AFP
Papa pediu desculpas para vítimas de pedofilia na Irlanda, mas não anunciou punições
A Holanda calcula 1.100 casos presumíveis de abusos sexuais cometidos por membros do clero católico entre os anos 50 e 60, segundo denúncias recebidas desde o início de março, anunciou neste sábado (20) Pieter Kohnen, porta-voz da Igreja católica holandesa.
O anúncio holandês ocorre no mesmo dia no qual o papa Bento 16 emitiu uma carta com pedidos de desculpas a vítimas de padres pedófilos na Irlanda. O escândalo abalou o Vaticano e gerou uma série de denúncias e investigações em outros países, mas nenhuma punição aos responsáveis foi anunciada pelo líder religioso.
As denúncias foram feitas à comissão Ajuda e Direito, criada em 1995 pela Igreja para ajudar as vítimas, informou Kohnen.
A Conferência Episcopal e a Conferência de Institutos Religiosos da Holanda, em um total 190 instituições, anunciou na última terça-feira (16) a abertura de uma investigação independente sobre esses atos que teriam sido cometidos por membros do clero.
O preparo da investigação foi confiada ao ex-ministro de Educação, Wim Deetman, e o trabalho começará dentro de quatro a seis semanas.
No último fevereiro, foram reveladas denúncias sobre tais atos cometidos na década de 60 em um colégio da ordem dos salesianos de Don Bosco.
Papa diz que sente vergonha por pedofilia
No entanto, nenhuma das denúncias pode servir de base à abertura de instrução judicial, uma vez que o crime foi prescrito, disse Evert Boerstra, porta-voz do Ministério Público holandês. Boerstra afirmou:
– Quando se trata de abusos sexuais passíveis a uma condenação de dez anos de prisão, o crime prescreve em 20 anos.
Vítimas criticam resposta do
papa a abusos contra menores
Diretora de ONG diz que papa errou ao não pedir renúncia de cardeal irlandês
Os grupos de vítimas de abusos sexuais cometidos por padres pedófilos na Irlanda se declararam decepcionados com o conteúdo da carta divulgada neste sábado (20) em que o papa Bento 16 comenta o assunto.
Maeve Lewis, diretora-executiva da ONG One in Four, que apoia as vítimas, criticou a mensagem.
– Sentimos que a carta fica aquém [das expectativas] na hora de abordar as preocupações das vítimas.
Na opinião de Lewis, o principal alvo do papa na carta são os padres irlandeses do baixo clero.
Ela também achou que o pontífice, além de ter se esquecido de reconhecer a responsabilidade do Vaticano nos abusos sexuais contra menores cometidos na Irlanda e no resto do mundo, errou ao não pedir a renúncia do primaz da Igreja Católica irlandesa, o cardeal Sean Brady.
Outra vítima dos abusos sexuais, Andrew Madden, afirmou em nota que a carta "não aborda este assunto com total seriedade".
– O contexto é, certamente, inadequado, já que, por definição, uma carta pastoral é dirigida apenas aos católicos praticantes e, portanto, faz caso omisso de muitas outras pessoas que se viram afetadas por esta questão. Como prevíamos, a carta também não aborda nenhum dos assuntos que eu e outros grupos apresentamos no mês passado em nossa carta aberta ao papa.
O texto ao qual ele se refere, além de desculpas, pedia que o Vaticano reconhecesse sua culpa nos casos e que o papa aceitasse a renúncia de vários integrantes do alto clero irlandês, inclusive a do cardeal Brady.
– Uma carta pastoral não é a maneira de dar uma resposta aos relatórios de Ferns, Ryan e Murphy, que tratavam de violações, maus-tratos e abusos sexuais contra crianças cometidos por padres e religiosos neste país e que foram ocultados pelas autoridades da Igreja.