A teatróloga Heleny Ferreira Telles Guariba (1941-1971), cujo nome faz parte da lista de desaparecidos políticos do País, será homenageada “in memorian” com a Ordem do Mérito Cultural. A cerimônia de entrega da premiação será realizada nesta quarta-feira, dia 25, no Rio de Janeiro, com as presenças do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos ministros Juca Ferreira (Cultura) e Paulo Vannuchi (Direitos Humanos). O tema central de celebração desta 15ª edição da premiação é a homenagem ao maestro Heitor Villa-Lobos, para assinalar o cinquentenário da morte do compositor.
Paulista de Bebedouro, Heleny se especializou em cultura grega, trabalhou em teatro e deu aulas na Escola de Arte Dramática de São Paulo (EAD). Foi casada com Ulisses Telles Guariba, professor de História na Universidade de São Paulo (USP), com quem teve dois filhos. Com bolsa de estudos do consulado francês, Heleny fez inúmeros cursos na Europa no período de 1965 a 1967, inclusive em Berlim, na Alemanha, onde estudou Brecht e estagiou como assistente de direção.
Ao voltar ao Brasil, foi contratada pela prefeitura de Santo André para dirigir o grupo de teatro da cidade. Ali desenvolveu inúmeros trabalhos culturais e montou uma peça de Molière com os alunos das escolas municipais. Mas seu trabalho foi interrompido com o Ato Institucional nº 5 – AI 5.
Ingressou então na Aliança Francesa, em São Paulo, onde também montou e dirigiu peças de teatro, em francês. Em março de 1970, porém, foi presa pela primeira vez, em Poços de Caldas (MG), por militar na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Torturada na Operação Bandeirantes (Doi-Codi/SP) pelos capitães Albernaz e Homero, conforme relatório publicado no livro Direito à Memória e à Verdade, da SEDH/PR, ela permaneceu internada dois dias no Hospital Militar por causa da hemorragia provocada pelos espancamentos.
Do hospital foi transferida para o Dops paulista e, depois, para o presídio Tiradentes, onde chegou a ser assistida pelo advogado José Carlos Dias, que seria mais tarde presidente da Comissão Justiça e Paz de São Paulo e, posteriormente, ministro da Justiça.
Solta em abril de 1971, Heleny preparava-se para deixar o país quando foi novamente presa por agentes do Doi-Codi/RJ, no dia 12 de julho daquele ano, no Rio, com o também militante Paulo de Tarso Celestino da Silva. Os familiares e advogados fizeram buscas persistentes por todos os órgãos de segurança. Apesar do silêncio e da negativa sistemática das autoridades, foram coletadas provas da prisão e desaparecimento de Heleny.
Inês Etienne Romeu testemunhou em seu relatório de prisão que, durante o período em que esteve seqüestrada no sítio clandestino em Petrópolis (RJ), conhecido como “Casa da Morte”, ali esteve no mês de julho de 1971 uma moça que acredita ser Heleny. Na casa clandestina em Petrópolis, ela foi torturada durante três dias, inclusive com choques elétricos.
Passados 38 anos de sua morte, Heleny será agraciada com a Ordem do Mérito Cultural, honraria conferida a personalidades, grupos artísticos, iniciativas e instituições que contribuiram para a promoção da Cultura brasileira.
A Ordem do Mérito Cultural já agraciou cerca de quatrocentas personalidades nacionais e estrangeiras e de sessenta instituições, públicas e privadas, além das homenagens in memoriam, desde que foi criada em 1995.
Solenidade de entrega da Ordem do Mérito Cultural 2009
Data: 25 de novembro de 2009
Horário: 18 horas
Local: teatro Oi Casa Grande (av. Afrânio de Melo Franco, nº 290, Leblon, Rio de Janeiro (RJ)
fonte: SEDH