livrar as meninas do risco de abusos por usar as pulseirinhas. O veto é um recurso autoritário para a sociedade se livrar de sua responsabilidade. De alertar, educar, conversar. O que é clandestino desperta mais interesse dos jovens.

Como escreveu a menina Mayara em linguagem de Orkut: “Eu acho qisso naum tem nada ver”. Se as pulseiras não são inocentes, nós, como sociedade, somos menos ainda. 

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