por Marcela Buscato | revista ÉPOCA
As mulheres serão mais da metade da força de trabalho dos Estados Unidos nos próximos meses, avisa a publicação britânica “The Economist”. No Reino Unido, elas estão mudando a cara da sociedade ao se aventurar em seus próprios negócios: em dez anos o número de empreendedoras aumentou 17%. Notícias que não causam surpresa, certo? As mulheres ainda são minoria nos postos de comando e ganham salários menores do que o dos homens em boa parte das empresas, mas, desde que se lançaram no mercado de trabalho, em meados do século passado, parece não haver limites para a escalada feminina no mundo corporativo. Hummmm… será?
Não sei se é o avanço da idade (estou mais perto dos 30 dos que dos 20) ou se é o meu momento de vida (aos 26 anos, o trabalho ocupa a maior parte das nossas preocupações). Mas estou mais sensível a essa questão. Tenho reparado em uma certa tendência de as pessoas considerarem o trabalho das mulheres como, digamos, “uma atividade opcional”. Esse pensamento sempre pairou sobre nós– com mais ou menos força dependendo da época. Mas só foi me atingir com força quando uma amiga me contou que havia desistido do trabalho de meio período e que agora era uma feliz dona de casa. Vá lá que ela tivesse seus motivos: o emprego pagava pouco, não era recompensador. Mas achei que ela fosse procurar outro, mudar de ramo, sei lá…. Para mim, nunca houve dúvida de que lugar de mulher é no trabalho. Uma outra conhecida desistiu de cursar uma graduação que lhe tornaria uma profissional em tempo integral para escolher uma profissão que ela pusesse exercer em meio período. Assim, poderia cuidar dos filhos, da casa. Respeito as escolhas de cada pessoa. Como diz a minha vó, para cada cabeça, uma sentença. Mas é que na minha não é certo alguém desperdiçar seu potencial ou frustrar um sonho para se enquadrar em um papel que a sociedade lhe impôs há séculos.
Há alguns meses li na ÉPOCA uma entrevista que a Martha fez com a Maria Mariana (que também já esteve por aqui). Ela defendia que as mulheres têm o direito de abrir mão da carreira para cuidar dos filhos e que isso não é nenhum absurdo. Ok, concordo com ela: é um direito. Mas não um dever. Fiquei bem surpresa ao ver a Diana de “Confissões de Adolescente”, personagem que eu admirava na infância pela “modernidade” dos ideais, nesse “novo” papel. Em um jornal britânico, o diretor da associação nacional de escolas para meninas dizia outro dia que alguém precisa avisar as estudantes que elas possivelmente não conseguirão chegar onde querem por causa das obrigações impostas às mulheres pela sociedade. Ele só estava dizendo que achava importante avisá-las para que elas não se frustrassem.
Eu mesma já tive que responder a infindáveis interrogatórios de por que não acompanhei meu namorado no par de mudanças dele pelo Brasil em razão do emprego que ele escolheu. Nesses momentos sempre me vem à cabeça a imagem da Uma Thurnan empunhando uma espada samurai em “Kill Bill”. Por que ninguém pergunta para ele por que ele escolheu um trabalho assim? Não seria mais óbvio? É por que eu sou mulher e trabalhar é “opcional”? Uma possibilidade apenas se não atrapalhar o cuidado com os filhos ou a carreira do marido?
Sei que posso morder a língua no futuro. Não tenho filhos e não sei como é equilibrar casa, trabalho e crianças. Imagino que seja muito difícil. Mas, para mim, é inaceitável pensar que nos dias de hoje a obrigação de equilibrar esses três elementos ainda recaia apenas sobre a mulher. E me espanta sobretudo que meninas da minha geração aceitem esse papel. Gente, o vintage pode até estar na moda, mas não precisamos voltar aos tempos em que a “Amélia é que era mulher de verdade”.