Segue a fúria da direita contra as mulheres. É a vez da Colômbia se tornar palco da disputa entre a Igreja e os setores conservadores na tentativa de influenciar nas políticas do Estado contra os direitos das mulheres
“Os doze Bispos das províncias eclesiásticas de Medellín e Santa Fé de Antioquia (…) condenam a construção, em Medellín, da chamada ‘Clínica da Mulher’, um projeto feminista que pretende utilizar oito milhões de dólares para contar com um centro para realizar abortos” (ACI Digital, 1/9/2009).
A clínica é um centro de atendimento especializado para o atendimento de mulheres, uma necessidade urgente, que entre outras coisas pretende atender casos de aborto previstos em lei.
O projeto ainda não foi implementado e a direita apoiada na Igreja já se levanta para tentar impedir sua realização, alegando que seu atendimento “poderia resumir-se em aborto, esterilização e anticoncepção, condutas que obviamente vão encaminhadas a reduzir a natalidade” (zenit.org, 3/9/2009)
A clínica é uma necessidade que só foi atendida após denúncias que evidenciavam o descaso com a saúde da mulher na Colômbia.
Pesquisa realizada no país em 2005, “revelou que 17,5% das mulheres em idade reprodutiva haviam sido violadas pelo menos uma vez em suas vidas” (Adital, 9/8/2009).
No início desse ano, a Organização Não Governamental (ONG) Médicos Sem Fronteiras (MSF) divulgou pesquisa “Vidas destroçadas: a atenção médica imediata, vital para as vítimas de violência sexual”. O relatório trazia um capítulo inteiro dedicado à Colômbia e afirmava que poucas mulheres vítimas de violência sexual buscam atendimento por “temor à estigmatização”.
O relatório revelou ainda que 35% das mulheres atendidas em clínicas móveis e 22% das atendidas em centros de saúde e hospitais haviam sido estupradas pelo menos uma vez. “Cerca de 90% das vítimas tinham entre 13 e 49 anos”.
De acordo com a organização “para ter acesso à atenção sanitária, as vítimas têm que superar a vergonha e o medo por sua segurança. Entre as mulheres que haviam sofrido agressões sexuais, 81% das entrevistadas em clínicas móveis e 95% das entrevistadas em centros de saúde e hospitais disseram que a vergonha foi a principal razão pela qual não buscaram ajuda. Muitas das violações são cometidas por pessoas conhecidas das vítimas e a proximidade com o agressor gera medo a represálias”.
Na Colômbia, a influência da Igreja garantiu que o aborto fosse crime em todas as circunstâncias até 2006, quando a Corte Constitucional Colombiana reconheceu o direito ao aborto em casos de gravidez resultante de estupro, em casos de risco para a vida ou saúde da mulher, ou quando exista má formação do feto incompatível com a vida extra-uterina.
Porém, conforme ressaltou o relatório da MSF, as mulheres não têm garantido o acesso à atenção que necessitam. “Embora a lei colombiana contemple a atenção às vítimas de violência sexual, o sistema não lhes assegura ajuda médica nem psicológica”. O que é resultado direto da privatização da saúde promovida pelo governo pró-imperialista de Álvaro Uribe.
Apesar disso, a Igreja e a direita procuram sustentar a campanha contra o atendimento adequado das mulheres. Atendimento previsto na lei, ou seja, uma obrigação do Estado, reconhecida por ele.
Vale ressaltar que a afirmação de que a defesa do direito ao aborto faz parte de uma campanha eugênica para reduzir a natalidade é falsa e cínica, já que a defesa do direito ao aborto e do acesso aos métodos contraceptivos é justamente a defesa do direito da mulher de agir com autonomia e liberdade.
Como já dizia Lênin, em polêmica contra o neomalthusianismo, cuja conclusão era de que “a única solução é ter menos filhos que sofram nossas penas e calamidades, nossa miséria e nossas humilhações”.
“Por isso – e somente por isso – somos incondicionais inimigos do neolmalthusianismo, desta corrente de casais mesocráticos, antiquados e egoístas: vivamos nós como possamos e melhor será não ter filhos.
“Isto não nos impede, de modo algum, de exigir a abolição absoluta de todas as leis que castigam o aborto ou a difusão de obras de medicina, nas quais se expõem medidas anticoncepcionais etc. Semelhantes leis não indicam senão a hipocrisia das classes dominantes. Estas leis não curam as doenças do capitalismo, mas as fazem particularmente malignas e perniciosas para as massas oprimidas”.
Por isso, defendemos incondicionalmente, a legalização do aborto no Brasil e em toda a América Latina.
fonte: Causa Operária – www.pco.org.br/conoticias