Daniella Cornachione – revista ÉPOCA
Pesquisas tentam mostrar como as mulheres lidam com a carreira, a família e o dinheiro
Cinco anos depois de abrir uma assessoria imobiliária no Rio de Janeiro, Edvan Costa convidou a irmã, Églima da Costa Rodrigues, para assumir a gerência financeira e tornar-se sócia do negócio. “Ele diz que eu trouxe um toque feminino para a empresa. Pensei mais nos detalhes, do uniforme dos funcionários ao jeito como eles deveriam tratar os clientes”, diz Églima. Mulheres dedicarem atenção a detalhes parece clichê, mas haverá fundamento real para esse tipo de expectativa em relação ao comportamento delas?
As novas análises mostram, entre outros aspectos, que as mulheres tendem a não ser tão obsessivas com a carreira como os homens. Isso acontece porque elas têm outras prioridades que podem ser tão ou mais importantes do que o trabalho. Segundo um estudo publicado em 2009 pelo National Bureau of Economic Research (ONG americana que realiza pesquisas no campo da economia), entre trabalhadores com alto nível de educação, elas ganham menos por trabalharem menos horas e por interromper a carreira mais vezes, por causa da família.
Se a dedicação ao emprego for maior do que aos filhos e ao marido, a tendência é de que a mulher se sinta culpada por isso. Sônia Alcântara, de 49 anos, comanda junto com o marido, Roberto, uma empresa de produtos odontológicos, em Londrina. A dedicação do casal ao negócio é tanta que Sônia já se sentiu dividida entre o trabalho e os três filhos. “Eu achava que não dava atenção o bastante para eles”, afirma. O jeito foi deixar bem claro que, em casa, a prioridade é estar com a família. “Quando os meus filhos estão presentes, eu largo tudo”, diz Sônia.
Sônia também faz parte de outra estatística, que diz respeito às mulheres no comando de empresas. O Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP) estima que 40% dos micro e pequenos empreendimentos hoje são gerenciados por elas. Apesar de dividir o comando com o marido, é Sônia quem cuida da administração da empresa, enquanto ele se ocupa com a criação dos produtos.
Durante o Fórum Econômico Mundial 2010, em Davos, na Suíça, foi apresentada a última edição do ranking que mede a desigualdade entre mulheres e homens no mercado de trabalho. O estudo “Global Gender Gap Report” (“Relatório Global sobre a Diferença entre os Gêneros”) é feito em 134 países. Neste ano, o Brasil perdeu nove posições e ocupa o 82º lugar. A queda na classificação representa a discriminação, explícita ou velada, que permeia as relações de trabalho no país.
As diferenças salariais é uma forma de medir o tamanho da desigualdade entre homens e mulheres nas empresas. As trabalhadoras ainda ganham menos. De acordo com um levantamento do banco Goldman Sachs, no mundo, elas ganham 57% do que eles ganham. Essa porcentagem cai para 48% em onze grandes países em desenvolvimento. No Brasil, a remuneração das mulheres que têm nível superior completo representou 57,9% da que os homens com o mesmo grau de escolaridade. O dado é referente ao ano de 2008 e foi divulgado pelo governo na Relação Anual de Informações Sociais.
Apesar de ganhar menos do que os homens, as mulheres são tão indisciplinadas quanto eles quando o assunto é poupar. É o que mostra uma pesquisa exclusiva encomendada à Sophia Mind, consultoria recém-criada cuja especialização é o mundo feminino. O levantamento foi feito virtualmente com mais de 2 mil mulheres que moram em seis capitais brasileiras.
Pouco menos que a metade, 40%, disseram não pensar na aposentadoria ainda. O número é ligeiramente menor entre a faixa dos 31 a 40 anos de idade – 33% ainda não dedicaram algum tempo ao assunto. Entre as mulheres que têm entre 41 e 50 anos, 43% ainda estão avaliando como vão se preparar para a aposentadoria.
Flora Conceição Nogueira tem 47 anos e admite não ter pensado no assunto ainda. “A renda que eu terei como aposentada deverá ser parecida com a de hoje, mas quero ter um dinheiro de sobra para viajar”, diz. Formada em Letras, Flora mantém dois empregos: secretária de uma escola de inglês e tutora de pedagogia à distância.
Como elas agem
As mulheres gostam mais de trabalhar em grupo. Entre altos executivos, elas são muito mais assíduas a reuniões de conselho e tendem a participar mais de comitês de monitoramento, controle e fiscalização. Com a presença de mulheres nessas instâncias, os homens também se tornam mais assíduos, concluiu um estudo publicado em 2009 no Journal of Financial Economics da Universidade Rochester, nos EUA. Ou seja, um comportamento positivo das executivas contagia os colegas de trabalho.
Entretanto, o resultado não é bom se a inclusão de mulheres no alto escalão for forçada. O mesmo estudo alerta que os indicadores não melhoraram nas empresas em que elas são colocadas em determinados postos por meio de sistema de cotas.
As mulheres parecem trabalhar para buscar algo mais do que dinheiro. Em “The sexual paradox”, a jornalista e psicóloga Susan Pinker diz que elas querem recompensas não apenas financeiras, mas também “intrínsecas” (como satisfação, bem estar e sensação de colaborar com algo importante). Elas têm interesses mais amplos, gostam de ser úteis e se preocupam com o efeito que causam nos outros.
Fiona Greig, cosultora da McKinsey e PhD em Políticas Públicas pela Universidade de Harvard, analisou o comportamento de um grupo de jornalistas e concluiu que as mulheres estão menos inclinadas a negociar o salário com a chefia em busca de aumento. No grupo de executivos estudados, o hábito de negociar, mais masculino, reduziu em média 17 meses o tempo de espera até o próximo aumento ou promoção.
Susan Peters, diretora de aprendizado da empresa General Electric, disse à revista BusinessWeek que mulheres quando avisam que estão saindo, estão saindo. Homens esperam uma contraoferta.
Quando trabalham como profissionais autônomas, as mulheres criam vínculos mais longos com seus clientes. Elas trocam de clientes com menor frequência do que seus concorrentes homens, de acordo com uma pesquisa publicada no ano passado pela London Business School. No entanto, são nas trocas que surgem os aumentos de remuneração. Por isso, os homens profissionais autônomos são mais propensos a trocar de clientes e ganham mais.
Os estudos mostram que há, sim, um jeito de trabalhar feminino. Apesar de ser uma tarefa mais árdua para mulheres conciliar a vida pessoal e profissional, as jovens acreditam cada vez mais que isso é possível. Segundo pesquisa realizada pela Accenture, com mil mulheres entre 22 e 35 anos, 94% afirma que creem poder atingir uma vida profissional satisfatória e pessoal gratificante. E há exemplos de que elas estão certas.