Por Violet Nakamba Mengo, da IPS
Lusaka, 24/3/2010 – A zambiana Naomi Mulenga está determinada a vencer todos os obstáculos para terminar os estudos e se formar enfermeira, apesar de ser mãe aos 13 anos de idade. Ela cria sozinha seu bebê de sete meses, porque o pai nega toda responsabilidade sobre o filho. Mulenga diz que sente amargura pela mudança em sua vida. Especialmente porque também é chefe de família desde a morte de seus pais, em 2007, cuidando do irmão e da irmã mais novos. A falta de orientação dos pais junto com a inexperiência sexual e a pressão dos colegas empurraram Mulenga para os braços de um homem jovem que lhe prometeu casamento, mas a engravidou e logo depois a abandonou.
Os professores da garota foram compreensivos e a incentivaram a frequentar as aulas até dar à luz, e voltar após o parto. Mulenga é uma das melhores alunas de sua classe na Escola Básica de Kanakashi, na Província Norte. Passar para a oitava série – que cursa atualmente – “me deixou feliz, mas também triste, porque não tinha dinheiro” para continuar indo à escola, recorda. Ela recebeu uma bolsa, para terminar o secundário e se matricular no terceiro grau, do departamento de Política de Reingresso de Meninas no sistema educacional, que se centra nas mães adolescentes. Também recebeu para seu filho um subsídio adicional, que se atende os setores mais pobres da população. Mulenga diz que trabalha muito duro para mostrar às outras meninas em situações semelhantes que ficar grávida não é o fim do mundo. Enquanto ela está na escola, sua irmã de seis anos cuida do bebê.
O vice-ministro da Educação, Clement Sinyinda, explicou que a Política de Reingresso tenta abordar as desigualdades de gênero que durante anos sofrem as meninas na hora de ter acesso à educação em Zâmbia. Até 1997, as moças grávidas eram expulsas das escolas nesse país, enquanto os adolescentes que se tornavam pais não eram responsabilizados. Os números sobre gravidez adolescente estão em constante aumento em todo o país, segundo o Departamento de Educação. Em 2005, foram registrados 9.111 casos de gravidez entre estudantes, e em 2008. esse número subiu para 12.370. Por outro lado, graças ao apoio financeiro oferecido pela Política de Reingresso e ao subsídio por filho, mais de um terço dessas mães adolescentes voltaram a estudar após darem à luz, segundo o departamento. “O Ministério tenta enfrentar seriamente os desafios das meninas que ficam grávidas enquanto estão na escola”, disse Sinyinda.
Além do apoio financeiro, as estratégias incluem orientação vocacional e psicológica em geral, bem como educação sexual, acrescentou Sinyinda. Entretanto, admitiu que embora a Política de Reingresso tenha ajudado a aumentar as matrículas das meninas nas escolas, conseguir o acesso universal à educação continua sendo um grande desafio, não só pela gravidez na adolescência como também por uma pobreza generalizada. Em 2008, o governo ofereceu bolsas a quase 95 meninos e meninas no país, da primeira à nona série. Metade foi concedida a meninas. Isto representa aumento superior a 10% nas bolsas desde 2005. “Oferecer uma bolsa para apoiar órfãos e outras crianças vulneráveis é outra intervenção para promover a participação de crianças que não podem pagar seus estudos”, disse o vice-ministro.
A secretária permanente do Ministério de Turismo, Meio Ambiente e Recursos Naturais, Lillian Kapulu, concorda que é preciso que a Política de Reingresso esteja combinada com um subsídio educacional mais geral, para dar a todas as crianças uma segunda oportunidade na vida. “Nas aldeias é difícil os pais conseguirem dinheiro para pagar escola e uniformes, por isso muitos obrigam os filhos a deixarem os estudos depois da sétima série”, disse. Apesar do apoio financeiro, muitas adolescentes continuam abandonando a escola, porque é difícil para elas equilibrar educação e as obrigações da maternidade, destacou Kapulu.
Porém, Mulenga confirma que a vida é mais forte do que todos os obstáculos. O subsídio de US$ 30 mensais a duras penas basta para cobrir as necessidades diárias de seus irmãos, do bebê e dela, diz. Para poder se alimentar, planta milho e verduras em um pequeno terreno junto de sua casa. Infelizmente, uma via adicional de apoio às mães adolescentes coordenada pela organização não governamental norte-americana Family Health Trust fechou no final do ano passado.
O programa de Saúde e Nutrição Comunitária, Apoio ao Gênero e à Educação funcionou nessa entidade durante três anos, e ajudou mais de 3.500 mães adolescentes a voltar para a escola, segundo o diretor de programas Kilby Lungu. Desde o fechamento do programa, “as meninas ficaram à mercê da administração escolar. Uma pequena porcentagem ficou sob patrocínio do governo, enquanto uma porcentagem maior se esforça para pagar a escola ou desistiu completamente de estudar”, afirmou. IPS/Envolverde
(IPS/Envolverde)