Por Brian Dalek*
Nova York, 5/4/2010 – A organização não governamental Global Girl Media vai capacitar sul-africanas pobres para que façam a cobertura jornalística da Copa Mundial da Fifa 2010, que acontecerá entre 11 de junho e 11 julho na África do Sul, e de passagem relatem histórias pessoais e de suas comunidades. A organização educativa, criada em 2009, treinará mulheres com idades entre 15 e 20 anos no manejo de meios de comunicação digitais com vistas à Copa do Mundo. O primeiro projeto, “Kick it Up!” (Chute Alto!), vai ensinar 20 jovens a informar sobre o torneio e as incentivará a contar suas próprias histórias de vida.
A capacitação estará a cargo de jornalistas, comentaristas e esportistas mulheres, que ensinarão tudo que se relaciona com a cobertura da Copa, desde a gestão de um blog até a edição de vídeos. O objetivo é dar um meio de trabalho a elas e uma forma de interagir com suas comunidades. A diretora-executiva da Global Girl Media, Amie Williams, também diretora e produtora cinematográfica, contou que teve essa ideia após a violação de uma adolescente queniana, com qual ela esteve ligada, uma semana depois das eleições presidenciais do Quênia, em dezembro de 2007.
Muitas organizações internacionais consideraram fraudulentas essas eleições. A jovem ficou refém do violento protesto de caráter tribal que eclodiu em Nairóbi. Como Williams conhecia a adolescente, com quem trabalhara por três anos, pediram a ela que regressasse ao Quênia para lhe dar apoio. O que chamou a atenção da diretora foi que uma das coisas que a jovem queria era relatar sua história diante da câmera. “Daí surgiu a ideia: e se pudéssemos dar câmeras às mulheres de todo o mundo”, contou a cineasta, que mora em Los Angeles. “Podem falar não apenas de violações, mas de esporte, maternidade ou simplesmente da adolescência”.
O programa da Global Girl Media pretende desenvolver um modelo que possa ser aplicado em outros países mediante a criação de oficinas comunitárias com plataformas multimídias para que as adolescentes se conectem à Internet. Podem conseguir fundos mediante subsídios e doações pelo site da organização. A Fundação Nike ofereceu um capital inicial de US$ 10 mil. Kgomotso Matsunyane, uma das poucas cineastas da África do Sul, será uma das tutoras do gigantesco bairro pobre para negros de Soweto, criado durante o regime de supremacia branca do apartheid que vigorou nesse país até 1994. Matsunyane disse que é possível que as adolescentes cresçam trabalhando com uma câmera.
A proporção de diplomados universitários é de 15% na África do Sul, entre as menores do mundo, segundo o Conselho de Recursos Humanos Científicos do país. Programas como o da Global Girl Media podem ajudar as mulheres a entrar na área da produção multimídia, dominado por homens. A maioria das jovens que Matsunyane conhece quer trabalhar diante da câmera. A organização permite que escolham o que querem apresentar, disse. “Procuro dizer que o que querem não é ser apresentadoras, mas escrever o roteiro e decidir o que acontece no filme. Aí está o verdadeiro poder. E não poderão divulgar a mensagem enquanto não derem a câmera a alguém”, acrescentou.
A norte-americana Julie Foudy, que ganhou duas medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de 1996 e 2004, será a porta-voz do projeto-piloto da Global Girl Media. Foudy, também capitã da equipe de futebol de seu país, será a única comentarista que viajará à África do Sul para cobrir o Mundial para a rede ESPN. O começo da Global Girl Media é semelhante ao desenvolvimento do futebol feminino no final dos anos 90, disse Foudy na cerimônia de lançamento do projeto, em Nova York. “Quero dizer às jovens que têm uma forma de se fazerem ouvir”, afirmou. “E não apenas dizer que têm voz, mas ensiná-las a encontrar a sua própria”, acrescentou.
O que as adolescentes produzirem na África do Sul será distribuído para vários meios de comunicação, com a ESPN, associada à Global Girl Media. Também será compartilhado em outros sites de conteúdo na Internet, como o YouTube e blogs gratuitos. “Estão para começar algo que pode ter um poder incrível. E não apenas na África do Sul”, insistiu Foudy. “A ideia é divulgar. É uma poderosa mensagem para enviar a outras adolescentes do mundo. Você também pode ter voz”, concluiu. IPS/Envolverde
* Especial para a IPS da NYU Livewire.
(IPS/Envolverde)