Relatório sobre assédio e violência sexual contra menores em instituições católicas choca o país e “envergonha profundamente” os líderes da Igreja. Culpados foram transferidos sem sofrer punição
Correio Braziliense
Mais de 2 mil crianças sofreram abuso sexual constante em orfanatos, abrigos, escolas e reformatórios irlandeses dirigidos pela Igreja Católica, revelou uma investigação publicada hoje em Dublin. Segundo o relatório, elaborado por uma comissão independente que ouviu depoimentos de mais de mil pessoas, durante 10 anos, os episódios ocorreram entre 1930 e 1990 e incluíram também violência física e intimidações. De acordo com a Comissão de Inquérito sobre Abuso Infantil, os líderes da Igreja sabiam de tudo que ocorria nas instituições, que abrigaram aproximadamente 35 mil crianças. O informe ressalta que “as autoridades religiosas sabiam que os abusos sexuais eram um problema persistente em organizações religiosas masculinas”.
O premiê irlandês, Bertie Ahern, foi o idealizador da comissão, criada após uma série de televisão divulgar as denúncias. A jornalista Mary Raftery, uma das responsáveis pelos programas, contou à emissora britânica BBC que as agressões, cometidas por sacerdotes e freiras, eram “profundamente chocantes”. Ela contou que as crianças eram levadas ao que se convencionou chamar de “casas de terror”, de onde só saíam aos 16 anos. “Elas saíam de lá completamente perturbadas, e muitas deixaram o país em seguida”, explica. Depois de apresentados os resultados da pesquisa, o premiê pediu desculpas, em nome do Estado, a todos que sofreram abuso na infância. Desde 2000, o governo pagou um bilhão de euros em indenizações a 12,5 mil vítimas, que agora têm entre 50 e 70 anos.
Em depoimentos, quem sofreu as violências na época contou que as crianças apanhavam com tiras de couro por conversar durante as refeições ou por escrever com a mão esquerda. O documento alega que “as escolas eram administradas de forma severa, impondo uma disciplina opressiva, e não razoável”. Além disso, as crianças eram mantidas em um clima de medo, por causa das “punições excessivas e arbitrárias que permeavam a maioria das instituições”. Dentre as 21 formas propostas para que o governo possa se redimir pelos danos causados estão as de construir um memorial, fornecer acompanhamento psicológico aos que precisarem e melhorar os serviços de proteção à criança.
Vergonha
O cardeal irlandês Sean Brady confessou estar “profundamente envergonhado” com a publicação do relatório. “Lamento e estou profundamente envergonhado de que crianças tenham sofrido dessa forma tão terrível nessas instituições”, disse. Para o mais alto dirigente da Igreja Católica do país, o documento revela “os grandes danos causados a meninos mais vulneráveis de nossa sociedade”. Ele considerou o relatório um “catálogo vergonhoso de crueldade, abandono, abusos físicos, sexuais e emocionais”.
A Igreja tentou diversas vezes impedir a publicação do estudo, que fala somente de instituições que já foram fechadas. O juiz Sean Ryan, presidente da comissão, contou que, quando era feita uma denúncia de abuso, os acusados eram transferidos para outros lugares. No próximo mês será divulgado outro relatório, sobre supostos abusos cometidos por padres entre 1975 e 2004 em paróquias próximas a Dublin, capital da Irlanda.
para saber mais
Processos milionários
O ex-cardeal de Boston Bernard Law, o mais alto dignitário da Igreja Católica nos Estados Unidos, renunciou ao cargo em 2002 por estar envolvido em um escândalo de abuso sexual de crianças. Ele teria acobertado padres acusados de pedofilia, mandando-os para outras dioceses ou paróquias sem que os fiéis destas fossem informados a respeito do problema. Na época em que o cardeal renunciou, havia mais de 450 processos de abuso sexual contra sacerdotes sob sua autoridade, e os pedidos de indenização por parte das vítimas somavam mais de US$100 milhões.
Em algumas denúncias, constava que determinados padres abusaram sexualmente de coroinhas, além de outros que ofereciam cocaína em troca de “serviços sexuais” e, ainda, alguns que violentavam noviças. Ao todo, 58 sacerdotes assinaram uma carta solicitando o afastamento do cardeal de Boston.
Outro caso emblemático de escândalos ligando padres da Igreja Católica a crimes de pedofilia foi o do ex-sacerdote John Geoghan, também da arquidiocese de Boston. Geoghan foi preso em 2002 por molestar um garoto. Já havia outras denúncias contra o sacerdote, mas ele era trocado de diocese cada vez que ameaçava surgir um escândalo.
Após a prisão, outras denúncias surgiram e a Igreja Católica, então, ofereceu-se a pagar uma indenização de US$ 65 milhões para os jovens que processaram o padre. No ano seguinte, Geoghan foi encontrado morto na prisão. Apenas no ano passado, a Igreja desembolsou mais de US$ 430 milhões para indenizar vítimas de casos de pedofilia envolvendo clérigos.
OBS: as charges não fazem parte do artigo original, foram acrescentadas por nós para mostrar o horror dessa prática corriqueira e que se mantém na igreja católica, com a tolerância e até mesmo participação de autoridades religiosas de todos os escalões da instituição no mundo inteiro
Religiosos irlandeses são acusados de violentar crianças
Um relatório divulgado nesta quarta-feira acusa religiosos de espancar e violentar crianças durante décadas em instituições católicas na Irlanda.
