Juliana Braga, da UnB
Maria Amazonir, da etnia Fulni-ô, é a primeira aluna indígena a graduar-se na UnB. Ela recebeu o diploma de bacharel em Comunicação Social na última quarta feira, dia 17 de março. Amazonir está entre os 60 estudantes indígenas que entraram na UnB desde que o convênio com a Funai foi firmado, em 2004. Como jornalista, Amazonir pretende mudar a forma como os indígenas são tratados pela mídia.
Maria Amazonir entrou na UnB no primeiro semestre de 2004, por meio de transferência facultativa. Segundo ela, já trabalhava com Comunicação em sua aldeia, de forma amadora, organizando eventos e palestras para as crianças sobre conscientização dos seus direitos, mas não pensava em ser jornalista. “Era o que eu gostava de fazer e queria me profissionalizar nesta área. Mas a palavra ’jornalista’ parecia grande demais para a minha realidade. Quando mencionava, era ridicularizada pelos outros”, conta Amazonir.
Mas Amazonir não desistiu do que queria. Conseguiu ajuda de uma colega, que pagou cursinho para ela. Passou em uma faculdade particular, conseguiu fazer a matrícula com dinheiro emprestado, mas logo saiu o convênio da Funai com a UnB e a estudante conseguiu a transferência facultativa.
A estudante escolheu Jornalismo porque percebeu que havia pouco espaço para os povos indígenas na mídia e acreditava que isso se devia à falta de profissionais na área. Agora que se formou, quer dar continuidade ao trabalho que começou com seu projeto de conclusão de curso, um programa para debater questões indígenas sob o ponto de vista do índio. “Não é justa a forma de como os meios de comunicação e principalmente a televisão tratam a imagem do índio. Não somos mais dependentes, somos capazes de desenvolver qualquer função social e/ou cultural que o não-índio desenvolve”, defende.
O coordenador acadêmico dos Alunos Indígenas, Paulo Câmara, comemora a formatura de Amazonir. “É chato quando ouvimos que os índios não devem estar aqui, que universidade é só para a elite intelectual. Por isso é muito bom ver a Amazonir se formar com bom rendimento”, enfatiza.
A decana de Ensino de Graduação, Márcia Abrahão, que estava na colação de grau da aluna, acredita que a formatura de Amazonir representa a vitória da diversidade. Segundo ela, a ambientação dos alunos indígenas e o choque de cultura são desafios que ainda precisam ser contornados. “Mesmo assim, sentimos que estamos contribuindo para o desenvolvimento do país e, por outro lado, estamos ganhando, aprendendo com a cultura desses estudantes”, explica.
A UnB tem hoje 60 alunos indígenas, que entram por meio de convênio firmado entre a Funai e a UnB. A universidade disponibiliza as vagas, e a Funai oferece bolsas de permanência, que variam entre R$ 150 e R$ 900. Em 2004, quando a parceria começou, os estudantes ingressavam por transferência facultativa. Desde 2005, a seleção é feita anualmente por vestibular específico, que ano passado teve 162 inscritos para preencher dez vagas nos cursos de Agronomia, Enfermagem e Obstetrícia, Engenharia Florestal, Medicina e Nutrição.
(Envolverde/UnB Agência)