FABIO VICTOR – da Folha de S. Paulo
A escritora Sapphire contou que deve parte da construção de sua personagem Preciosa — que inspirou filme de mesmo nome, cotado ao Oscar– à brasileira Carolina Maria de Jesus. Esta era uma catadora de papel semianalfabeta que se tornou best-seller no Brasil nos anos 60.
“Eu dava um curso baseado em diários de mulheres, Virginia Woolf, Sylvia Plath, Frida Kahlo, Carolina Maria de Jesus. Os das brancas eram introspectivos. O dela falava de classe, raça, luta por comida para os filhos”, diz, em alusão à obra mais conhecida da brasileira, “Quarto de Despejo”.
No livro/filme, Preciosa e suas colegas são alfabetizadas com a ajuda deste método –compartilham com a professora cartas escritas no diário.
“Fico impressionada porque os brasileiros dizem que nunca ouviram falar de Carolina de Jesus ou de seu livro. Nos EUA você compra facilmente.”
Como sinal de que também no Brasil Carolina por vezes é lembrada, acaba de ser lançado o perfil biográfico “Carolina Maria de Jesus: Uma Escritora Improvável”, do historiador Joel Rufino dos Santos (ed. Garamond, 168 págs., R$ 37).
8 reimpressões na estreia
Lê-se ali que “Quarto de Despejo” teve oito reimpressões só em 1960, quando foi lançado, que teve mais de 70 mil exemplares vendidos, que foi traduzido para 14 idiomas e que até 2009 suas obras tinham vendido mais de um milhão de exemplares em todo o mundo.
“Ela era pretensiosa, para o bem e para o mal. Não queria ser o que era, sem estudo, pobre e favelada. E tinha a vocação das letras, por meio da qual sublimava a vida desgraçada que levava”, afirma Rufino.
Mineira de Sacramento, Carolina viveu a maior parte da vida em São Paulo, na favela do Canindé e num sítio em Parelheiros. Após o sucesso, lançou inúmeros outros livros. Ganhou dinheiro com a literatura, mas morreu com poucas posses, em 1977.