Autoridades do país do Oriente Médio recorrem a líderes religiosos para conscientizar população sobre efeitos nocivos da violência de gênero
Preocupado com violações dos direitos das mulheres no Afeganistão, o governo do país resolveu recorrer a líderes religiosos – entre eles mulás, representantes de mesquitas islâmicas – para tentar diminuir os casos de violência de gênero e casamentos forçados, em uma iniciativa encabeçada pelo Ministério para Assuntos Religiosos e o Ministério para Assuntos da Mulher.
Os dois órgãos, com o apoio do PNUD, buscam conscientizar a população sobre os direitos do sexo feminino, utilizando um meio de grande identificação: o islamismo. "Acreditamos que, ao envolver líderes religiosos, a violência doméstica vai diminuir", afirma Mawalwi Abdul Hanan, que participa do projeto.
Além de usar o Islã para alertar para as consequências do casamento precoce, da união forçada e da violência de gênero, o governo afegão também quer tirar dúvidas sobre questões envolvendo herança, comparando o que é estabelecido pela legislação islâmica sobre os direitos hereditários da mulher ao que ocorre na prática.
O programa já começou a dar resultados. Mulás abordam o tema da violação de direitos nos sermões de sexta-feira, em suas mesquitas. Ao público masculino, eles explicam os efeitos nocivos das ações contra o sexo oposto, segundo apontamentos muçulmanos. A ideia é que, ao envolver os homens desde o início, tornando-os agentes de transformação, a visão da sociedade sobre o estatuto da mulher também mude.
A população afegã é formada, quase que integralmente, por comunidades tradicionais ligadas estritamente à cultura e aos costumes locais. Essa situação faz com que as pessoas, às vezes, confiem somente nos líderes religiosos e mulás, nos quais depositam a proteção dos valores da sociedade. Por isso, ao recorrer a eles, o governo espera mudar a realidade das mulheres afegãs.
O projeto foi inicialmente implementado na província de Balkh, no fim do ano passado. Envolveu 250 mulás de cinco distritos, que participaram de sessões de capacitação e palestras sobre os direitos da mulher segundo o Islã. Para o coordenador do projeto do PNUD para Igualdade de Gênero na cidade de Mazar-e-Sharif, Ahmaduddin Sahibi, "o programa tem um enfoque muito correto, principalmente em áreas rurais".
A intenção das autoridades afegãs é reproduzir a experiência em outras províncias, em iniciativa que conta com o respaldo da ONU. A organização trabalha com o governo do país do Oriente Médio para tentar abordar as necessidades das mulheres, algo que considera fundamental para o desenvolvimento.
Uma das promessas mais recentes do governo afegão foi a de elevar para 30%, até 2013, a participação feminina em cargos públicos. Atualmente, somente 22% dos funcionários do governo são mulheres. Desse total, apenas 9% ocupam funções de liderança.
(Envolverde/PNUD Brasil)