Pelas mãos de Dona Ignez, vieram ao mundo milhares de crianças de Salvador. Ela assistia, auxiliava e, mais que tudo, iluminava. Leia a seguir o perfil da primeira parteira diplomada da Bahia
Ana Alakija |
Profissão das mais antigas e ainda hoje existente, (estima-se em 60 mil profissionais atualmente no Brasil), as parteiras sofreram perseguição, calúnia e foram combatidas principalmente por sacerdotes e médicos, que as consideravam ignorantes e despreparadas para situações de risco na gestação e trabalhos de parto. Chegaram a ser queimadas (na Idade Média) nas fogueiras da inquisição. O curso para parteiras no Brasil foi criado junto com a lei de 3/10/1832 que também criou as Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia, diante da preocupação das autoridades pela alta mortandade materno-infantil no país e a existência de um número grande de parteiras tradicionais – na época chamadas de aparadeiras e curiosas. Ignez fez o curso de Obstetrícia na Faculdade de Medicina da Bahia.
Pelas mãos dela vim ao mundo, assim como minhas irmãs. A ela devo inclusive o nome. Conta minha mãe que após o meu nascimento ela me ergueu nos braços e disse “Ana Maria…” Dizem que tinha um caderno onde anotava os dados da parturiente e do recém-nascido. Minha tia Baby falou uma vez no registro de 5.000 partos. Meu pai, filho caçula, ressaltou em seu diário de 1946, o seu “espírito batalhador de fibra… saindo altas horas da noite, vezes incontáveis sob o rigor de um tempo invernoso, para atender as suas parturientes e, assim até hoje conseguiu manter a casa de pé… goza de perfeita saúde e é de uma resistência admirável…”
Ignez nasceu a 20 de abril de 1891 e faleceu aos 95 anos a 27 de maio de 1986, no sobrado da Rua Siqueira Campos, 16, Barbalho, onde viveu mais da metade da sua vida. Filha de José Felipe dos Reis e Lélia Ferreira Fraga; a família tem conhecimento da existência de apenas uma irmã por parte de pai, Maria Coleta dos Santos (….-1990). Recebeu o Assumpção através do matrimônio com um jovem nobre Yoruba, Maxwell Porphyrio de Assumpção (Alakija) – título posteriormente incorporado aos filhos como sobrenome – rebento de pais afro-brasileiros que migraram para a Nigéria no início do século XX, onde encontraram descendentes dos seus antepassados fundadores do reino que deu origem ao clã e reconquistaram a soberania; diferençando dos irmãos, numa época em que famílias nigerianas abastadas enviavam os filhos para estudar na Europa, Maxwell (1877- 1935) veio para o Brasil quando jovem como imigrante, aqui estudando e diplomando-se em Direito pela Faculdade de Direito da Bahia.
Da união Ignez-Maxwell nasceu o primogênito Delhi (1908- 1949), engenheiro de telecomunicações, a Dra. Cleonice (1910-2000),primeira mulher médica a se especializar em Oftalmologia na Bahia e o Dr. George Alakija (1921-2005), médico-psiquiatra e uma das maiores autoridades em medicina psicossomática e hipnologia. Um quarto rebento não teria vingado. “Nazinha” foi também uma companheira compreensiva acolhendo Daley e Célia, filhos de meu avô levados pelo pai para serem educados na Inglaterra, posteriormente indo viver na Nigéria. É também conhecido seu espírito bondoso no acolhimento de gestantes solteiras em sua própria casa, fazendo o parto e tendo ficado com pelo menos duas crianças para criar. A viuvez fez com que Ignez trabalhasse incessantemente para dar continuidade à educação dos filhos e se dedicasse mais ainda à profissão que exerceu até quase 1970, quando, por conta de uma erisipela, foi aconselhada por médicos a não fazer mais partos.
Memorada pela Câmara Municipal do Salvador em diversas ocasiões, por políticos da direita e da esquerda, que enalteceram suas virtudes pessoais como “dessas criaturas que jamais soube dizer não aos que batiam a sua porta” e pela “vitoriosa carreira que desenvolveu ao longo de 50 anos, com a Bahia e os baianos devendo muito a ela, sobretudo aqueles que vieram à luz através dos trabalhos dessa grande mulher”.
Alves, Amorim, Santos, Cardoso (olá, Edson!) Souza, Seabra, Ramos, Ribeiro, Brito, Alencar, Trócoli, Barreira, Oliveira, Lacerda, Gomes, Silva, Freitas, Brasil, Cruz, Aires, Gouveia, Machado, Figueiredo, Almeida, Rego, Diniz, Ansoregui, Baptista, Martins, Andrade, Nogueira, Ribas, Fortuna, Gomes, Perez, Chagas, Villa, Tourinho, Serra, Luz, Rocha, Moreira, Guimarães, Rosado, Barbosa, Benjamin, Espírito Santo, Araújo, Nery, Gurgel, Moniz, Pereira, Conceição, Lima, Carvalho, Menezes, Vieira, Espínola, Portela, Pimenta, Maciel, Barros, Borges, Brandão, Bacelar, Lima, Jesus, Camelyer, Calmon, Bandeira, Chaves, Ferreira, Bonfim, Lobão, Gonçalves, Sodré, Medeiros, Pedreira, Coelho, Marques, Spínola, Pondé, Ramos, Barreto, Feitosa, Pinheiros, Andrade, Sampaio, Vieira, Madureira, Brochado, Venet, Carteado, Teixeira, Cunha, Crusoé, Pessoa, Camposé, Caldas, Croesy, Deiró, Santana, Tavares, Carnaúba, Martins…
fonte: www.irohin.org.br
Fui recebida nesse mundo pelas mãos da D.Inês. Profissional competente, tranquila e amiga. Minha mãe morava no mesmo bairro. Ela substituiu a minha bisavó também parteira, que a indicou após ficar impossibilitada, para a função.
Muitos elogios da bisavó e do filho médico, Carlos Leony.
Agradecemos a D. Inês, todo atendimento a família do Dr.Carlos Affonso Leony.
Morámos no mesmo bairro.
Amiga da minha bisavó, parteira, Theodolina Leony.
Gostaria de obter o seu e-mail.
Conheci a D Ignez.Minha família teve o prazer de tê-la como parteira.
Morávamos no mesmo bairro.
Também sou bisneta de uma parteira, anterior a D.Ignez. Minha bisavó mestiça foi acometida de glicemia alta. Amputou a perna. Indicou sua avó.
Meu avô, também médico. Enfrentou muitas dificuldades…Econômicas.
Tenho lido seus escritos e dos demais, dentro do assunto.