Orfanatos, reformatórios e escolas industriais da Irlanda foram, entre as décadas de 30 e 90, locais de medo, abandono e abuso físico e sexual. Em um documento, que levou nove anos para ser concluído, uma comissão da Suprema Corte denunciou gerações de padres, freiras e irmãos cristãos por espancamento e estupro de crianças na extinta rede de escolas.
Segundo a comissão, a igreja protegeu integrantes pedófilos, muitos deles passaram décadas agindo em diferentes instituições. Apesar das provas, nenhum dos agressores será julgado porque a irmandade cristã conseguiu na justiça manter as identidades em segredo.
“Em defesa da vida”…
Padres da Igreja Católica abusaram sexualmente de mais de 12 mil crianças na Irlanda
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Comissão para a Investigação de Abusos a Crianças, membros da Igreja montaram na Irlanda uma verdadeira rede com mais de 250 instituições onde milhares de crianças sofriam abusos e violência por padres e freiras
22 de maio de 2009 – Causa Operária
Um relatório feito pela Comissão para a Investigação de Abusos a Crianças expôs a verdadeira rede de abusos e violências sexuais cometidos por membros da hierarquia da Igreja Católica na Irlanda durante as décadas de 30 e 90.
De acordo com o documento, resultado de uma investigação de mais de 10 anos, ao menos 12 mil crianças, meninos e meninas consideradas “criminosas” ou vindas de famílias “não funcionais”, ou seja, mães solteiras etc., sofreram abusos sexuais sistemáticos pela rede, em pelo menos 250 instituições da Igreja entre escolas, reformatórios, orfanatos e abrigos que foram abertos no início da década de 1930 e perduraram até os anos 90. Ao todo mais de 30 mil crianças foram enviadas para as instituições, e além de serem estupradas por padres e freiras, sofriam tortura e humilhações.
O texto final, mais de 2.600 páginas, foi composto a partir dos depoimentos de milhares de pessoas, hoje com idades entre 50 e 70 anos, que estudaram ou trabalharam nas instituições e revelou as atrocidades cometidas pala Igreja contra os menores. O documento afirma ainda que nas escolas para garotos, que eram dirigidas pela ordem dos Irmãos Cristãos, os meninos eram molestados e abusados sexualmente, sendo aplicadas regras que facilitavam e aumentavam o risco do crime. Já nas escolas para as meninas, comandada pelas Irmãs da Misericórdia, os casos de violência sexual eram menores, mas em compensação as denúncias de maus tratos, violência física e humilhação foram mais constantes.
“As autoridades religiosas sabiam que os abusos sexuais eram um problema persistente nas organizações religiosas masculinas (…) Em algumas escolas, um ritual de espancamento das garotas era rotineiro. As garotas apanhavam com equipamentos desenhados para maximizar a dor e eram atingidas em todas as partes do corpo. Denegrir a pessoa e a família era um hábito amplamente difundido”, afirma o relatório (Jornal do Brasil, 21/5/2009).
O relatório deixa claro que havia um acordo entre os agressores e a cúpula da Igreja, mostrando que não se tratava de algo isolado, cometido por padres e freiras que agiam por conta própria como costuma afirmar a Igreja diante de todos os casos de abusos denunciados, muito pelo contrário, trata-se de uma verdadeira rede de pedofilia e violência, casos corriqueiros que eram do conhecimento de toda a instituição.
Igreja tenta censurar relatório e defender agressores e pedófilos
Apesar de se dizer “defensora da vida”, um argumento utilizado apenas na hora de reprimir as mulheres na campanha contra o direito ao aborto, a Igreja Católica nada disse diante das atrocidades cometidas por seus membros, muito pelo contrário, tentou impor a todo custo a censura ao documento em uma ampla campanha contra a publicação do texto, e juntamente com a Justiça burguesa tornou os abusos responsabilidade individual de pessoas falecidas há anos.
A mordaça imposta pela Igreja foi tamanha que ao invés de ser processada pelas barbaridades, a ordem dos Irmãos Cristãos, conseguiu processar a comissão em 2004 para que a mesma não divulgasse o nome dos envolvidos com os escândalos, conseguindo assim que a Igreja saísse impune das acuações.
O governo irlandês também saiu em defesa da instituição e para evitar escândalos ainda maiores propôs um acordo com as vítimas e criou um sistema de compensação no qual pagou a 12 mil vítimas de abuso uma média de 90 mil dólares, e impôs a condição de que as vítimas não poderiam processar o Estado, tampouco a Igreja. Ou seja, houve um acordo entre a Igreja, governo e a Justiça burguesa para inocentar a instituição que cumpre o papel de partido internacional da burguesia imperialista.
O relatório, além de demonstrar o caráter direitista, reacionário e verdadeiramente monstruoso que possui a Igreja Católica, revela também o cinismo da mesma que se apresenta como “defensora da vida” quando se trata de reprimir as mulheres que realizaram o aborto. Para a Igreja, as mulheres que não possuem condições de manter seus filhos e optam por abortar são criminosas, já os padres que abusam, torturam e violentam as crianças continuam impunes e com o aval para continuar cometendo as maiores crueldades contra pessoas indefesas.