Parlamentares que agem contra as mulheres se unem a Marina Silva no PV

Direita contra as mulheres se organiza e se reúne no Partido Verde. Depois de Marina Silva, os mais novos filiados são Luiz Bassuma e Henrique Afonso, suspensos pelo PT

Confirmando a nova etapa de polarização política, a direita vem reorganizando sua campanha contra as mulheres e preparando sua participação nas eleições.

O ingresso de Marina Silva, eleita senadora pelo PT do Acre, ao Partido Verde já foi extensamente avaliada nessas páginas como uma manobra da direita para fabricar, assim como em 2006 com Heloísa Helena, do Psol, uma candidata de fachada esquerdista que pudesse ser apresentada pela imprensa como alternativa para a classe trabalhadora.

Trata-se portanto, de mais uma falsificação política da direita, que diante da crise do regime, que conseqüentemente é a sua própria crise, precisa buscar artifícios para se opor à evolução da consciência dos trabalhadores e de todos os setores oprimidos.

O ingresso dos parlamentares, que são parte da tropa de choque da direita no Congresso Nacional na luta contra os direitos democráticos e perseguição às mulheres, ao PV, confirma tal análise.

Luiz Bassuma (Bahia) e Henrique Afonso (ex-PT do Acre, assim como Marina Silva), também diversas vezes denunciados nessas páginas como agentes da extrema-direita afirmaram que ter escolhido “o PV porque acreditam que Marina, pré-candidata do partido à Presidência, tem opinião parecida com a deles” (Agência Folha, 30/9/2009).

O PV não apenas está recebendo a tropa de choque como está se adequando à nova etapa política. O estatuto do partido já foi modificado e agora o programa que prevê a “legalização da interrupção voluntária da gravidez com um esforço permanente para redução cada vez maior da sua prática através de uma campanha educativa de mulheres e homens para evitar a gravidez indesejada”, também será modificado, conforme declarou o presidente do PV na Bahia, Ivanilson Gomes: “Nós vamos revisar o programa do PV para podermos abarcar as diferentes opiniões dentro do partido, como a de Marina”, disse Ivanilson à imprensa.

Formalidade que confirma a dominação da direita, isto porque o PV já tem entre seus quadros alguns dos membros da tropa de choque contra as mulheres no Congresso Nacional, como os deputados Dr. Talmir e Nechar (ambos de São Paulo), acostumados a atuar ao lado de Bassuma e Afonso na Comissão de Seguridades Social e Família, entre outras, propondo projetos que ampliam a repressão e restrição aos direitos das mulheres.

Direita agrupa seus candidatos

Bassuma e Afonso decidiram entrar no PV após serem julgados no último dia 17 pela direção do PT por agirem em contrariedade às resoluções do partido, de defesa da legalização do aborto. O pedido de comissão de ética contra os parlamentares foi feito pela secretaria de mulheres do partido.

Em sua defesa, Bassuma declarou que seria a ocasião para o Partido dos Trabalhadores se posicionar definitivamente a respeito do assunto (aborto), que para ele estaria clara diante da sua absolvição ou expulsão do partido. “Uma eventual terceira via com uma punição mais branda seria incabível pela minha declaração de reincidência futura. Além do que, remeteria o partido ao pior dos mundos, o da omissão e da covardia de assumir publicamente sua posição a respeito deste assunto tão grave”.

A comissão de ética durou mais de nove meses, e foi “covarde”. Foi concluída com Henrique Afonso foi sendo suspenso por 90 dias e Bassuma por um ano. Os deputados foram orientados a retirarem os projetos de lei que propuseram contra o direito ao aborto. Bassuma seria inclusive impedido de participar das eleições de 2010.

Semanas após o julgamento, a liderança do PT na Câmara sequer tinha encaminhado o pedido de retirada dos deputados das comissões de que fazem parte, mostrando que a decisão era mera aparência, e na prática propunha uma conciliação entre os opositores ao direito das mulheres e as próprias mulheres do PT.

Tanto que diversos outros parlamentares e do PT que também atuam contra o direito ao aborto, se bem que com menor intensidade que Luiz Bassuma, como o deputado Odair Cunha, e tantos outros espalhados pelo país, sequer foram mencionados, ou ameaçados por atuarem em contrariedade com o programa do partido.

Bassuma chegou a declarar que “Quando me puniram acharam que eu iria sair correndo para outro partido. Pediriam então meu mandato na Justiça. Mas não vou fazer isso. Vou ficar no PT e vou no Supremo Tribunal Federal (STF) tentar reverter a decisão”. Mas fechou acordo com o PV, pela candidatura de sua esposa, Rose Bassuma, à Câmara Federal em 2010. O deputado afirma que não vai se candidatar por que “quer gastar suas energias” com a candidatura da esposa e “para ajudar o PV na Bahia e no Brasil”.

Henrique Afonso é da mesma ala que Marina Silva no PT do Acre, ambos ligados à oligarquia dos Viana no estado. Pastor da Igreja Presbiteriana, Afonso foi defendido pelo direito estadual do PT, que se posicionou contrário à decisão do diretório nacional do partido. No PV, Afonso está considerando candidatura ao Senado ou a vice-governador do estado.

Desmascarar direita e “esquerda” e lutar pela legalização

Assim como Heloísa Helena funciona como a fachada de esquerda para o movimento contra o direito ao aborto, idealizado pelo Vaticano e colocado em prática no Brasil pelos setores mais conservadores e reacionários, é necessário desmascarar a falsificação criada pela imprensa capitalista em torno da candidatura de Marina Silva à presidência da República nas próximas eleições.

Por mais que nas últimas entrevistas Marina tenha procurado ocultar suas verdadeiras posições a respeito do direito ao aborto (falando na defesa de um plebiscito), do criacionismo nas escolas ou pesquisas com células-tronco, a verdade escancarada com a recente filiação de Luiz Bassuma e Henrique Afonso ao PV é que a candidatura e a tentativa de “fortalecimento” é mais uma manobra da burguesia em crise.

Diante disso, torna-se necessário não apenas rejeitar a manobra, como na prática lutar pela legalização do aborto e o fim da repressão às mulheres.

fonte: www.pco.org.br/conoticias

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