Prática clandestina representa a quarta causa de morte materna no país. No Brasil, 31% das gestações são interrompidas, o que representa um número estimado em um milhão e 400 mil abortos realizados em condições precárias, geralmente, conduzidos por pessoas despreparadas. Foram 218.940 gestantes internadas no SUS em 2008. Dessas, 801 morreram em consequência do aborto.
útero, do intestino e da bexiga, causando hemorragias, e até a morte
No Brasil, não existem dados oficiais que determinem o número exato de abortos clandestinos, aqueles feitos sem qualquer condição de higiene ou segurança, nem de mortes e complicações decorrentes desse procedimento. O que exitem são dados do Ministério da Saúde sobre os casos de aborto atendidos na rede pública de saúde, aqueles considerados legais. São os abortos espontâneos e aqueles autorizados pelos médicos ou pela justiça, quando há risco de morte para a mãe ou para o feto (por exemplo, casos de anencefalia, quando o feto não tem cérebro), ou quando o bebê é resultado de estupro. Foram 218.940 gestantes internadas no SUS em 2008. Dessas, 801 morreram em consequência do aborto.
Mas quando se fala em abortos ilegais, a situação é ainda muito pior. Relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde), de 2005, mostra que quatro milhões e 200 mil mulheres se submetem ao aborto anualmente na América Latina e Caribe, e que 21% das mortes relacionadas com a gravidez, o parto e o pós-parto, têm como causa as complicações do aborto realizado de forma precária.
No Brasil, 31% das gestações são interrompidas, o que representa um número estimado em um milhão e 400 mil abortos realizados em condições precárias, geralmente, conduzidos por pessoas despreparadas.
É difícil contabilizar o número de mortes decorrentes de um aborto malfeito, principalmente porque são as mulheres de classe baixa as maiores vítimas, e que, na maioria das vezes, não procuram atendimento médico.
Mas de acordo, com o Instituto de Medicina Social, ligado à UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), entre 2000 e 2004, ocorreram no Brasil 697 óbitos em consequência de procedimentos malsucedidos, principalmente em jovens de 20 a 29 anos.
Apesar dos dados alarmantes, para a obstetra Elizabeth D´Elia Matheus, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a situação é um pouco melhor do que há alguns anos.
– Hoje, as mulheres encontram mecanismos mais seguros. Apesar de ilegal, com o uso do medicamento Cytotec vejo no pronto-atendimento menos abortos complicados. Mas ainda existem aquelas mulheres que procuram parteiras de bairro que usam até agulhas de crochê para fazer a curetagem.
As consequências desses procedimentos amadores variam desde infecção, perfuração do útero, do intestino e da bexiga, causando hemorragias, até a morte.
Quem tem melhores condições financeiras procura clínicas especializadas. Clandestinas, mas especializadas. Foi o que fez a estudante M.C., 29 anos, de São Paulo. Ela interrompeu uma gravidez indesejada aos 22 anos.
– Eu sempre fui contra aborto, até acontecer comigo. Na época, eu estava na faculdade e o meu namorado não era o exemplo de pai que eu queria para meus filhos. Procurei um ginecologista que fazia o procedimento e marquei para dali a dois dias. Não tomei nenhum remédio e a retirada do feto durou 30 minutos.