Difícil desenvolvimento sem planejamento familiar

Por Susan Anyangu-Amu, da IPS

Nairóbi, 19/3/2010 – Margaret Atieno, moradora da localidade queniana de Siaya, tem 38 anos e seis filhos. Quis evitar sua última gravidez, mas a habitual falta de dispositivos intrauterinos (DIU) no centro de saúde mais próximo não lhe deu outra opção a não ser ter mais um bebê. “Meu marido, que é polígamo e tem outras duas mulheres, não quer que nenhuma use anticoncepcionais. Assim, uma trabalhadora comunitária da saúde me disse que se colocasse o DIU meu marido nunca suspeitaria de nada. Mas quando fui ao centro de saúde, por três vezes, me disseram que não havia reservas” desse dispositivo, contou Atieno. Em sua quarta visita havia o DIU, mas não luvas. Assim, não puderam colocá-lo.
Atieno concebeu seu filho antes de sua visita ao centro de saúde. Ela disse que não queria ter mais filhos porque seu marido, sapateiro, já se esforça para poder manter os 13 que tem com as três mulheres. Vive em uma comunidade rural tradicional e não sabe quanto seu marido ganha, e apesar de a duras penas chegar ao fim do mês, nem Atieno nem as outras duas esposas têm permissão para trabalhar e ajudar em casa. “Meus dois filhos mais velhos, de 17 e 15 anos, estariam na escola secundária, mas tiveram de parar por falta de dinheiro. Conseguir dinheiro para alimentar e vestir meus filhos é uma luta diária, e muito mais enviá-los à escola”, queixou-se.

Especialistas em temas sociais reconhecem que a falta de planejamento familiar é uma das principais razões do aumento da pobreza que há em todo o Quênia. Um informe de novembro de 2009, da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), alerta que, nesse ritmo de crescimento demográfico, o Quênia não poderá impulsionar o desenvolvimento social. Se o país quiser conseguir a educação primária universal, a segurança alimentar, cuidados básicos de saúde para todos e reduzir as mortes de mães e bebês, os casais têm de formar famílias menores, disseram os pesquisadores da Usaid.

O governo também destacou o estreito vínculo entre pobreza e crescimento demográfico. Boniface K’Oyugi, presidente da Agência Coordenadora Nacional para a População e o Desenvolvimento, alertou para a necessidade de reduzir em pelo menos um terço o rápido aumento da população queniana, de 3% ao ano. “Nos países industrializados, as pessoas têm um ou dois filhos, mas aqui uma mulher tem cinco ou mais. Se queremos ser tão desenvolvidos como outras nações, precisamos com urgência reduzir nosso crescimento demográfico”, disse K’Oyugi em uma reunião no mês passado em Nairóbi.

K’Oyugi cobrou uma disposição mais exaustiva em matéria de saúde, que inclua o planejamento familiar, para ajudar os casais a lidarem melhor com a saúde reprodutiva e a gravidez. “A decisão da quantidade de filhos é pessoal. Mas, as famílias sendo pequenas, redundará em benefícios no plano individual, das famílias e nacionalmente”, explicou. Ele acredita que o governo queniano pode aprender com países asiáticos como Tailândia, Malásia, Coreia do Sul, Taiwan e Cingapura, que se esforçam para fortalecer suas economias reduzindo ativamente seu crescimento demográfico.

Entretanto, esse crescimento é apenas um dos inúmeros fatores que impedem o desenvolvimento do Quênia. Por meio da estratégia nacional de redução da pobreza 2003-2007, o governo deixou claro que a boa governabilidade, a educação primária, a igualdade de gênero e a prevenção do vírus HIV, causador da aids, bem como um alto grau de corrupção, são outros importantes obstáculos para o crescimento econômico. O tamanho da população de um país determina quanto orçamento há disponível para os serviços por pessoa. Segundo o Escritório Central de Estatísticas, o Quênia tinha, em 2008, 38 milhões de habitantes, o que supõe crescimento de um terço desde 1999.

As projeções da Usaid alertam que, se esse ritmo de crescimento persistir, a quantidade de quenianos chegará a 82 milhões em 2040. “Mais população significa mais pressão sobre o meio ambiente, já que aumentam as demandas por alimento, terra, água limpa e recursos energéticos. Com recursos reduzidos, há um perigo real de conflito civil, com as pessoas lutando pelos escassos recursos”, disse K’Oyugi. Um aumento demográfico também impulsiona as migrações das áreas rurais para as urbanas, segundo a Usaid. Isto aumentará a pressão sobre as instalações urbanas, criando favelas e gerando pobreza.

Os assentamentos informais do Quênia já se caracterizam pela lotação, moradias inadequadas, falta de água potável e de saneamento apropriado, bem como insegurança, exploração e abusos. A Agência Coordenadora Nacional para a População e o Desenvolvimento defende que o planejamento familiar ocupe lugar prioritário na agenda do governo, para reduzir a pobreza e fazer do Quênia um país de renda média, com qualidade de vida elevada e um entorno seguro, como consta na política Visão 2030.

“A meta é rejuvenescer a campanha de planejamento familiar, levando-a ao nível em que estava nos anos 80, quando a fertilidade caiu de 6,7 filhos por mulher, em 1989, para 5,4 em 1993 e 4,7 em 1998”, disse o encarregado de mídia da agência, David Kinyua. Ele prometeu que no próximo ano financeiro, que começará em junho, será destinado um orçamento maior ao planejamento familiar, mas não pôde explicar quanto dinheiro mais será gasto e onde. IPS/Envolverde

(IPS/Envolverde)

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